Tem algumas
exposições que você sai de lá revigorada, com o coração pulsando vida, entusiasmo
e alegria. Parece que todas as tuas emoções passaram pela máquina de lavar.
Renovadas e purificadas, uma sensação de que tudo está no lugar certo. Mais do
que isso, a experiência permanece com você durante horas e dias provocando um
espécie de sopro de vida e criatividade. Da pra sentir a mão, o suor, o coração do artista vibrando em cada pincelada, em cada cor, movimento. Seu entusiasmo e impressões a cada escolha diante da tela.
A exposição do artista britânico David
Hockney está acontecendo no Van Gogh Museum, em Amsterdam - de 1 de Março a 26 de Maio 2019. Com uma seleção de cerca de
60 obras de Hockney, entre pinturas colossais, desenhos, esboços, estudos e uma vídeo instalação. Oito pinturas e três desenhos de Van Gogh. A maior parte
das obras de Hockney são paisagens criadas de 2004 a 2011 no Woldgate
Woods, em East
Yorkshire no norte da Inglaterra, lugar de seu
nascimento.
Hockney sempre
foi um admirador de Van Gogh. O primeiro
contato com sua obra foi em 1954 em Manchester, quando tinha 16 anos e acabara de começar na Escola de Artes em Bradford. Ele conta que ficou impressionado com as pinturas de Van
Gogh: "Era a cor que me fascinava, eu nunca tinha visto pinturas assim antes. Na escola de artes todos pintavam com cores acinzentadas."
Hockney sempre assumiu a influencia de Van Gogh no seu trabalho: "Eu sou profundamente influenciado por Van Gogh, isso fica claro
nessa exposicao." Mais tarde essa influencia o fez se debruçar sobra as obras de Vincent e
assim buscar inspiração para seu próprio trabalho.
"Van Gogh para mim é um artista contemporâneo. Qualquer artista que fala com voce, é um artista contemporâneo."
Muitas coisas os conectam:
cores, pinceladas marcadas, o estudo da natureza, a observação perspicaz do
mundo. Mas sobretudo a capacidade de enxergar a natureza nos seus mínimos detalhes,
a observação de um aprendiz do mundo. Vincent desde criança viveu em contato
com a natureza. Colecionava insetos, plantas, desenhos. O mundo era um vasto
oceano de informacoes e ele sempre estava alerta para tudo ao seu redor.
“Quando a
natureza está no auge, parece que champanhe foi derramado sobre os arbustos e
está tudo borbulhando e parece maravilhoso.” David Hokney
O artista, que viveu boa parte de sua
vida em Los Angeles (EUA) sempre esteve habituado com o frequente clima solar da
Califórnia. Em 2002 visitando Londres na primavera, ele ficou fascinado com a mudança das estações. Decidiu retornar a Inglaterra com um projeto em mente. Entre outras
coisas, porque sua mãe estava no final de sua vida e também pela doença terminal de um
grande amigo. Durante esse período, que durou 9 anos, Hockney começou uma nova etapa
em seu trabalho. Percorrendo as florestas e paisagens típicas da região encontrou na natureza um motivo grandioso e abundante para criar, uma fonte inesgotável de inspiração. Ele diz:
“fazer pinturas ao ar livre na natureza era como que ir ao encontro de uma nova
linguagem”.
Nesse período se reconecta com o trabalho de Van Gogh pois os dois artistas comungam o mesmo deslumbramento pela natureza, o estudo minucioso das plantas, suas texturas e cores, ritmos e movimento. O passar das estações do ano e as mudança do clima. Ele trabalha en plein air e no seu estúdio. Produz profusamente: esboços de desenhos de todos os tipos de plantas, desenhos de registros da passagem e mudança das estacoes, pinturas monumentais e pinturas no seu Ipad que posteriormente são impressas em papel em tiragem limitada. O uso da tecnologia sempre esteve presente no trabalho de Hockney. Nos anos 60/70 ele dedicou-se a fotografia através de trabalhos de colagem com fotos.
Nesse período se reconecta com o trabalho de Van Gogh pois os dois artistas comungam o mesmo deslumbramento pela natureza, o estudo minucioso das plantas, suas texturas e cores, ritmos e movimento. O passar das estações do ano e as mudança do clima. Ele trabalha en plein air e no seu estúdio. Produz profusamente: esboços de desenhos de todos os tipos de plantas, desenhos de registros da passagem e mudança das estacoes, pinturas monumentais e pinturas no seu Ipad que posteriormente são impressas em papel em tiragem limitada. O uso da tecnologia sempre esteve presente no trabalho de Hockney. Nos anos 60/70 ele dedicou-se a fotografia através de trabalhos de colagem com fotos.
“Você não pode ficar entediado com a
natureza, pode? Van Gogh sabia disso.”
David Hockney
David Hockney
Desenhos feitos no Ipad e impressos em papel. (Edição limitada)
O mundo de Hockney revela a natureza ampliada em seus mínimos
detalhes. A mata rica em texturas, o uso inusitado das cores: as estradas são
cor de rosa, os troncos das árvores roxos, azuis, as poças de água prateadas. Os
verdes são exuberantes, vivos. Seus olhos capturam a beleza da abundância, da
exuberância e da riqueza contida nas florestas, paisagens e estações. Como se
ele absorvesse a essência viva, a energia própria que emana de cada planta, de cada arvore e da passagem sucessiva de cada uma das estações
do ano.
" eu acho que esta lá (a cor) mas voce tem olhar com atenção...a cor é uma coisa muito fugidia, é fugaz na vida como nas pinturas."
" eu acho que esta lá (a cor) mas voce tem olhar com atenção...a cor é uma coisa muito fugidia, é fugaz na vida como nas pinturas."
Sua perspectiva distorcida – que ele chamou de ‘perspectiva invertida’, nos leva para dentro
da paisagem. Através da eliminação dos cânones
tradicionais da perspectiva o artista amplia nossa visão e temos acesso a
diferentes ângulos da mesma paisagem, alargando nosso olhar. Ele acredita que a
perspectiva tradicional limita e restringe o artista. São como fronteiras que o
impedem de seguir e buscar caminhos além dos já percorridos. Queremos fazer
parte do mundo de Hockney, entrar naquelas paisagens e caminhar pelas estradas
cheias de cor, relembrar nossos sonhos mais secretos, acordar a criança que dorme. Respirar o verde das florestas, andar sob a neve fria do inverno e sorrir. Simplesmente porque estamos em um lugar confortável e cheio de imaginação.
Escapismo? Acredito que nao. O mundo de Hockney nos aponta uma opção. O artista, embora sonhador - porque nao? Escolhe 'ver', 'enxergar' ao invés de apenas olhar...Através do seu olhar, ele nos aponta a possibilidade de que podemos 'ver' o mundo ao nosso redor de forma diferente. Descobrirmos novas formas e padrões. Sons e imagens. O mundo pode ser vasto e rico de promessas e perspectivas que nao supúnhamos estarem bem ali, debaixo do nosso nariz.
"...e se voce nao sabe como olhar, como voce pode fazer pinturas instigantes?"
David Hockney
David Hockney
vídeo instalação “The Four
Seasons, Woldgate Woods”
Para a vídeo instalação “The Four
Seasons, Woldgate Woods” (de 2010 a 2011) Hockney juntamente com sua equipe, montaram
nove câmeras em um Jeep móvel para filmar simultaneamente o caminho na floresta
a partir de múltiplas perspectivas. Elas são apresentadas como grupos de nove
monitores em quatro paredes, cada uma apresentando a mesma visão em diferentes
estações: inverno, primavera, verão ou outono. Com cada câmera apontada em uma direção ligeiramente
diferente, o espectador é forçado a olhar para a cena como um composto de
múltiplas perspectivas. "Eu sei que isso faz com que seja mais interessante
porque você tem que olhar para cada um deles, e para fazer isso, você tem que
abrir espaço em sua mente", disse Hockney.
Em 2001, Hockney publicou um importante livro,
"Conhecimento Secreto: Redescobrindo as Técnicas Perdidas dos Antigos Mestres",
que argumenta que avanços no realismo na arte ocidental não poderiam ter sido
possíveis sem o uso dissimulado de espelhos, câmeras obscuras e outros. Ele cita entre outros o uso da câmera obscura por Vermeer.