Friday, 12 March 2010

MATISSE TO MALEVITCH - Pioneers of Modern Art from the Hermitage


Reinventando a arte,

Entro no museu com sentimentos misturados, entre ansiedade e curiosidade. Afinal ver artistas que mudaram a forma como vemos as coisas, causa um certo entusiasmo inaugural. Sempre! Pelo menos pra mim.
O percurso começa no grande salão principal do Hermitage Amsterdam, à beira do encantador Amstel. Ali estão algumas das jóias da pintura da Arte Moderna, uma grande mostra vinda do acervo do Hermitage St Petersburg, da Rússia.
Precursores de um modo de fazer arte totalmente diferente até então. Matisse, Picasso, Kandinsky, Kees Van Dogen, Charles Guérin, Maurice de Vlaminck, Henri Manguin, entre outros.
A arquitetura do museu colabora: pé direito alto, branco total, pontuado por vidros em transparência aqui e acolá. Realçam a magnitude das obras, todas em grande formato, que tem espaço suficiente para respirar e serem vistas ampla e largamente, como é necessário.

Game of Bowls, (1908) de Matisse, na entrada inicia a viagem.
Por volta de 1908 Matisse se dedicou a uma série de pinturas em grande formato, sobre um mesmo tema, que nomeou ‘The Golden Age’. São figuras nuas muito simples, sobre um fundo plano, envolvidas em alguma atividade: dançam, fazem música, jogam, etc. Possivelmente “as figuras se referem ao homem primitivo e ao jogo da vida” .
A pintura de Matisse sempre esteve permeada pela simplicidade, pela harmonia e prazer. Apesar de pertencer a um período da história que rejeitou violentamente o passado, a obra toda de Matisse demonstra o contrário: suas fontes e o estudo de seus antecessores serviram de base para seu trabalho que a despeito da aparente simplicidade, exigia do mestre longos períodos de dedicação e estudo num mesmo trabalho, evidenciando assim a complexidade do pensamento artístico, do fazer da obra. Matisse foi um artista de vital importância para o grande período de transformações. Inventou uma nova gramática para a nova linguagem visual. Linhas, cores e formas agora tinham vida própria e autonomia no universo da arte.


“I feel through colour, so my pictures will always be organised by it. Yet this requires that the sensations be condensed and that the means employed be brought to their utmost expressivity." Matisse

Picasso está logo adiante...
Suas imagens são pungentes, cheias de uma força enérgica, carnal. Picasso tem fome de vida, de comer com as mãos, com os olhos e com o corpo todo. Dá pra sentir a pulsão de vida e morte que anima sua alma. Eros e Tanatos lutando fortemente na psiqué do artista. O turbilhão de mudanças do início do século XX está indelevelmente gravado nas suas obras.
Inevitável a lembrança da insistente comparação com Matisse durante boa parte de suas vidas, colocando-os até mesmo como rivais. Lendas ou anedotas à parte, é muito claro a diferença os separa. Enquanto Matisse nos fala de um mundo perfeito de ordem, harmonia, beleza e prazer, Picasso é o outro lado da moeda. Suas imagens são duras, angustiadas e por muitas vezes tristes.

Pablo Picasso, Dryad, 1908. Oil on canvas, 185 x 108 cm.

Kandinsky e suas pinturas emocionais, espirituais. Composition VI, de 1913 é uma tela de grande formato, 195х300 m. Uma festa musical de cores, formas e linhas. Segundo suas pesquisas as notas musicais tinhas cores e vice versa, compondo grandes sinfonias.
Além da sua produção visual, também foi um grande pensador e teórico em defesa da arte abstrata, e abriu caminho na arte através de sua linguagem.

E a viagem segue em frente, através de outras salas, mais trabalhos, vídeos, tantos artistas...

Estar diante das obras, é estar entre outras coisas diante de um momento muito particular da história da arte, na qual muitos padrões e paradigmas foram quebrados e uma nova maneira de ver, perceber e criar o mundo se iniciou.
Onde começa o processo da mudança no tempo, onde termina?!
Não há consenso entre os historiadores. Seu surgimento sem dúvida foi um fenômeno histórico.
A janela renascentista com suas paisagens tridimensionais e ilusórias se fecha, dando lugar ao plano visual onde acontece a pintura propriamente, alcançando sua própria autonomia enquanto arte.A pintura agora é um plano bidimensional onde o artista tem a liberdade de expressar suas "paisagens" internas.
As obras desse período têm uma força incomum, porque são inaugurais. Rompem no tempo pela primeira vez, um universo cristalizado e sacralizado , transgredindo normas e leis, reinventando a arte dentro da própria vida, dinamizando-a, trazendo-a mais perto do cotidiano, do dia a dia do homem comum.
Sentimos a vibração, o appeal de todos aqueles acontecimentos que povoavam a mente, a imaginação desses artistas e de todas as mudanças que borbulhavam naquele período revolucionário.
Algo se revela ao longo da exposição e se mostra em muitas obras: a influência que alguns artistas exercem sobre os outros.
Todos os grandes artistas têm uma bagagem na sombra de sua obra. Uma história feita de buscas, pesquisas, técnicas, encontros e desencontros.
Matisse olhou intensamente para Cézanne, Gauguin, Van Gogh, Paul Signac e para a arte japonesa.
Picasso estudou Cézanne e alguns trabalhos do período inicial remetem a Gauguin e Toulosse Lautrec.
Maurice de Vlaminck pesquisou Cézanne.
Raoul Dufy buscou inspiração em Van Gogh.
Com diligência, mas agora com liberdade de escolha, arte livre de qualquer tipo de subserviência. Voltados para o futuro, olhando em frente, buscando o novo. Atualizando conhecimentos.
Dessa forma a arte se constrói, abre brechas, caminhos e descaminhos, através da desconstrução de outras tantas formas de pensar e criar.

Hermitage Amsterdam
Address: Amstel 51, Amsterdam
Open: Daily from 10 a.m. to 5 p.m., Wednesdays to 8 p.m.
Closed: 25 December, 1 January and 30 April



Albert Marquet, Port of Hamburg, 1908




Vassily Kandinsky. Winter Landscape.1909.Oil on cardboard - 75,5х97,5 m






1 comment:

  1. Monica, estou louca pra ir nessa exposiçã0. Ainda mais depois do seu post.

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