Andorinha do amor, 1934.
Miró, e as cores da alma
“Tudo vem do visível. O objeto atrai o meu interesse cada vez mais, mesmo que sirva apenas de ponto de partida. Não há nada de abstrato nas minhas obras!”.
Erben, Walter. Miró o homem e a obra; Ed. (Taschen; p. 4
Erben, Walter. Miró o homem e a obra; Ed. (Taschen; p. 4
Miró foi meu primeiro grande amor nas artes, algo que me tocou profundamente e causou um forte impacto na minha percepção estética. O caminho do aprendiz...
Entrar em contato com sua obra foi uma porta escancarada para o mundo da arte e ao mesmo tempo um aprendizado totalmente novo na maneira de ver e sentir o mundo e as coisas que me cercam. As imagens me capturaram pra dentro de um mundo cheio de possibilidades. Anos mais tarde quando me deparei com uma pintura de Miró, ao vivo e a cores fui novamente arrebatada. Só que agora o encantamento foi maior: em escala, dimensão, sentimento emoções e entendimento também. Estar diante de uma obra de Miró é estar diante de si mesmo, naquilo que a gente tem de melhor, da capacidade humana de transcender.
De fato sua obra carrega o mistério das coisas encantadas, mágicas e perturbadoras. Aquilo que nos instiga, impulsiona um querer sempre mais e mais.
Aproximar-se delas, requer um gesto delicado, amoroso e lento. Aos poucos se vai percebendo as formas, as cores, os movimentos existentes. Sua natureza fantástica vai nos envolvendo e nos comprometendo passo a passo, e não queremos mais sair dalí. Todo o seu conteúdo simbólico vai se revelando conforme a nossa aproximação e interesse. Suas imagens falam ao nosso inconsciente e delas ecoam significados e mensagens latentes no fundo de nossa alma. São simbolos universais.
Os acontecimentos nas suas pinturas pertencem a um universo onírico. Rico de detalhes e personagens que dançam a musica cósmica de todos os tempos.
Choram e sorriem, falam de amor e de opressão, de silêncios eloquentes e de poesias estelares, de planetas distantes habitados por seres de luz e sol
Vão se revelando aos poucos, lentamente e ressoando todo o universo contido naquelas imagens.
Miró falou de coisas humanas, diretamente para a alma humana.
Com grandeza, simplicidade e sabedoria. Através de todos os seus saberes, sua origem, seus "pertences" subjetivos, criou uma obra que nos aproxima mais de nós mesmos.
Miró nasceu em Barcelona, embora vivendo lá por um longo período, não teve sua infância confinada a cidade grande. Seus avós maternos viviam em Maiorca e outros familiares
Durante sua infância pintar e desenhar eram atividades freqüentes e condizentes com seu temperamento sensível e silencioso. Os fantásticos romances de Julio Verne eram suas leituras preferidas. Seu pai era ourives e joalheiro e tinha como passatempo a astronomia, interesse que passou para o filho, através da observação direta das estrelas, num enorme telescópio que tinha em casa.
Aos 14 anos Miró teve que se confrontar com a escolha de uma profissão, decidindo então estudar na Escola de Belas Artes de Barcelona. Permaneceu durante três anos na escola. Mas durante esse período teve muitas dificuldades devido à constatação de que não poderia progredir na evolução de sua pintura dentro do perfil acadêmico da instituição. Desde o início estava indelével na sua personalidade o caráter livre.
Mas a dificuldade que encontrou só serviu para estimular ainda mais sua forte vocação para as artes e ir ao encontro da descoberta de seu próprio processo através do contato solitário com a natureza e com seu próprio trabalho.
A certa altura, porém, os pais de Miró decidiram interromper seus estudos na Escola de Pintura, argumentando sobre as dificuldades do filho em relação a sua linguagem pictórica.
Em 1910, Miró começa a trabalhar como ajudante de escriturário. Mas a experiência mostrou se desastrosa e só reforçou seu talento e vocação para as artes.
Em 1911, Miró adoeceu e foi para Montroig no sítio da família a fim de se convalescer. Durante esse período retoma seus estudos de artes e volta a pintar. No ano seguinte decide se dedicar completamente a sua pintura e retoma seus estudos na Escuela de Artes de Francesco Galí onde permanece até 1915.
O ambiente de Barcelona já tinha os rastros de Gaudí, Picasso e Gonzalez, com sua forte presença. Assim a partir desse momento Miró decide fazer seu próprio caminho como um artista livre, sem nada a seguir. Pelo contrário, abrir seu próprio caminho através da criação de uma linguagem muito particular.
Desde o início suas pinturas apresentam a qualidade intrínseca a toda obra de arte.
Segundo Walter Erben: “...o que estas obras tem de notável é que elas não narram a evolução de uma inabilidade inicial, até o domínio cada vez mais seguro das ferramentas do ofício – como seria de esperar de um jovem pintor.Todas elas são por direito, obras acabadas”. (Erben, Walter. Miró o homem e a obra, Ed. Taschen; p.140).
Miró abriu sua própria estrada e construiu sua própria linguagem. Mais do a liberdade que a arte moderna propiciava e seu caráter revolucionário naquele momento, o que realmente interessava a ele era a possibilidade de expressar o rico universo de sua terra natal. As ruas de Barcelona, os museus, as igrejas, casas, os apetrechos que o rodeavam, a arte popular.
Mirò sempre enfatizou que tudo que existia em suas pinturas eram coisas reais, que ele enxergava ao redor de si:
“Tudo o que se vê nos meus quadros existe” (Joan Miró)
A maneira de pintar de Miró, o seu modo-de-fazer, o seu estilo, tudo é inconfundível. Ele é capaz de pintar mulheres e pássaros sem pintá-los. O bom mesmo é ver de perto, coisa que ainda não fiz! E o seu texto repassa bem a paixão que sente pelo artista, parabéns!! Beijus,
ReplyDeleteparabens,eu adoro suas obras e textos
ReplyDeletemeus parabens