Ast-MonicaCella
Quarto crescente 1999;
Ast-Monica Cella
É preciso não esquecer nada
É preciso não esquecer nada: nem a torneira aberta nem o fogo aceso,
nem o sorriso para os infelizes
nem a oração de cada instante.
É preciso não esquecer de ver a nova borboleta
nem o céu de sempre.
O que é preciso é esquecer o nosso rosto, o nosso nome, o som da nossa voz, o ritmo do nosso pulso.
O que é preciso esquecer é o dia carregado de atos, a idéia de recompensa e de glória.
O que é preciso é ser como se já não fôssemos, vigiados pelos próprios olhos severos conosco, pois o resto não nos pertence.
CECÍLIA MEIRELES (1962)
http://www.revista.agulha.nom.br/ceciliameireles04.html#preciso
quanta sabedoria! Tinha q ser Cecília Meireles, nossa poeta maior, postado p esta grande artista.
ReplyDeleteValeu!
DE GRÁTIS
(Pros meus amigos do Coletivo 0800)
Não tem preço o tiro de um bacamarte.
Não tem preço a volta inteira à cirandar.
Não tem preço a investida da guiada
e o som da virada no couro da Afaya.
Não tem preço a noite pisada no coco.
Não tem preço o coco tirado na loa.
Não tem preço o dia frevado na rua.
Não tem preço a lua cantada na praia.
Não tem preço a chibatada do Careta.
Não tem preço a rabada de um boi.
Não tem preço o verso de improviso
e quando liso, não tem preço a cortesia.
Pouco esperada, não tem preço uma rasteira
na capoeira e um aperto de mão.
E de bandeja, a bola que oferecida
faz a torcida explodir em alegria.
Não tem preço viver simplesmente a vida