Thursday, 16 April 2009

Pão e Poesia



Pão e poesia



A sabedoria da natureza está presente a todo o momento no dia a dia da vida da gente. 
É só olhar pros lados com mais cuidado e atenção, que a gente percebe isso. 
Mas como é difícil para muitos olhar pros lados! (e pra frente e pra cima e pra baixo, e pra dentro...). 
Como a maioria das pessoas leva uma vida mais agitada e cheia de pressa pra tudo, acaba nem enxergando de verdade muitas coisas interessantes que estão bem ali, na ponta do nariz. Todos os dias temos um grande espetáculo de graça acontecendo e nem mesmo nos damos conta disso. Um espetáculo silencioso, anônimo. 
Tornamos-nos assim. Em parte porque fomos treinados, habituados (palavrinha que não deveria existir), desde a infância a nos preocuparmos com coisas “maiores”, “mais importantes”, coisas de gente grande, num mundo feito pra gente grande. Escola, tarefas, curso disso, curso daquilo... Já viu uma criança brincando!? Elas se envolvem com coisas miúdas, “insignificantes”. Completamente. Coisas simples e corriqueiras. Nem precisam de brinquedos pra se divertir. Aliás, quanto menos, melhor. Sensibilidade a flor da pele. Poesia no dia a dia. 
Depois, quando nos tornamos adultos ficamos o tempo todo ligados em “grandes acontecimentos”, espetáculos que “falam alto”, que gritam. Ornados de preferência, com muito brilho, verniz e colorido. E assim é o mundo em que vivemos, onde só aparece aquilo ou aquele que grita mais, que aparece mais. O mundo do entretenimento. 
O resto!? Bem o resto é anonimato, tá fora do circuito, dos acontecimentos "importantes". Nossa cultura, nossa formação sócio-econômica, nossa educação, enfim muitas coisas determinam nossa postura e nossa maneira de estar e perceber o mundo que nos cerca. Somos treinados pra conquistas, isso é indiscutível. Nossos verbos prediletos são: obter, possuir, conquistar, ganhar, ter, e outros tantos sempre relacionados com coisas físicas, materiais, relacionados à nossa própria vaidade. 
Aquela outra parte no nosso ser que contempla, sonha e se alimenta de poesia e de encanto, de delicadezas e de arte (sim arte! tão necessária pra alma quanto a comida pro corpo). Essa parte, geralmente submerge, dorme latente um profundo sono, onde nem sequer existe o sonho. Eu sei, eu sei, tem que ganhar a vida, comprar casa, ter conforto, se divertir, pagar as contas no final do mês, porque elas existem faça chuva ou faça sol. E não fazem parte de nenhum “mundo onírico”, ou poético, enfim. Todos temos desejos: queremos usufruir do melhor que o mundo pode nos oferecer.Inclusive no aspecto material. Mas meu discurso é mais pretensioso, pretende ir mais além. Acredito que poderíamos ter ambas as coisas. Usufruir as “conquistas”, pagar as contas e também dar espaço para o ser único, lúdico que mora a nossa alma. Apesar de habitarem lados opostos, podem muito bem conviver em harmonia. É só parar um pouco. Reorganizar (ou desorganizar!??!?) a rotina. Olhar pros lados, pra cima, pra baixo, pra dentro... Pôr tudo de cabeça pra baixo. 
Sim, só por alguns momentos... Esquecer da tarefa, da obrigação, do fazer-tudo-igual-todo-dia. Chacoalhar a cabeça e o coração. Se dar uma chance, uma oportunidade, no meio do barulhento dia a dia. No meio de “tantos-compromissos-inadiáveis”. Dar uma volta no parque, na praça, no campo ou na praia... Sei lá! Vagar pelas ruas despretensiosamente, só pra passear. Olhando tudo ao redor. Sentar num café, só por estar ali, assim sem nenhuma ambição. Ficar mais tempo em contato com a natureza. De dentro e de fora. 
Não é tão difícil assim... 


Amst, 16 de Abril 2009.

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