Linoleogravura -Ver e amar 2003 p.a
...falando de uma forma bastante simplificada, entendo a vida quase como uma metáfora.
Um grande espaço de aprendizado, de construção de conhecimentos e principalmente de transformações. Um fluxo permanente, onde nossas ações interferem e influenciam tudo a nossa volta. Coisas, acontecimentos e principalmente seres.
Relacionar-se com o outro talvez seja uma das possibilidades mais importantes e ricas na construção do nosso conhecimento pessoal, da nossa arquitetura interna, de entender quem realmente somos e da imensa teia que nos liga e religa uns aos outros. Um instrumento que oportuniza trocas, vivências, atritos, comparações, transformações, ressignificados na nossa maneira de ser e entender as coisas. Diz respeito não só a convivência pura e simples com o outro, mas a uma infinita gama de possibilidades afetivas, que deixam marcas indeléveis na nossa existência. De encontros, desencontros e reencontros. Com o outro e com a gente mesmo.
Relacionar-se com o outro implica primeiramente em abrir portas, deixar a luz passar e tomar o lugar das sombras. Permitir-se. Dar passagem a potenciais acontecimentos entre os seres e seus mundos tão peculiares. Para que o nosso ser possa se ligar ao outro ser e criar um campo, um território onde as afetividades possam acontecer, estar em contato, relacionar-se, conflitar-se.
Relacionar-se pressupõe trocas e essas trocas acontecem de forma positiva e negativa.
Somos seres afetivos, permeados por sentimentos de natureza diversa: ciúme, ternura, generosidade, inveja, otimismo, vaidade...
Nos manifestamos diferentemente também: carinhosos, positivos, vibrantes, amargurados, tímidos, seguros, oprimidos...
Ou um pouco de tudo isso misturado dentro cada um de nós, às vezes mais, às vezes menos...
Digo assim, porque nossa cultura cristã nos ensinou a cultivar somente sentimentos nobres, jogando para baixo do tapete aqueles sentimentos que nos fazem sentir menores, abjetos. Não aprendemos a lidar com o feio, com o lado obscuro e sombrio daquilo que sentimos. Quando nos relacionamos, inevitavelmente esses sentimentos vêem á tona, emergem das profundezas escuras da nossa mente. Encontramos espelhos por todas as partes do outro. Ora nos refletem a bela imagem do narciso, e isso nos agrada. Ora nos devolvem imagens que não gostamos de “enxergar”, nos incomodam, perturbam. Tal qual o parque de diversões da nossa infância, esses espelhos podem nos mostrar nossa imagem “deformadas”, diminuídas, alterada.
Todos nós, cedo ou tarde nos deparamos com algum sentimento indesejável. Um auto confronto necessário e ecológico. Limpar o que incomoda, reciclar e reutilizar o que pode. Jogar fora o que não serve. Rearranjar a casa interna, chacoalhar a poeira, limpar o sótão.
Enfrentar e trabalhar com todo esse conteúdo exige coragem, vontade e, sobretudo empenho e dedicação. Somos parte de um imenso ecossistema humano, em permanente fluxo e transformação.
Relacionar-se verdadeiramente é trabalhoso, exige presença e acima de tudo verdade.
Poucos estão dispostos.
Mas é preciso falar sobre isso, cutucar a ferida. É preciso pensar sobre isso.Acordar!
Urgentemente!!!
No dia a dia...
REFLETIR!
Reinventar nosso modo de estar no mundo, de refazer nossas ligações com o outro. Reorientar nossos propósitos, como seres mutantes e pensantes que somos.
É necessário APRENDER A ESCUTAR. Ao outro e a nós mesmos.
E VER também. O outro e nós mesmos.
E principalmente aprender a AMAR, que é o elo básico, que une tudo aquilo que nos faz sentir melhores.
Amst, 5 outubro 2009.
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