Wednesday, 2 December 2020

WHY BEAUTY MATTERS (POR QUE A BELEZA IMPORTA)



WHY BEAUTY MATTERS (POR QUE A BELEZA IMPORTA) 

Por Roger Scruton

 


 

Born: February 27, 1944, Buslingthorpe, United Kingdom
Died: January 12, 2020, Brinkworth, United Kingdom

 

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 O filósofo Roger Scruton apresenta um provocativo ensaio sobre a importância da beleza nas artes e na nossa vida.

Scruton argumenta que no século 20 a arte, arquitetura e musica viraram as costas para a beleza, cultuando ao invés o feio e nos levando a um deserto espiritual.

Percorrendo os pensamentos de filósofos como Platao e Kant e conversando com artistas como Michael Craig-Martin e Alexander Stoddart, Scruton analisa em que momento a arte tomou esse caminho. Scuton nos apresenta suas próprias idéias em como restaurar a beleza e resgatar  sua tradicional posição no centro da nossa civilização.

 

A seguir a trascrição do video "Porque a beleza importa?" por Roger Scruton.


"Em algum ponto entre 1750 e 1930 se você perguntasse a qualquer pessoa bem educada sobre o objetivo, da arte da música ou da poesia, eles responderiam: a beleza. E se você perguntasse, 'qual o motivo disso'? Você teria como resposta que a beleza é um valor tão importante quanto a verdade e a bondade.

Então, no século XX a beleza deixou de ser importante. A arte gradativamente passou a ter como objetivo perturbar e quebrar tabus. Não era mais a beleza mas sim originalidade, obtida por quaisquer meios, a qualquer custo moral,  que passou a ganhar os prêmios.

Não só a arte passou a cultuar a feiura, a arquitetura também se tornou desumana e estéril. Não apenas nosso ambiente físico ficou feio. Nossa linguagem, nossa música e nossos costumes estão se tornando rudes.

Egoísta e ofensivo. Como se a beleza e o bom gosto não tivessem mais lugar na nossa vida.

Uma palavra está escrita em tamanho grande sobre todas essas coisas: essa palavra é MEU. Meus lucros, meus desejos, meus prazeres. E a arte nãos tem nada a dizer em resposta a isto, exceto: “Sim, vá em frente.

 Eu acredito que estamos perdendo a beleza e há um perigo que com isso vamos perder o sentido da vida.

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 Eu sou Roger Scruton, filósofo e escritor. Meu negócio é fazer perguntas. Durante os últimos anos eu tenho feito perguntas sobre a beleza.

A beleza tem sido central para nossa civilização ao longo de dois mil anos. Desde o seu começo na Grécia Antiga a filosofia tem refletido sobre o lugar da beleza, da arte, da poesia, da musica e da arquitetura. E da vida cotidiana. Filósofos argumentaram que na busca pela beleza nos moldamos o mundo como um lar.

Nos também passamos a entender nossa própria natureza, de seres espirituais. Mas nosso mundo voltou as costas a beleza e por causa disso nos encontramos cercados pela feiura e pela alienação.

Eu quero convencer você de que a beleza importa,  mas isso não apenas uma coisas subjetiva  mas uma necessidade universal para os seres humanos.

Se ignorarmos essa necessidade, nós nos encontramos num deserto espiritual. Eu quero mostrar a você o caminho para fora desse deserto. Este é um caminho que nos leva para casa.

Os grandes artistas do passado estavam cientes de que a vida humana era repleta de caos e sofrimento, mas eles tinham um remédio e o nome desse remédio era beleza.

A bela obra de arte traz consolo na tristeza e afirmação na alegria, Ela mostra que vida humana vale a pena.

Muitos artistas modernos tornaram-se cansados desse trabalho sagrado. As vicissitudes da vida moderna não podem ser resgatadas pela arte. Em vez disso elas devem exibidas.

O padrão foi criado há quase um século pelo artista francês Marcel Duchamp que assinou um urinol com um nome fictício: R. Mutt e o colocou numa exposição. Seu gesto foi um deboche, feito para zombar do mundo da arte e seus esnobismos. Mas tem sido interpretado de outra maneira -  uma demonstração de que qualquer coisa pode ser arte. Como uma lâmpada acendendo e apagando, uma lata de excremento, ou até mesmo uma pilha de tijolos. A arte já não tem mais um status sagrado. Não mais nos eleva a um plano moral ou espiritual mais elevado. É apenas mais um gesto humano entre outros, não mais significativo do que um riso, um escárnio ou um grito.

 

 “Eu acho que estão tirando sarro da gente, é apenas uma pilha de tijolos!”

 


 

A arte uma vez cultuava a beleza. Agora temos o culto da feiura em seu lugar.

Assim como o mundo é perturbador, a arte deve ser perturbadora também.

Aqueles que procuram pela beleza na arte estão apenas fora de contato com as realidades modernas. Às vezes a intenção é nos chocar. Mas o que é chocante pela primeira vez, é chato e vazio quanto repetido. Isto faz da arte uma piada elaborada mas que já deixou de ser engraçada. No entanto, os críticos continuam a endossá-la com medo de dizer que o rei está nu.

Arte criativa não se alcança apenas assim, simplesmente tendo uma ideia. Claro que ideias podem ser interessantes e divertidas mas isso não justifica a apropriação do rótulo de ‘Arte.’ Se uma obra de arte não é mais do que uma ideia, então qualquer um pode ser um artista e qualquer objeto pode ser uma obra de arte. Não há mais qualquer necessidade de destreza, gosto ou criatividade."

 

*O video apresenta a entrevista com Marcel Duchamp descrita abaixo.

Entrevistador: “ O que você também estava tentando fazer, segundo eu entendo, foi desvalorizar a arte como um objeto, simplesmente dizendo: ‘se eu disser que esta é uma obra de arte,  isso faz com que seja uma obra de arte’.

Duchamp: “sim, mas a palavra obra de arte nao é tao importante para mim, eu não me importo com a palavra arte, porque tem sido tao desacreditada, por assim dizer.”

Entrevistador: “Mas você de fato contribuiu para o descrédito nao é? Muito deliberadamente.”

Duchamp: “ Deliberadamente, sim. Eu quero me livrar dela (a arte). Porque de um modo muitas pessoas hoje se livraram da religião.

 As pessoas aceitaram Duchamp na sua própria validação. Mas eu acho que ele não se livrou da arte. Ele apenas se livrou da criatividade. No entanto as obras de Duchamp ainda estão influenciando o curso da arte hoje. O artista Michael Craig-Martin que ensinou vários dos jovens artistas britânicos, cujas obras dominam o mundo da arte, seguiu o exemplo de Duchamp com sua seminal obra ‘A arvore de carvalho’ (1973) que consiste em um copo de água sobre uma prateleira e um texto explicando porque é uma arvore de carvalho.

 

Conversa de Scruton com Michael Craig-Martin

Scruton: “Quando eu entrei pela primeira vez na Basilica de Sao Pedro e me defrontei com a Pietá de Michelangelo foi uma experiência transformadora. Minha vida mudou por causa disso. Voce acha que alguém pode ter a mesma experiência com o urinol de Duchamp ou talvez com sua Árvore de Carvalho? Afinal é algo similar.”

Craig-Martin: “Quando eu era um adolescente e pela primeira vez me deparei com Duchamp e com os ready-mades eu fiquei absolutamente aturdido. Encantado. Eu nao acho que as pessoas ficam dominadas por um senso de beleza quando elas veem o Urinol. Nao tem a intenção de ser bonito. Mas isso nao significa que nao tenha algo sobre ele que nao cativar a nossa imaginação. Eu acredito que “cativar a imaginação” é a chave para o que a arte procura fazer. Duchamp sentiu que a arte tinha se tornado muito interessada na técnica, em ótica. Ele  sentiu que a arte tinha se tornado intelectual e moralmente corrupta. A razão em fazer uma obra de arte que nao se adequasse ao sistema  nao foi cinismo. Foi para dizer “eu estou tentando fazer uma arte que negue tudo que as pessoas dizem que a arte deveria ter porque eu estou tentando dizer que a questão central da arte está em outro lugar”.

Scruton: “Eu entendo que as coisas tinham que mudar e Duchamp estava tentando mudá-las. Mas em que ele estava tendando mudá-las?“

Craig-Martin: “Bem, ele nunca teria imaginado nem mesmo em seus sonhos mais loucos, o que aconteceria. Ele mesmo não tinha idéia  do quão central era a coisa em que ele tinha tropeçado. Essencialmente que uma obra de arte é uma obra de arte porque pensamos nela como tal. Também acho que seja importante dizer que a noção de beleza se expandiu incluindo coisas que não teriam sido pensadas até então - isso é parte da função do artista, fazer os outros enxergarem a beleza em coisas que ninguém havia pensado que era belo até então.

Scruton: “Certo, como uma lata de merda?”(referindo-se á obra Merda de artista, 1961 - do artista italiano Piero Manzoni)

Craig-Martin: "Bem, eu não tenho certeza se isso é bonito - ele não está tentando ser bonito. Mas tome como exemplo Jeff Koons. Algumas de suas obras são belíssimas. (no vídeo Ballon Dog de 2003).

Scruton: "Bem, parece que kitsch para mim. Qual é a utilidade desta arte? O que ela ajuda as pessoas a fazer?

Craig-Martin: "Eu acho que, esperançosamente, ela permite ás pessoas verem o mundo em que estão vivendo de uma forma que lhes dê mais significado a ele. E não é o mundo de um  mundo ideal, de  algum outro mundo, um lugar melhor, mas aqui e agora. O mundo que eles estão e eles estão tentando viver mais à vontade no mundo em que eles estão vivendo."

 
Assim, a arte de hoje nos mostra o mundo como ele é - o aqui e agora e todas as suas imperfeições. Mas o resultado é realmente arte? Certamente, algo não é uma obra de arte simplesmente porque ele oferece uma fatia de realidade - feiúra incluído - e chama a si mesmo arte.
A arte precisa de criatividade e criatividade é compartilhar. É um chamado para que os outros vejam o mundo como o artista o vê. É por isso que nós encontramos beleza na arte ingênua das crianças. As crianças não estão nos dando idéias no lugar de imagens criativas. Nem estão chafurdando na feiúra. Eles estão tentando afirmar o mundo como o vêem e compartilhar o que eles sentem. Alguma coisa do puro deleite da criança na criação sobrevive em cada verdadeira obra de arte. Mas a criatividade não é suficiente e a habilidade do verdadeiro artista é mostrar o verdadeiro à luz do ideal e assim transfigurá-lo. Isto é o que Michelangelo alcança em seu grande retrato de David. Mas quando nos deparamos com um elenco de concreto de David como parte de algum arranjo de um jardim, isso não é definitivamente bonito, pois não tem o ingrediente essencial da criatividade. Discussões do tipo que eu tenho tido são perigosas. Em nossa cultura democrática as pessoas muitas vezes pensam que é uma ameaça julgar o gosto de outra pessoa. Alguns ficam mesmo ofendidos pela sugestão de que há uma diferença entre o bom e o mau gosto ou que importa o que você olha ou lê ou ouve. Mas isso não ajuda ninguém. Existem padrões de beleza que têm uma base firme na natureza humana e temos de olhar para eles e construí-los em nossas vidas.

Talvez as pessoas perderam a fé na beleza porque perderam sua crença nos ideais. Tudo o que há, eles são tentados a pensar, é o mundo de apetite. Não há outros valores que os valores utilitários. Algo tem um valor se ele tem um uso e o que é o uso de beleza?

"Toda arte é absolutamente inútil", escreveu Oscar Wilde, que entende sua observação como um elogio. Para Wilde a beleza era um valor maior do que utilidade. As pessoas precisam de coisas inúteis, tanto quanto ou ainda mais do que as coisas que elas precisam para o seu uso. Basta pensar nisso: Qual é o uso do amor, da amizade, da adoração? Absolutamente nenhum. E o mesmo vale para a beleza.

Nossa sociedade de consumo coloca a utilidade primeiro e a beleza nada mais do que um efeito colateral. Desde que a arte é inútil, não importa o que você lê, o que você olha, o que você ouve. Estamos sitiados por mensagens de todos os lados, excitados, tentados por desejos - nunca alcançados. E essa é uma das razões porque a beleza está desaparecendo do nosso mundo.  

 "Ganhar e gastar", escreveu Wordsworth, "nós desperdiçamos nossos poderes."

Em nossa cultura hoje o anúncio é mais importante do que a obra de arte e obras de arte, muitas vezes tentam captar a nossa atenção do modo como os anúncios o fazem. Sendo ousado ou ultrajante, como este crânio de platina cravejada de jóias de Damien Hirst (mostra 'For the Love of God' - 2017 do artista britânico Damien Hirst). Como anúncios, as obras de arte de hoje têm como objetivo criar uma marca, mesmo se eles não tem nenhum produto para vender, exceto eles mesmos.

 


For the Love of God , 2017 do artista britânico Damien Hirst

 

A beleza é assaltada em duas direções. Pelo culto à feiúra nas artes e pelo culto da utilidade na vida diária. Estes dois cultos se juntam no mundo da arquitetura moderna. Na virada do século XX os arquitetos assim como os artistas, começaram a ficar impacientes com a beleza e colocaram a utilidade em seu lugar. O arquiteto americano Louis Sullivan manifestou o credo dos modernistas, quando disse que a forma segue a função. Em outras palavras, parem de pensar sobre a forma como um edifício parece e pensem em vez disso sobre o que ele faz (qual a sua função). A doutrina de Sullivan tem sido usada para justificar o maior crime contra a beleza que o mundo já viu e este é o crime da arquitetura moderna.

Eu cresci perto de Reading que foi uma encantadora cidade Vitoriana com ruas...e igrejas Góticas coroada por elegantes edifícios públicos e hotéis charmosos. Mas na década de 1960 as coisas começaram a mudar. Aqui no centro as ruas singelas foram demolidos para dar lugar a blocos de escritórios, um terminal de onibus e estacionamentos de carros - todos desenhados sem consideração com a beleza. E o resultado comprova, tão claramente quanto pode ser, que se você considerar somente a utilidade, as coisas que você construir em breve serão inúteis.

(Scruton gesticulando) Este edifício está com tapumes porque ninguém tem um uso para ele. Ninguém tem um uso para ele, porque ninguém quer estar nele. Ninguém quer estar nele porque é detestavelmente feio.

Onde quer que você olhe há feiúra e mutilação. Os escritórios e estação de ônibus foram abandonados. As únicas coisas em casa aqui são os pombos sujando as calçadas. Tudo foi vandalizado. Mas não devemos culpar os vândalos. Este local foi construído por vândalos e aqueles que acrescentaram o graffiti apenas terminaram o trabalho.

A maioria das nossas vilas e cidades têm áreas como esta em que os edifícios erguidos, apenas pela sua utilidade se tornaram rapidamente inúteis. Não é que os arquitetos aprenderam com o desastre. Quando o público começou a reagir contra o brutal estilo de concreto nos anos 60, os arquitetos simplesmente substituíram-no com um novo tipo de lixo. Paredes de vidro pendurados em estruturas de aço com detalhes absurdos que não combinam. O resultado é um outro tipo de fracasso para se ajustar e esta lá simplesmente para ser demolido.

 No meio de toda esta desolação encontramos um fragmento das ruas que foram destruídas - uma vez uma forja, agora um café. As pessoas vêm aqui de todos os lados porque é o último pedaço de vida restante, e a vida vem do edifício.

Isso me leva de volta a observação de Oscar Wilde que toda arte é absolutamente inútil. Coloque a utilidade em primeiro lugar e você a perde. Coloque a beleza em primeiro lugar e o que você faz vai ser útil para sempre. Acontece que nada é mais útil do que o inútil. Vemos isso na arquitetura tradicional, com seus detalhes decorativos. Os ornamentos nos libertam da tirania do útil e satisfazem a nossa necessidade de harmonia. De uma forma estranha eles nos fazem sentir em casa. Eles nos lembram que temos mais do que necessidades práticas. Não estamos apenas governados por apetites animais, como comer e dormir. Temos necessidades espirituais e morais e também se essas necessidades permanecem insatisfeitas, nós também ficamos.

Nós todos sabemos como é, mesmo no mundo cotidiano, de repente sermos transportados pelas coisas que vemos, do mundo ordinário dos nossos apetites para a esfera iluminada da contemplação. Um flash de luz solar, uma melodia lembrada, o rosto de alguém amado – coisas que nos vem á mente nos momentos mais distraídos e de repente a vida vale a pena. Estes são momentos atemporais em que sentimos a presença de outro mundo superior.

Desde o início da civilização ocidental poetas e filósofos têm visto a experiência da beleza como que chamando-nos para o divino. Platão, em seus escritos na Atenas no século IV aC, argumentou que a beleza é um sinal de uma outra ordem superior. "Vendo a beleza com o olho da mente", escreveu ele, "você será capaz de nutrir a verdadeira virtude e tornar-se um amigo de Deus."

Platão era um idealista. Ele acreditava que os seres humanos são peregrinos e passageiros neste mundo, ao mesmo tempo sempre aspirando além dele para o reino eterno, onde vamos estar unidos a Deus. Deus existe em um mundo transcendental para o qual nós, seres humanos aspiramos, mas que não podemos conhecer diretamente. Mas uma maneira de vislumbrar essa esfera celeste, enquanto aqui embaixo é através da experiência da beleza. Isto leva a um paradoxo. Para Platão beleza era antes de tudo a beleza do rosto humano e a forma humana. O amor pela beleza, pensou ele, originado em eros, uma paixão que todos nós sentimos. Chamaríamos esse amor  de paixão romântica. Para Platão eros era uma força cósmica que flui através de nós na forma de desejo sexual.

Mas se a beleza humana desperta o desejo como isso pode ter alguma coisa a ver com o divino? O desejo é para o indivíduo, vivendo neste mundo. É uma paixão urgente. O desejo sexual apresenta-nos uma escolha: adoração ou apetite? Amor ou luxúria? Luxúria é sobre tomar, mas o amor é sobre doar.

Luxúria traz feiúra - a feiúra das relações humanas em que uma pessoa trata o outro como um utensilio descartável. Para chegar à fonte da beleza devemos superar a luxúria.

Esse anseio sem a luxúria é o que queremos dizer hoje por amor platônico. Quando encontramos a beleza em uma pessoa jovem é porque vislumbramos que a luz da eternidade brilha nessas características através de uma fonte celestial além deste mundo. A bela forma humana é um convite para se unir a ela espiritualmente e não fisicamente. Nosso sentimento de beleza, portanto, é religioso e não uma emoção sensual.

Esta teoria de Platão é surpreendente. Beleza, pensou ele, é um visitante de outro mundo. Não podemos fazer nada com ele salvo contemplar seu brilho puro. Qualquer outra coisa o polui e o profana, destruindo a sua aura sagrada. A teoria de Platão pode parecer esquisita para as pessoas de hoje, mas é uma das teorias mais influentes da história. Ao longo da nossa civilização poetas, contadores de histórias, pintores, sacerdotes e filósofos têm sido inspirado por visões de Platão sobre sexo e amor.

 (Scruton olha para os livros em sua biblioteca) Se olharmos apenas na parte de  poesia, pessoas que tentaram expressar a visão platônica do erótico, temos de Thomas Mallory- Morte d'Arthur; John Donne - Aqui e Acolá; Gawain eo Cavaleiro Verde; Chaucer, especialmente Conto do Cavaleiro; os poemas de Pérola, manuscritos ; Cavalcanti, o mestre de Dante; e definitivamente o próprio Dante; Spencer, é claro - do país das fadas da rainha; Daffydap Gwvyilyn - e a versão em Galês de tudo; Trovadores por Christina Rosetti - e assim vai.

O pintor renascentista Sandro Botticelli ilustrou essa teoria nesta pintura famosa que mostra o nascimento de Vênus, deusa do amor erótico (O Nascimento de Vênus, 1482-1486). Venus olha para o mundo a partir de um lugar para além do desejo. Ela está nos convidando a transcender nossos apetites terrenos e unir-se com ela através do puro amor pela beleza. O modelo de Botticelli era Simonetta Vespucci. Botticelli amou-a até o final de sua curta vida e pediu para ser enterrado a seus pés. Ela representava para ele o ideal de Platão. Esta foi a beleza para ser contemplado, mas não possuída.

 


Sandro Boticelli. O Nascimento de Vênus, 1482-1486

 

Platão e Botticelli estão nos dizendo que a beleza real está além do desejo sexual. Assim, podemos encontrar a beleza não só em um jovem desejável, mas também em um rosto pleno, de idade, pesar e sabedoria, como Rembrandt pintou (Retrato de Nicolaes Ruts, 1631). A beleza de um rosto é um símbolo da vida expressa nele. É carne que se torna espírito. E na fixação dos nossos olhos nele parece que estamos a ver através de dentro da alma (Retrato de Aechje Claesdr, 1634). Pintores como Rembrandt são importantes por nos mostrar que a beleza é um tipo de coisa comum, de todos os dias. Encontra-se em torno de nós. Precisamos apenas de olhos para vê-la e os corações para senti-la (Retrato da mãe de Rembrandt). O evento mais comum pode ser transformado em algo belo por um pintor, que pode ver o coração das coisas.
  


Rembrandt. Retrato de Nicolaes Ruts, 1631

 

Enquanto a crença em um Deus transcendental esteve firmemente ancorada no coração de nossa civilização, artistas e filósofos continuaram a pensar na beleza ao modo de Platão. A beleza era a revelação de Deus no aqui e agora. Esta abordagem religiosa para a beleza durou 2000 anos. Mas no século 17, a revolução científica começou a semear as sementes da dúvida. A igreja medieval aceitou a antiga visão de que a Terra está no centro do universo. Em seguida, Copérnico e Galileu provaram que a Terra orbita em torno do Sol e Newton completou seu trabalho, descrevendo um universo mecânico, no qual cada momento segue mecanicamente o anterior. Esta foi a visão iluminista. Ele descreveram o nosso mundo como se não houvesse lugar nele para deuses e espíritos; não há lugar para valores e ideais; não há lugar para qualquer coisa salvo o movimento mecânico e regular, que estabeleceu a lua em torno da terra e a terra em torno do sol sem nenhum propósito.

No coração do universo de Newton há um buraco em forma de Deus, um vácuo espiritual. Um filósofo em especial, se colocou para preencher esse vácuo. Ele é o Terceiro Conde de Shaftesbury. A ciência explica as coisas, mas pensei em Shaftesbury, a sua explicação do mundo é de alguma forma incompleta. Podemos ver o mundo de outra perspectiva - não buscando usá-lo ou explicá-lo, mas simplesmente contemplando o seu aspecto como poderíamos contemplar uma paisagem ou uma flor. A idéia de que o mundo é intrinsecamente significativo, cheio de um encantamento que não necessita de nenhuma doutrina religiosa para compreender nem de respostas a uma necessidade emocional profunda. A beleza não foi plantada no mundo por Deus, mas descoberta nele pelas pessoas.


A idéia de Shaftesbury incentivava o cultivo a beleza, o que elevou a valorização da arte e da natureza no lugar antes ocupado pela adoração a Deus. A beleza preencheria o buraco em forma de Deus feito pela ciência (Raphael, The Small Couper Madonna, 1505). Os artistas já não eram ilustradores de histórias sagradas que trabalhavam como servos para a igreja. Eles estavam descobrindo as histórias por si mesmos, interpretando os segredos da natureza. Paisagens que costumavam ser meros fundos para imagens sagradas tornaram-se o primeiro plano com a figura humana muitas vezes perdida em suas dobras (Claude Lorrain, Pastoral Landscape, 1645; Paisagem com Apollo e Mercury, 1660). Mas para Shaftesbury não seria necessário uma obra de arte para apresentar-nos a beleza do mundo. Nós simplesmente precisaríamos olhar para as coisas com olhos limpos e emoções livres.
 

 

Claude Lorrain, Pastoral Landscape, 1645
 
 

Shaftesbury está nos dizendo para parar de usar as coisas, parar de explicá-las e explorá-las, mas olhá-las ao invés disso. Então, vamos entender o que elas significam. 

A mensagem da flor é a flor.

 
 

Raphael, The Small Couper Madonna, 1505
 
 

Os Zen-budistas disseram coisas semelhantes. Apenas deixando todas as nossas atividades e interesses de lado, nós realmente encontraremos a verdade real da flor. Vendo as coisas dessa maneira descobrimos a sua beleza.

O maior filósofo do Iluminismo, Immanuel Kant, foi profundamente influenciado pela idéia de Shaftesbury. Kant argumentou que a experiência da beleza vem quando nós colocamos nossos interesses de lado; quando olhamos em coisas não para usá-las para os nossos próprios fins ou para explicar como elas funcionam ou para satisfazer alguma necessidade ou apetite, mas simplesmente para absorvê-los e para endossar o que são.

Considere a alegria que você pode sentir quando você mantem o bebê de um amigo em seus braços. Você não quer fazer nada com o bebê. Você não quer comê-lo, colocá-lo para qualquer uso ou realizar experimentos científicos sobre ele. Você quer simplesmente olhar para ele e sentir a grande onda de prazer que vem quando você concentra todos os seus pensamentos sobre este bebê e nao em si mesmo. Isso é o que Kant descreve como uma atitude desinteressada e é a atitude que subjaz a nossa experiência da beleza.
 
 
 
 
 
 
 
 

 

Friday, 10 May 2019

DAVID HOCKNEY AND VAN GOGH: THE JOY OF NATURE







Tem algumas exposições que você sai de lá revigorada, com o coração pulsando vida, entusiasmo e alegria. Parece que todas as tuas emoções passaram pela máquina de lavar. Renovadas e purificadas, uma sensação de que tudo está no lugar certo. Mais do que isso, a experiência permanece com você durante horas e dias provocando um espécie de sopro de vida e criatividade. Da pra sentir a mão, o suor, o coração do artista vibrando em cada pincelada, em cada cor, movimento. Seu entusiasmo e impressões a cada escolha diante da tela.

A exposição do artista britânico David Hockney está acontecendo no Van Gogh Museum, em Amsterdam -  de 1 de Março a 26 de Maio 2019. Com uma seleção de cerca de 60 obras de Hockney, entre pinturas colossais, desenhos, esboços,  estudos e uma vídeo instalação. Oito pinturas e três desenhos de Van Gogh. A maior parte das obras de Hockney são paisagens criadas de 2004 a 2011 no Woldgate Woods, em East Yorkshire no norte da Inglaterra, lugar de seu nascimento.
Hockney sempre foi um admirador de Van Gogh. O  primeiro contato com sua obra foi em 1954 em Manchester, quando tinha 16 anos e acabara de começar na Escola de Artes em Bradford. Ele conta que  ficou impressionado com as pinturas de Van Gogh: "Era a cor que me fascinava, eu nunca tinha visto pinturas assim antes. Na escola de artes todos pintavam com cores acinzentadas."  
Hockney sempre assumiu a influencia de Van Gogh no seu trabalho: "Eu sou profundamente influenciado por Van Gogh, isso fica claro nessa exposicao." Mais tarde essa influencia o fez se debruçar sobra as obras de Vincent e assim buscar inspiração para seu próprio trabalho.

"Van Gogh para mim é um artista contemporâneo.  Qualquer artista que fala com voce, é um artista contemporâneo."


Muitas coisas os conectam: cores, pinceladas marcadas, o estudo da natureza, a observação perspicaz do mundo. Mas sobretudo a capacidade de enxergar a natureza nos seus mínimos detalhes, a observação de um aprendiz do mundo. Vincent desde criança viveu em contato com a natureza. Colecionava insetos, plantas, desenhos. O mundo era um vasto oceano de informacoes e ele sempre estava alerta para tudo ao seu redor.




“Quando a natureza está no auge, parece que champanhe foi derramado sobre os arbustos e está tudo borbulhando e parece maravilhoso.” David Hokney



O artista, que viveu boa parte de sua vida em Los Angeles (EUA) sempre esteve habituado com o frequente clima solar da Califórnia. Em 2002 visitando Londres na primavera, ele ficou fascinado com a mudança das estações. Decidiu retornar a Inglaterra com um projeto em mente. Entre outras coisas, porque sua mãe estava no final de sua vida e também pela doença terminal de um grande amigo. Durante esse período, que durou 9 anos,  Hockney começou uma nova etapa em seu trabalho. Percorrendo as florestas e paisagens típicas da região encontrou na natureza um motivo grandioso e abundante para criar, uma fonte inesgotável de inspiração. Ele diz: “fazer pinturas ao ar livre na natureza era como que ir ao encontro de uma nova linguagem”. 

Nesse período se reconecta com o trabalho de Van Gogh pois os dois artistas comungam o mesmo deslumbramento pela natureza, o estudo minucioso das plantas, suas texturas e cores, ritmos e movimento. O passar das estações do ano e as mudança do clima. Ele trabalha en plein air e no seu estúdio. Produz profusamente: esboços de desenhos de todos os tipos de plantas, desenhos de registros da passagem e mudança das estacoes, pinturas monumentais e pinturas no seu Ipad que posteriormente são impressas em papel em tiragem limitada.  O uso da tecnologia sempre esteve presente no trabalho de Hockney. Nos anos 60/70 ele dedicou-se a fotografia através de trabalhos de colagem com fotos. 







“Você não pode ficar entediado com a natureza, pode? Van Gogh sabia disso.”
David Hockney






Desenhos feitos no Ipad e impressos em papel. (Edição limitada)



O mundo de Hockney  revela a natureza ampliada em seus mínimos detalhes. A mata rica em texturas, o uso inusitado das cores: as estradas são cor de rosa, os troncos das árvores roxos, azuis, as poças de água prateadas. Os verdes são exuberantes, vivos. Seus olhos capturam a beleza da abundância, da exuberância e da riqueza contida nas florestas, paisagens e estações. Como se ele absorvesse a essência viva, a energia própria que emana de cada planta, de cada arvore e da passagem sucessiva de cada uma das estações do ano. 

" eu acho que esta lá (a cor) mas voce tem olhar com atenção...a cor é uma coisa muito fugidia, é fugaz na vida como nas pinturas."
Sua perspectiva distorcida – que ele chamou de  ‘perspectiva invertida’,  nos leva para dentro da paisagem.  Através da eliminação dos cânones tradicionais da perspectiva o artista amplia nossa visão e temos acesso a diferentes ângulos da mesma paisagem, alargando nosso olhar. Ele acredita que a perspectiva tradicional limita e restringe o artista. São como fronteiras que o impedem de seguir e buscar caminhos além dos já percorridos. Queremos fazer parte do mundo de Hockney, entrar naquelas paisagens e caminhar pelas estradas cheias de cor, relembrar nossos sonhos mais secretos, acordar a criança que dorme. Respirar o verde das florestas, andar sob a neve fria do inverno e sorrir. Simplesmente porque estamos em um lugar confortável e cheio de imaginação. 
Escapismo? Acredito que nao. O mundo de Hockney nos aponta uma opção. O artista, embora sonhador - porque nao? Escolhe 'ver', 'enxergar' ao invés de apenas olhar...Através do seu olhar, ele nos aponta a possibilidade de que podemos 'ver' o mundo ao nosso redor de forma diferente. Descobrirmos novas formas e padrões. Sons e imagens. O mundo pode ser vasto e rico de promessas e perspectivas que nao supúnhamos estarem bem ali, debaixo do nosso nariz.


"...e se voce nao sabe como olhar, como voce pode fazer pinturas instigantes?"
David Hockney





  


 vídeo instalação “The Four Seasons, Woldgate Woods”



Para a vídeo instalação “The Four Seasons, Woldgate Woods” (de 2010 a 2011) Hockney juntamente com sua equipe, montaram nove câmeras em um Jeep móvel para filmar simultaneamente o caminho na floresta a partir de múltiplas perspectivas. Elas são apresentadas como grupos de nove monitores em quatro paredes, cada uma apresentando a mesma visão em diferentes estações: inverno, primavera, verão ou outono. Com cada câmera apontada em uma direção ligeiramente diferente, o espectador é forçado a olhar para a cena como um composto de múltiplas perspectivas. "Eu sei que isso faz com que seja mais interessante porque você tem que olhar para cada um deles, e para fazer isso, você tem que abrir espaço em sua mente", disse Hockney.
  
Em 2001, Hockney publicou um importante livro, "Conhecimento Secreto: Redescobrindo as Técnicas Perdidas dos Antigos Mestres", que argumenta que avanços no realismo na arte ocidental não poderiam ter sido possíveis sem o uso dissimulado de espelhos, câmeras obscuras e outros. Ele cita entre outros o uso da câmera obscura por Vermeer.

 

Friday, 3 May 2019




STREET ART





I love her work! just a short quote, but a huge insight about human issues #UnfukYourself - Artist: Padhia 

"Padhia is a Los Angeles-based street artist, fashion designer and writer.Her work can best be described as psychological commentary. Where most other street artists pull from external themes such as politics, pop culture, and social commentary, Padhia’s work explores the often undiscovered and obscure aspects of our interior human landscape.She is the originator of several viral movements including #UnfukYourself : be who you were before all the stuff happened that dimmed your fucking shine." (text from the artis's website #padhia) — in Los Angeles, California


Thursday, 4 April 2019

De onde vem a arte?












O que é o fenômeno da arte? De onde brota a matéria prima da qual as obras de arte são feitas? Qual é sua morada, esse espaço onde a mágica acontece?
Seja a opera ‘Carmen’ de George Bizet ou a ‘Noiva Judia’ de Rembrandt. Seja o ‘Poema em Linha Reta’ de Fernando Pessoa ou a ‘9 Sinfonia’ de Beethoven. A vasta e prolífica obra de Vincent Van Gogh ou ‘Rapto de Proserpina’ de Bernini. O ‘Homem-Leão de Hohlenstein Stadel’ -  uma escultura de 38.000 a.C. A ‘Vênus de Tan-Tan’ de 200.000–500.000 a.C. Uma das peças mais antigas de escultura pré-histórica. Ou simplesmente a arte rupestre, nas Cavernas espalhadas por diversos lugares e conhecidas por todos.

O que existe em comum entre todas essas manifestações e revelações da alma humana? O que, na mente do homem o impele a criar, a produzir algo que ‘aparentemente’ não tem utilidade? De onde vem essa forca que deseja se comunicar, essa necessidade interna de expressar a si mesma?
Desde tempos imemoriais o ser humano abriga dentro de si essa necessidade de criar. Visto inúmeros achados antropológicos que atestam esse aspecto da alma humana. Em tempos em que a sobrevivência era prioridade absoluta, o homem já encontrava dentro de si esse anseio para elaborar e manifestar uma urgência por algo maior. Algo que transcendesse a fome, a segurança e o abrigo, suas necessidades mais básicas de sobrevivência. Algo superior a si mesmo, além da sua natureza ‘funcional’ e pratica. Uma busca por algo sem nome nem definição. Um anseio per se. A arte per se.
Sem compreender o funcionamento do mundo ao seu redor o ser humano encontrou na expressao desse anseio uma ponte de conexão com o mistério inerente da vida. Assim a arte esteve intimamente ligada às origens das práticas religiosas e às cerimônias de nascimento, morte, transição e transcendência. Os rituais, a dança, o drama são elementos de conexão com algo que esta além da simples lógica, mas acontece através da expansão da consciência, de que somos parte de algo Maior do que nós mesmos.

Apesar de ter encontrado respostas - sob a perspectiva da ciência e da tecnologia - para muitas de suas perguntas, o ser humano ainda se indaga e se questiona sobre os mistérios dos processos criativos. A incompreensível demanda que temos de nos conectar com esse universo enigmático da arte, da fantasia e dos sonhos.  Porque sentimos essa necessidade, tanto de criar como de usufruir, desfrutar dessa vasta gama de expressões que abrigamos sob o nome de arte? A arte nos oferece uma certa espécie de conforto, ela acomoda dentro de nos nossos aspectos conflitantes. Nos reconecta ao Todo e a todos.
Os mais pragmáticos procuram suas respostas na Ciência, que do ponto de vista do tempo é apenas uma criancinha em plena descoberta dos seus primeiros passos. A Ciência como tal, tem apenas em torno de 400 anos! Seu papel nas ‘coisas’ do mundo foi e é  imprescindível para o desenvolvimento da vida nesse local que chamamos de planeta Terra. Porem é limitado. Não nos fornece respostas para nossa questões mais transcendentais. Não tem acuidade quando o assunto diz respeito a esse universo de potencialidades que se expressa através da mente humana.  Os enigmas do mundo existem e persistem.  Através deles conseguimos nos conectar com a expressão maior do Todo. Da Ordem Inteligente que compõe e da qual é composto o Universo em que vivemos. Você pode dar o nome que quiser.
A arte vive nesse espaço mágico, nesse território incógnito e inexplorado pela grande maioria das pessoas. Encoberto por camadas a camadas de pragmatismo, lógica e congruência da mente cartesiana que sobrevive teimosamente dentro de nós.
O território aonde reside a arte é um campo de potencialidades. Nossa lógica materialista não consegue apreende-lo, percebe-lo, porque nossos parâmetros são deveras rudimentares e limitados para sua ‘aferição’. Não temos como acessa-lo através de ferramentas, instrumentos de medição ou de precisão. Qualquer tentativa de manipula-lo ele escapa, desaparece tal qual o ar rarefeito. A única maneira de compreende-lo é através dos dois canais através dos quais ele se manifesta. Me refiro ao artista que cria e ao espectador que usufrui das diversas expressões da arte. As emoções humanas são a base que tece essa enorme teia de potencialidades. O espírito atemporal que nos conecta a todos. As partículas incomensuráveis desse oceano, dessa abundante fonte que gera magnificente pinturas, arrebatadoras operas e sinfonias, extraordinárias pecas de arte de todos os tipos. Uma intrincada e complexa teia de potencialidades e possibilidades. A Inteligência, o espírito que nos habita e que ultrapassa os limites do pensamento científico e das probabilidades. Que reside nos átomos do nosso corpo desde os inícios, que esta' em todas as partículas ínfimas que compõe o Universo inteiro de coisas e Seres. A Ordem Maior que nos conecta a tudo e a todos e que rege essa imensa e profunda orquestra da Vida que pulsa perpetuamente no ciclo eterno de nascer e morrer. De cada célula, em cada instante.




A Noiva judia (ou Isaac e Rebeca)





O Homem-Leão de Hohlenstein Stadel




Vênus de Tan-Tan




Arte rupestre




1) Carmen de Georges Bizet - é uma ópera em quatro atos do compositor francês Georges Bizet.

2) Descoberto na caverna de Hohlenstein Stadel, nos Alpes da Suábia, no sudoeste da Alemanha. O Homem-Leão de Hohlenstein Stadel é o mais antigo entalhe antropomórfico de animais. A escultura de 38.000 a.C. é a primeira obra de arte descoberta na Europa a representar uma figura masculina. O Hohlenstein Stadel é uma das três cavernas que produziram evidências paleontológicas importantes. A obra tem 27,9 centímetros de altura e foi esculpida usando ferramentas simples de corte de sílex. Esta peça notável foi descoberta em 1939 pelo arqueólogo Robert Wetzel.

3) Cerca de 6cm de comprimento e 2cm de diâmetro, a Vênus de Tan-Tan é uma das peças mais antigas de escultura pré-histórica e foi descoberta no rio Draa, perto da cidade marroquina de Tan-Tan. Acredita-se que a obra de arte foi feita na era pré-Homo sapiens. O objeto é um pedaço de rocha de quartzo datado do período Acheuliano Médio. Entre 300.000 e 500.000 anos atrás. Alguns interpretaram como uma representação da forma humana. Foi descoberto em 1999, durante uma pesquisa arqueológica realizada por Lutz Fiedler, arqueólogo alemão.
4)Arte rupestre é o termo que denomina as representações artísticas pré-históricas realizadas em paredes, tetos e outras superfícies de cavernas e abrigos rochosos, ou mesmo sobre superfícies rochosas ao ar livre. A arte rupestre divide-se em dois tipos: a pintura rupestre, composições realizadas com pigmentos, e a gravura rupestre, imagens gravadas em incisões na própria rocha.