Thursday, 13 February 2014

A ARTE SECRETA DE HILMA AF KLINT

                     




Art by Hilma af Klint - Group IV, n7/Adulthood


 

Os olhos que viviam no futuro...
Hilma af Klint, Estocolmo-Suécia (1862-1944)

Seu nome demorou para aparecer com destaque nas pesquisas sobre história da arte. Tão pouco nas buscas sobre arte abstrata ou nos registros sobre os pioneiros desse tipo de arte. Na verdade pode-se dizer que a História da Arte se reinscreve após o aparecimento de Hilma af Klint no cenário artístico. Foi ela quem produziu as primeiras obras abstratas registradas na história, em torno de 1906. Ate entao nada de similar tinha sido feito antes. Alguns bons anos antes de Kandinsky, Malevich, Mondrian ou Kupka. O trabalho radical dessa artista que dramaticamente inovou em formas, cores, expressão e significado só teve sua contraparte muitos anos depois através de artistas como Matisse.  




Art by Hilma af Klint





Teria af Klint lançado as sementes-origens da Arte do século 20?



Completamente desconhecida até pouco tempo atrás, sua obra foi descoberta por acaso, em 1985 - até então esteve armazenada em um porão do Centro Antroposófico de Estocolmo, na Suécia. 
No final dos anos 60 seus parentes fizeram uma tentativa de encaminhar alguns de seus trabalhos  até o Museu de Arte de Estocolmo (Moderna Musset). Na época o diretor do museu Pontus Hulten, um especialista em Malevich,  recusou-se a aceitar os trabalhos pelo fato da artista ser uma mulher - “uma mulher louca quem fez isso“. Assim, os trabalhos voltaram novamente ao  Centro Anstroposófico de Estocolmo onde estiveram guardados esperando o tempo certo para virem a público.  Na verdade, o desejo da própria Hilma af Klint foi que seus trabalhos só fossem exibidos vinte anos após sua morte. Ela acreditava que sua obra não seria compreendida pelas pessoas daquela epoca. Esse pedido não significava excentricidade de artista. A história de af Klint é muito singular assim como sua obra. Rica em significados, complexidade e enigmas. 


           


Art by Hilma af Klint





Frequentou a Escola de artes durante cinco anos (Royal Academy of Fine Arts – 1882/1887). Graduando-se com honras em 1887 e uma sólida formação acadêmica. Inicialmente se dedicou ao retrato e paisagens. Participou de algumas exposições, ate mesmo sendo reconhecida como pintora em sau cidade, Estocolmo.
Hilma viveu numa época pouco favorável as mulheres. Portanto não teve o direito de exercer a profissão de artista como seus pares do sexo masculino. Mesmo assim estabeleceu um atelier recluso onde trabalharia incansavelmente durante toda sua vida produzindo secretamente mais de 1000 obras, entre pinturas, desenhos, aquarelas.   
Durante  esse periodo algo começa a acontecer. Ela se debruça num estudo mais místico do mundo. Muito além do que nossos olhos podem alcançar, do que nossa razão possa perscrutar. Hilma se aprofunda no espiritualismo e na Teosofia. Ela acreditava firmemente que seu trabalho era conduzido e ditado por entidades espirituais. Sabe-se desse fato porque ela deixou registrado além de um diário secreto, centenas de cadernos onde descreve minuciosamente todos os processo de cada obra com as instruções que supostamente recebia das entidades - os manuscritos datam de 1890 até 1944. Seus registros dizem que em 1904 através do espírito de Ananda, Hilma foi chamada a executar um grande trabalho do plano astral. Formou um grupo com mais quatro artistas mulheres que todas as sextas feiras se reuniam para trabalhar e produzir juntas. Praticavam sessões guiadas por entidades espirituais através das quais acessavam outros níveis de consciência onde Hilma atuava como médium. 
Entre 1906 e 1915 produziu em torno de 193 trabalhos de grandes dimensões, coisa incomum para a época. Entre Agosto e Dezembro de 1907 criou uma majestosa serie intitulada The Ten Biggest (Os Dez Grandes). Dez obras monumentais de 3,28m x 2,40m que falam sobre a humanidade e os estágios da vida, sua beleza e significado. Tudo detalhadamente explicado nos inúmeros cadernos que mantinha. Só do ponto de vista físico já seria um grande feito para uma mulher de 1,57m de altura executar obras de tal tamanho e em tão pouco tempo. (Quem faz arte sabe do que estou falando). Hilma fez inclusive esboços de um possível local que no futuro abrigaria suas obras, Os Dez Grandes.










Os especialistas dizem que sua técnica e pinceladas são executadas de uma só vez, sem retoques ou hesitações. Uma proeza em se tratando da técnica tempera sobre papel. Um material que não permite a flexibilidade de outras técnicas por exemplo.
Hilma era uma atenta observadora do mundo, um espírito investigativo com sede de saber. Uma pessoa sensata e com grande aptidão para a matemática. Mesmo após o termino das obras guiadas pelos espíritos continuou criando e registrando seus pensamentos numa investigação incansável sobre o universo tentando entender a jornada, o caminho em que se encontrava. 
O que mais impressiona é a tenacidade, obstinação e firmeza na execução e realização de suas obras, a despeito do isolamento em que se encontrava e da segregação que sofria por ser mulher. Hilma não tinha relacionamento profissional com nenhum dos pintores da vanguarda da época, vivia em Estocolmo praticamente isolada em seu atelier sem ter conhecimento do que se passava ao redor do mundo nas artes. 





Art by Hilma af Klint - Free Will




O contexto histórico daquela época era um ambiente rico em descobertas científicas. Até o final do século XIX o mundo sofreu mudanças importantes como o descobrimento de algumas forças invisíveis: os raios-X, as ondas eletromagnéticas, os raios infravermelhos, os campos eletromagnéticos, o telégrafo. Essas forças invisíveis aconteciam num mundo paralelo e mais amplo do que nossos sentidos podiam captar. Estariam além do alcance do olho humano provocando a imaginação e a possibilidade de registrar as emoções, os pensamentos e sentimentos da alma humana.
A espiritualidade, a Teosofia, o Espiritismo e mais tarde a Antroposofia eram temas de forte influencia sobre os artistas naquela época. Eles acreditavam que era necessário transcender a materia para chegar a um conhecimento espiritual mais elevado. A busca de um Eu além do físico. Essas crenças estavam presentes em seus trabalhos, na busca por uma expressão que transcendesse o representacional. Uma jornada através da natureza interior.
Além dos músicos seria possível pintar a própria música?

Os olhos no futuro
Hilma af Klint ousou sair do lugar seguro e seguir suas próprias visões. Penetrar num território incomum naquela época. Explorar um espaco em que as mulheres não eram bem vindas - círculos artísticos estritamente masculinos.
Ela explorou o universo se movendo entre o micro e macro cosmo. Como as coisas estão interconectadas umas com as outras. As polaridades do mundo. Energias 'antagônicas' num continuum movimento se fundem e expandem. Feminino/masculino, luz/escuridão, quente/frio, etc. Além do visível mundo que habitamos existe um mundo em que tudo é uno. 


O futuro é agora
Em 1985 graças ao historiador de arte Ake Fant, Hilma af Klint é introduzida no cenário internacional. Em uma visita o Centro Antroposófico de Estocolmo o historiador entrou novamente em contato com o trabalho da artista. Convidou Sixten Ringbom, um especialista em Kandinsky,  para dar uma olhada nas obras armazenadas no local. O critico de arte ficou maravilhado com o que viu e imediatamente levou alguns trabalhos para uma exposição que estava organizando em Los Angeles  no County Museum of Art -  em 1986. 
 “The Spiritual in Art: Abstract Painting 1890-1985.” Depois disso o trabalho de Hilma percorreu o mundo em varias exposições.  
Os críticos se dividem na opinião sobre a posição que Hilma af Klint ocupa no cenário das artes. Enquanto alguns são cautelosos em definir sua arte e seu lugar na linha do tempo, outros a defendem com veemência justificando sua defesa através da eloqüência das obras em si mesmas. Obviamente que o mundo da arte, seus artistas, estilos e sua importância ao longo da historia são fortemente determinados pelas circunstâncias e contexto no qual estão inseridos.  A crítica de arte sempre ao longo da história teve - politicamente falando - a “função” de implementar, fomentar, propiciar suporte para as obras de arte produzidas pelos artistas. Portanto, estar “inserido” no universo desses acontecimentos seria de vital importância para o reconhecimento da obra como tal. Como Hilma viveu isolada, a margem desse universo alguns críticos resistem em qualificar suas obras.




  
                   


“The pictures were painted directly through me, without any preliminary drawings and with great force. I had no idea what the paintings were supposed to depict nevertheless, I worked swiftly and surely, without changing a single brushstroke”
                                                                                                Hilma af Klint




*A técnica usada e têmpera sobre papel que mais tarde foi colado sobre uma base rígida. 
*Ur Chaos seu primeiro trabalho abstrato é de 1906, dois anos antes de Kandinsky ter publicado sua primeira obra abstrata.
*Pinturas para o Templo compreende várias séries de trabalhos culminando com Peças para o Altar - (The Tem Biggest) dez imensas obras de 3,28m x 2,40m. Essas obras falam sobre a humanidade e os estágios da vida sua beleza e significado. Foram executadas em apenas 40 dias. 
*Hilma registrou durante 50 anos tudo sobre o ela estava fazendo.

















Tuesday, 28 January 2014

Samsara

O eterno fluxo...




Uma sucessão de imagens arrebatadoras. Uma experiência sensorial que aguça além da visão. Samsara é um filme para ser visto muito mais do que para ser comentado. 
As impressões que se sucedem vão além do cinema e ficam meio que coladas em você, indeléveis pairando na cabeça por longas horas.  Imagens que contemplam a beleza e a força orgânica da natureza, a presença humana e suas ações e aberrações no planeta. Os insondáveis caminhos da espiritualidade, perpassando pelas grandes religiões e cruzando as fronteiras entre elas através do exercício puro e simples da fé. O mundano e o sublime, a beleza e a vileza, a luz e a sombra,  as eternas dualidades que se mesclam entre si e atravessam nossa natureza humana, tão humana.


Quem somos? pra onde vamos? o que fazemos aqui? como estamos realizando nossa passagem?


Mas tudo misturado o que  fica claro é a interconexão entre tudo e todos, o todo e cada um de nòs.
Recomendo! 






Samsara
Diretor: Ron Fricke
Produtor: Mark Magidson
(Os mesmos dos filmes anteriores Baraka/1992 e Chronos/1985)
Duração:
Foi filmado em 25 países ao longo de 5 anos

Wednesday, 30 October 2013

O TRAFICO DE SERES HUMANOS NO MUNDO





Um crime que nos envergonha a todos.
It is a crime that shames us all



Um fenômeno mundial que acontece todos os dias a todo instante, mas infelizmente poucos tomam conhecimento ou sequer se dão conta da gravidade e extensão do problema: o tráfico de pessoas no mundo. Uma atividade subterrânea com ramificações globais, logística e aparatos bem planejados. Formada por quadrilhas conectadas internacionalmente, pessoas movidas pela ganância da riqueza, pela frieza e pelo desdém por seu semelhante. Raptores, mediadores, pessoas envolvidas com o poder. Redes de difícil detecção. Um crime que toca num ponto fundamental: o direito humano à vida e a dignidade.


“O que é o tráfico de pessoas?


O tráfico de pessoas é caracterizado pelo "recrutamento, transporte, transferência, abrigo ou recebimento de pessoas, por meio de ameaça ou uso da força ou outras formas de coerção, de rapto, de fraude, de engano, do abuso de poder ou de uma posição de vulnerabilidade ou de dar ou receber pagamentos ou benefícios para obter o consentimento para uma pessoa ter controle sobre outra pessoa, para o propósito de exploração". A definição encontra-se no Protocolo Relativo à Prevenção, Repressão e Punição do Tráfico de Pessoas, em Especial Mulheres e Crianças, complementar à Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional, conhecida também como Convenção de Palermo.” Fonte Unodc.org 




Embora o tráfico seja amplamente reconhecido pelas autoridades e governos como uma violação aos direitos humanos e muitas organizações internacionais se mobilizam para resolver o problema, ainda tem-se muito a fazer pelas vítimas, reais e em potencial. Os dados e informações concretas são poucos. Apenas uma parcela pequena das pessoas traficadas consegue ser identificada e poucos apresentam queixa às autoridades competentes. Muitas vezes por medo da exposição, vergonha e pudor. Dificuldades de investigar os criminosos, falta de denúncias e provas contundentes, limites na legislação, são os principais entraves que se apresentam à questão.

A grande maioria das pessoas traficadas são mulheres e crianças, embora homens e garotos também fazem parte do contingente de pessoas traficadas. De acordo com estimativas 2,5 milhões de pessoas estão em trabalho forçado (incluindo a exploração sexual) em determinado momento como resultado de tráfico (fonte do site UN.Gift).
Na Europa, estima-se que o tráfico de pessoas movimente 2,5 bilhões de euros todos os anos.
A América Latina é uma das principais origens de crianças e mulheres traficadas. As vítimas se caracterizam pela vulnerabilidade, condições econômicas, sociais e domésticas na maioria das vezes precárias. As mulheres em geral são traficadas para exploração sexual e trabalhos forçados. Algumas vezes com seu próprio consentimento, com a falsa promessa de dinheiro fácil e farto. Ao chegarem ao destino a realidade é diferente. Mantidas em situação de débito para com seu algoz são obrigadas a trabalhar como escravas em condições subumanas. Sofrendo violência física e emocional.
Crianças são traficadas por vários motivos: trabalhos forçados na economia informal ou trabalhos domésticos (a pouco ou nenhum pagamento), exploração sexual através da prostituição, adoção ilícita em outros países, retirada e venda de órgãos, atos ilegais como pedir esmolas, roubar pessoas, servir de “mulas” para transportar drogas, crianças-soldados, lutas armadas em países em guerras, etc. Quando o destino das crianças é o trabalho forçado na economia informal fica ainda mais difícil de rastrear seu paradeiro.

Aos pedaços
O outro lado da história que envolve o tráfico de pessoas é o hediondo contrabando de órgãos. Na verdade ao longo dos anos, a demanda de pacientes com falência de órgãos tem excedido a oferta de órgãos para doação. Por causa do avanço da tecnologia nas cirurgias de transplantes e novos medicamentos no pós-cirúrgico a demanda por órgãos aumentou consideravelmente. Em contrapartida a qualidade de vida também aumentou, por conseqüência elevou a expectativa de vida. Essa disparidade cria um fértil e sinistro campo de atuação para o crime organizado.
O mercado clandestino de obtenção e venda de órgãos é uma indústria organizada que explora a vulnerabilidade do potencial doador através da coerção. Na grande maioria são pessoas pobres e em sérias dificuldades financeiras, no limite de suas forças. Fragilizados pelo contexto em que vivem, são presas fáceis de mediadores/compradores de órgãos que prometem quantias consideráveis que muitas vezes não são cumpridas no final. Outras o acerto é feito com quantias mínimas que o doador gasta em alguns meses após o transplante e que definitivamente não resolve sua condição miserável. O processo retira do doador não somente seu órgão, mas a esperança e a dignidade de não ter escolhas. E principalmente sua saúde. Feito na clandestinidade o doador não tem nenhum tipo de suporte no pós operatório.
Os rins são os principais órgãos negociados, mas há também a venda de corações, pulmões, fígados, córneas. Os preços chegam a milhares de dólares dependendo o tipo do órgão. Um rim, por exemplo, pode custar até 200 mil dólares. Mas esse dinheiro todo não acaba nas mãos do doador, mas sim uma pequena parcela dele.
O aspecto em discussão aqui é a reflexão ética que envolve o crime. O objetivo último do tráfico reside na questão comercial e financeira do processo. O que importa de fato é a quantia de dinheiro envolvida na transação, quem ganha e quanto ganha, ao invés da saúde e do bem estar do doador e do receptor. O órgão se torna meramente uma mercadoria nas mãos inescrupulosas dos criminosos. E não algo que realmente pode salvar vidas.

Turismo do Transplante
Filipinas, Egito, Paquistão, China, Brasil, Àfrica, Índia e Turquia são alguns dos países fornecedores de doadores, espontâneos ou não. Onde o tráfico acontece com freqüência e persistência. Várias modalidades se apresentam para a efetivação do “negócio”: receptores viajam até o país de origem do doador para receber o órgão em clínicas clandestinas; o doador vai até o receptor, ou até mesmo ambos vão a um terceiro país para realizar a cirurgia.
Mesmo os médicos que não tem nenhum envolvimento ou parte no comércio de órgãos acabam tendo uma responsabilidade na assistência médica aos beneficiários quando estes regressam ao seu país após terem sido submetidos a transplante de um órgão. Muitas vezes a cirurgia foi feita em condições não ideais o que mais tarde traz conseqüências indesejáveis aos receptores.
Essa logística dificulta o rastreamento das quadrilhas que agem na obscuridade de fachadas clandestinas. Até mesmo em países europeus afetados duramente pela crise há notícias de ofertas de venda órgãos (embora ilícito). As pessoas em condições de pobreza e dificuldades perdem a noção do que é ético ou não. Em ambos os lados. Aqueles que necessitam do órgão para viver e aqueles que necessitam do dinheiro para sobreviver.

A conscientização sobre o tráfico de pessoas está crescendo no mundo todo, e atualmente com um número cada vez maior de pessoas conectadas as informações tendem a se espalhar rapidamente.
A sociedade civil tem um papel importante nesse processo. Através do compartilhamento das informações às pessoas da sua rede - principalmente aquelas que possam ser vítimas em potencial das ações criminosas. Se você conhece alguém que possa estar nesse grupo, compartilhe os modos de prevenção. Informe de modo claro e objetivo sobre a existência do crime organizado para o trafico de pessoas. Quanto mais se falar sobre a questão, disseminando as idéias e informações, os modos de prevenção nas cidades e comunidades mais alcance terá a conscientização do problema. Palestras nas escolas para ensinar às crianças as formas de abordagem, comunidades de apoio e suporte às vitimas em potencial e suas famílias, material informativo, envolvimento das mídias através de campanhas, anúncios informativos. Tantas outras formas de envolvimento e participação.


*Um artigo recente sugere que um quinto do aproximadamente 70.000 rins transplantados no mundo a cada ano vem do mercado negro.

*segundo Debra Budiani-Saberi, uma antropóloga médica que estuda o tráfico de órgãos desde 1999. Indivíduos em situação de vulnerabilidade, como refugiados, podem ser forçados a ficarem em dívida e então receberem uma oferta “oportuna” para “doar” um órgão e pagar a dívida.

* Na China, um ponto crítico mundial do transplante de órgãos e do turismo de transplante, os órgãos são obtidos a partir de seu vasto sistema de prisões e campos de trabalhos forçados. Doadores incluem criminosos condenados, bem como dissidentes políticos, tibetanos e praticantes da disciplina espiritual do Falun Gong, segundo Arthur Caplan, professor e chefe da Divisão de Bioética do Centro Médico Langone da Universidade de Nova York. Médicos militares chineses têm acesso a enormes bancos de órgãos vitais alojados no vasto sistema prisional e de campos de trabalho do país.




CRIANÇA DESAPARECIDA
Você viu? Você sabe?
DISK 100
Em qualquer localidade do Brasil




Links de pesquisa:

*Campanha Internacional Coração Azul

*Crianças desaparecidas


*Desaparecidos do Brasil

*United Nations Global Initiative to Fight Human Trafficking (UN.GIFT) 

*Dados e pesquisas – UN.Gift

*Organ Trafficking and Transplant Tourism:
(em inglês)

*Human Trafficking

Wednesday, 22 May 2013

Rembrandt e The Night Watch








The Night Watch é um emblema na arte holandesa. Uma das obras mais procuradas pelo público e com certeza uma das mais importantes e complexas da história da arte. Mas, sobretudo uma das marcas mais ousadas do mestre Rembrandt, um dos mais controvertidos mitos na história da arte.

É um grande retrato de grupo pintado no século 17 (1640/42). A Companhia da Guarda Civil do Capitão Frans Banning Cocq que se prepara, segundo as ordens do capitão para um desfile. Mas se tratando do mestre Rembrandt vai muito além de um simples retrato. Transformou o tradicional retrato holandês de grupo, estático e pomposo, em uma cena cheia de movimento, luzes, brilhos e cores. Inovou não só na técnica, ousada para a época, mas acrescentou significados que transcendem o puro virtuosismo. Ao longo do tempo a obra foi estudada e analisada inúmeras vezes, trazendo contribuições e diferentes pontos de vista para sua interpretação. 

Na verdade a obra tem uma história tão turbulenta quanto o aglomerado de gente que se acotovela diante dela no Salão de Honra (Hall of Honour) no Rijksmuseum em Amsterdam, onde está exposta.
A começar pelo nome como é popularmente conhecida, que na verdade é um equívoco. Nada tem de “night” ou “watch” na cena. Recebeu o apelido por volta do final do século 18.
Em português Night Watch seria Ronda Noturna. Uma prática destinada a proteger a cidade, em tempos de lutas pelo domínio (mas isso era lá pelos séculos 15/16). Acontece que no tempo em que foi pintada, século 17, já não servia mais como outrora. Suas reuniões tinham mais um fim social do que outro qualquer. Quando ganhou o apelido de Night Watch pelos críticos e público a obra tinha sofrido muitas alterações por parte de negociantes de artes e até colecionadores. Com o intuito de protegê-la da sujeira foram adicionadas camadas e mais camadas de verniz tonal sobre a superfície. A pintura foi adquirindo um tom escuro o que levou a pensar que a cena se passava de noite. Somente em 1947 a obra foi devidamente restaurada trazendo a tona sua cor e brilho originais, como de fato era há 300 anos antes quando deixou o atelier de Rembrandt. Revelou-se então que a cena na verdade se passava durante o dia. E passaram então a chamá-la de Day Watch, o que certamente não vingou.

Outras palavras...

A obra é de grande impacto visual. Assim que seu olhar a encontra você percebe e sente que algo maior está acontecendo ali. De grandes proporções (379.5cm × 453.5cm), esteticamente dramática por conta do chiaroscuro (uso gradual de luz e sombras) que Rembrandt sabia manipular tão bem - e ao seu modo. A cena é repleta de energia, vida e movimento. O som do tambor que anuncia a iminência do desfile, as armas e mosquetes tilintando, os dois personagens principais discutindo as ordens a serem dadas, as vozes de excitação dos homens, o cão latindo, as crianças gritando. A sensação de movimento é ampliada por conta das linhas diagonais e contrárias em ambos os lados. Cheia do esplendor exuberante do barroco. Rodeada de uma aura de mistérios, controvérsias e simbologia.
Historiadores, biógrafos e estudiosos de Rembrandt especularam incansavelmente sobre suas obras e sua vida. Ronda Noturna foi uma das obras mais controvertidas segundo esses críticos. Alguns deram um tom mais romântico aos acontecimentos que a cercaram. Outros, um estudo mais pragmático focando tão somente as características técnicas e formais da pintura.
Sem dúvida a obra quebrou paradigmas na época, afinal o retrato de grupo clássico holandês era formal e dignificava a aparência, o status e condição social de seus integrantes. Rembrandt quebrou tudo isso, ousando na unidade da composição, ao invés de detalhar cada personagem. A encomenda foi paga rateando o custo entre os membros da Guarda Civil, como era o costume. Segundo a ordem de importância dos retratados: quem importava mais, pagava mais, aparecia mais.
Algumas teorias dizem que a obra foi mal recebida pelos integrantes da Guarda Civil devido ao choque do inesperado e renegada a um lugar obscuro. Outros dizem que após Ronda Noturna a vida profissional do artista decaiu drasticamente e que ele não teria recebido mais nenhuma encomenda. Retirando-se do convívio público e se libertando de vez dos dogmas da arte. Fazendo somente o que lhe convinha.
De fato após a entrega da obra em 1942 a carreira do mestre sofreu algumas mudanças. A falta de registros e dados concretos a respeito desse período contribuiu para a criação do mito e do enigma que se criou. As explicações são as mais diversas: Rembrandt perdeu sua esposa Saskia bruscamente, logo após a conclusão da obra (após três perdas anteriores de seus filhos). A chegada do Classicismo, importado da França, também pode ter contribuído para excluir as ousadias e intransigências da pintura do mestre do gosto popular. A elite de então pode ter preferido o gosto mais aveludado e delicado da arte de Van Eyck ao invés da profundidade de Rembrand. Os tempos mudavam. 

No livro Rembrandt's Nightwatch: the Mystery Revealed, do pintor e arte historiador Georges Boka as idéias vão mais longe e muito além das aparências. Segundo o autor, Rembrandt fez duas composições que se sobrepõe. Na primeira composição, a evidente encomenda, segundo as diretrizes do retrato do grupo. A outra, nas entrelinhas da totalidade, escondida entre a multidão e o barulho, Rembrandt quis fazer uma homenagem a sua família trazendo à cena sua amada Saskia e seus três filhos (os quais já tinham morrido). Imortalizando-os através de sua obra. A teoria de Boka se baseia em estudos puramente empíricos. Ele traça algumas linhas sobre a pintura e através de suas intersecções constrói um raciocínio que nos leva a encontrar os personagens escondidos na obra. Na linha principal a qual ele chama de Linha da Vida passam todos os entes queridos do mestre, inclusive ele mesmo num auto retrato. A menina iluminada em dourado seria a própria Saskia de acordo com similaridades encontradas em outras obras em que ela foi retratada pelo artista. As crianças estariam logo atrás da figura dela, mais sugeridas do que claramente visíveis. O próprio Rembrandt apareceria duas vezes na obra. Outras hipóteses acrescentam inclusive símbolos da cabala na interpretação da obra.
Mas isso tudo são apenas especulações sem nenhum fundamento concreto, idéias baseadas apenas em suposições.
Outros estudiosos mais acadêmicos como o historiador de arte americano Seymor Slive, especialista na arte barroca holandesa, põe abaixo todas as teorias românticas e especulativas sobre o assunto. Ele acredita no gênio criativo de Rembrandt.  Sua análise é fundamentada em fatos históricos concretos e no aspecto pictórico da obra. Apesar de ter sido de fato ousada para a época, não há absolutamente nada que demonstre a insatisfação dos integrantes da Guarda Civil. O Capitão Banning Cocq teria inclusive uma aquarela de Ronda Noturna em seu álbum pessoal. Os lugares onde a obra permaneceu depois de entregue foram aqueles para os quais estava destinada, lugares de honra e orgulho. Rembrandt recebeu cerca de 1600 florins pela obra e algum tempo depois o Príncipe de Orange lhe pagou 2400 florins por duas obras menores. O que atesta a popularidade do artista e não sua exclusão do meio como muitos atribuem. O mito foi criado em torno da falta de documentação, de dados concretos a respeito da obra e vida do pintor. Um fato comum na Holanda daquele período.
O fato que permanece além do mito, do tempo e do folclore é a presença da obra de Rembrandt entre nós. Além do aspecto físico, além da técnica, das tintas e do virtuosismo. Ele nos deixou um legado através de sua obra. Estar diante de um Rembrandt, olhar através das qualidades evocativas das sombras e luzes é perceber o grande homem que existiu ali. A dignidade e humanidade de seus personagens nos falam coisas que somente os grandes mestres têm o poder de nos despertar.



*Os personagens principais da obra são o capitão Frans Banning Cocq (de vermelho), seu tenente (de amarelo) e a garotinha iluminada em dourado. Acredita-se era ela a mascote do grupo. 
*O nome original da obra é Nachtwacht Company of Captain Frans Banning Cocq and Lieutenant Willem van Ruytenhurch.
*O retrato figuram 18 membros da guarda civil, mais 16 personagens anônimos acrescentados por Rembrandt para dar mais movimento a cena.
*A Companhia é liderada pelo capitão Frans Banning Cocq - vestido de preto, com uma faixa vermelha; e pelo tenente Willem van Ruytenburch - vestido de amarelo;
 *Rembrandt acrescentou o emblema tradicional da Companhia simbolizado na garota. Ela é uma espécie de mascote: as garras de uma galinha morta em seu cinto representam os clauweniers/kloveniers (arcabuzeiros, soldados que usam uma arma chamada arcabuz), ela também carrega o chifre de bebidas dos kloveniers, a cor amarela representa a vitória. O homem na frente dela está usando um capacete com uma folha de carvalho, um tema tradicional dos Kloveniers. A galinha morta também é utilizada para representar um adversário derrotado.
*Por causa dos “estragos” feitos pelo verniz a obra esteve protegida de ataques diversas vezes por pessoas mentalmente perturbadas. Devido as camadas de verniz, a superfície tornou-se tão dura que impediu que a obra fosse destruída.
*Ronda Noturna foi encomendado e projetado para o Grande Salão do Kloveniersdoelen, em Amsterdam, onde permaneceu até 1715 quando foi transferido para a Câmara Municipal da cidade, na Praça Dam. Originalmente era um pouco maior. Como não se adaptava ao espaço na Câmara Municipal foi cortado em três lados para se encaixar no local. A tela original deve ter medido cerca de 400 por 500 centímetros.
*Uma cópia de Night Watch pintada por Gerrit Lundens (c. 1655) após a original ser entregue e demonstra como a obra era muito mais dinâmica e coesa antes das alterações. Esta obra pertence ao National Gallery em Londres.



Thursday, 9 May 2013

Rijksmuseum, integrado ao seu tempo




                                Photo by Pedro Pegenaute


O Rijksmuseum está aberto novamente, e pode-se dizer que no sentido metafórico também. Surpreendentes e ousadas novidades esperam pelo público.

O diretor do museu Wim Pijbes é um entusiasta de seu tempo e das tecnologias e inovações da nossa era. Aberto e dinâmico ele propõe mudanças que vão além da fachada. Oferece um novo museu, onde a arquitetura moderna incorporada à antiga se alarga e contagia com uma nova abordagem da arte clássica, dos Velhos Mestres, da Grande Arte. Ele oferece um novo museu integrado ao seu tempo sem o autoritarismo e a sacra seriedade de outrora. Sem altares nem idolatrias, sem o ranço do bom gosto acadêmico.
Além das mudanças físicas no prédio gótico-renascentista de autoria de Pierre Cuypers que foi inaugurado em 1885, têm muitas outras.

Para começar, a exibição das obras segue uma abordagem muito diferente da anterior e algumas regras foram quebradas. Tradicionalmente o museu seguia um modelo de curadoria por departamento, onde a coleção (cerca de 1.000.000 de peças no total) - que contém desde arte aplicada da idade medieval até a moderna e obras primas da Golden Age- era exposta por modalidade. Pinturas na seção de pinturas, esculturas na seção de esculturas e assim por diante. Agora a coleção é exibida por ordem cronológica. Objetos, pinturas, desenhos, gravuras estão numa mesma sala. Cada seção mostra obras de um determinado século. Numa sala com uma pintura de guerra como, por exemplo, A Batalha de Waterloo, de Jan Willem Pien (1824) o expectador também vai encontrar em exposição  armas, objetos decorativos, desenhos e gravuras do mesmo período. As peças dialogam entre si contando histórias do tempo a que pertencem. No caso das pinturas de uma artista, por exemplo, tem-se uma idéia mais clara sobre como era a época e o contexto de sua obra.A essência da idéia é trazer a arte clássica para mais perto do público, promover um verdadeiro encontro com as obras. 


O curador do museu Taco Dibbits diz que "atualmente o publico está acostumado a ver tv, fimes e fotografia, objetos bidimensionais - então eles passam para as pinturas...misturando os diferentes meios nós esperamos que as pessoas vão começar a ver novamente esses objetos". 
A idéia de misturar as duas formas, objetos dimensionais e tridimensionais a fim de que o espectador consiga de fato ver novamente e melhor apreciar as obras também está presente na nova proposta do museu em relação ao compartilhamento das imagens. Nessa questão eles vão além. Agora é permitido fotografar todas as obras. Isso mesmo, fotografar todas as obras! Pode parecer esquisito porque antes a qualquer movimento das mãos os seguranças já alertavam: no photos! 
Isso faz parte de um projeto maior que agora também disponibiliza ao público no website do museu imagens em alta resolução de 125.000 obras da coleção, sem custo algum.  Antenado com seu tempo o curador reconhece a força e o impacto dos meios de compartilhamento de imagens, mas não só isso. A inovação parte do pressuposto de que a inteira coleção de arte do Rijks já é de domínio público, portanto pertence a todos. Se as obras pertencem a todos nada mais justo do que compartilhar as imagens com o público. Assim também seria um modo de manter a qualidade na reprodução das imagens mundo afora. No website do Rijks tem um Rijksstudio onde a pessoa se registra e tem acesso a todo o conteúdo. Pode fazer o download das imagens e imprimi-las onde bem quiser. Tem várias idéias e sugestões também.
Outra questão que chama atenção é que não se vê nenhuma espécie de eletrônicos no museu.  Pressupõe-se que o espectador já tenha seus próprios gadgets. Aliás, as apps do Rijks permitem que o espectador faça sua própria curadoria, organize sua própria exposição por temas, de acordo com seus desejos e interesses.
A nova curadoria optou por um conceito mais enxuto na escolha das obras expostas, menos é mais. Mantendo inclusive uma harmonia com a estética holandesa, simples e limpa, sem rebuscamentos. Para tanto os curadores dos diferentes setores do museu tiveram que fazer opções e renúncias na escolha das obras. A essência é trazer ao público uma exibição sobre a beleza e o tempo.

Os objetos também revelam pouco sobre si mesmos, eles apenas revelam as informações básicas nas etiquetas. A curadoria acredita que o próprio publico, se interessado em obter mais informações sobre determinada obra pode baixá-la em seus smartphones/gadgets.

“eu acredito na autenticidade, na autoridade dos próprios objetos”

diz o curador do Rijks Taco Dibbits. Ou segundo Duncan Bull, curador de pinturas estrangeiras

“nós queremos que as pessoas eduquem a si mesmas através de sugestões, não queremos pregar a elas”.

Bem ao estilo muito holandês, diga-se de passagem: faça você mesmo.



                                                Photo by Pedro Pegenaute


                                         

                                          Photo by Iwan Baan


                                          Photo by Iwan Baan


                                         Photo by Pedro Pegenaute
                                         Passagem interna: ciclistas, pedestres, visitantes 


*A renovação e restauração do Rijks foi feita pela empresa espanhola  Cruz Y Ortiz Arquitetos  em trabalho com o arquiteto francês Jean-Michel Wilmotte e com o arquiteto restaurador Van Hoogevest
 
*A antiga passagem de bicicletas por dentro do museu permaneceu aberta. Aliás, venceu! Após longos e intermináveis anos de disputa. Os moradores entusiatas do uso da bicicleta lutaram e protestaram veementemente para ter o direito da passagem aberta. Quase uma instituição dos locais, e de Amsterdam também. No momento está ainda fechada até junho quando deve ser reaberta ao publico. Felizmente! Dentro da passagem as antigas paredes de tijolos foram substituidas por vidros, assim os ciclistas e pedestres tem uma visão para dentro do museu.

*As paredes foram coloridas com cinco tons sóbrios de cinza de acordo com a paleta original de Cuypers.  As obras que exigem vidro usam o material de última geração, permitindo uma visão limpa e clara.

*8.000 objetos expostos em 80 galerias, apenas o aclamado Night Watch de Rembrandt foi mantido no local original na Sala de Honra como foi concebido pelo primeiro arquiteto do Rijksmuseu Pierre Cuypers.