Saturday 9 June 2012

Paisagens Simbolistas



                          In the Dust Storm, 1893. Jacek Malczewski.


Symbolism from VanGogh to Kandinsky
(no Van Gogh Museum até dia 17 de Junho 2012)


Os Simbolistas, em busca dos mistérios que habitam a alma humana

Como todo acontecimento ou movimento de novas idéias nas artes o Simbolismo aconteceu como uma reação, uma inquietação na alma dos artistas num determinado momento da história, final do século XIX. Afetados pelo seu tempo e pelas mudanças que vinham acontecendo, muitas em decorrência da Revolução Industrial - como a industrialização, o materialismo - os artistas se manifestaram tentando entender o mundo de outras formas e reorganizá-lo segundo novas perspectivas. O movimento simbolista aconteceu primeiro na literatura (poesia) e filosofia espalhando-se depois para as outras modalidades das artes: pintura, teatro, musica. A propósito, tem um forte link com a musica. As poesias de CharlesBaudalaire foram precursoras das idéias simbolistas e exerceram grande influência sobre a arte da época - e do século XX.
A maneira de pensar e expressar o mundo nas artes era até então de acordo com o Realismo/Naturalismo. Esses artistas tinham uma visão muito racional e objetiva nas artes e na vida. A arte era narrativa e expressava e espelhava a realidade sem a interferência da subjetividade do artista. Um excesso de objetividade, determinismo, racionalismo e positivismo. Assim um movimento contrário começou a nascer se opondo aos excessos Realistas/ Naturalistas. Sentimentos opostos fertilizaram grandemente nesse contexto, oportunizando o nascimento do Simbolismo. Os artistas passaram então a valorizar a subjetividade, o individualismo, a busca da espiritualidade, o místico e a intuição sobre a razão. O objeto de sua arte carrega o símbolo como conteúdo, ligando o mundo físico ao mundo abstrato. O símbolo faz a ponte que liga o humano ao transcendental, o abstrato ao concreto. Suas idéias partiam do princípio de que a arte deveria expressar os conteúdos latentes no ser humano, sua alma e os sentimentos que a povoavam. Acreditavam na busca do espiritual e das forças místicas que regem o universo, prevalece o onírico sobre o cotidiano e o real. O objeto de sua arte seja uma paisagem ou uma pessoa é muito mais sugerido do que mostrado, de forma imprecisa e vaga, obscuros, envoltos em neblina e mistério.
Os simbolistas usaram em seu repertório figuras da mitologia, seres andróginos, mulheres sensuais, paisagens oníricas quase abstratas, paisagens da natureza envoltas em mistério, cores diluídas, personagens místicos e míticos.
A exposição Dreams of Nature, Symbolism from Van Gogh to Kandinsky que acontece no Van Gogh Museum, traz as paisagens simbolistas como destaque.
Paisagens simbolistas do período de 1880 a 1810. Através das paisagens os artistas representavam suas idéias da morte, da vida, dos sonhos, do cosmos, etc. Odilon Redon, Munch, Böcklin, Whistler, Mondrian, Kandinsky,  Leon Bakst, Gallen-Kallela, Jacek Malczewski e muitos outros.  
As obras são impactantes, cheias de energia e mistério. A curadoria caprichou na escolha e nenhuma das obras fica a desejar em beleza, grandiosidade e poesia. O espectador não consegue ficar indiferente a nenhuma delas. Grandes, médios e pequenos formatos, todas de rara beleza e encanto.
Ao entrar na sala de exposição logo no início uma nova e atual proposta instiga ao espectador: ele é convidado a se utilizar de uma nova ferramenta do mundo virtual, o conceito de realidade aumentada. Mas o que seria isso? O mundo dos QRcodes que nos acessam à realidade virtual. Um pequeno texto na parede explica como fazer o download de um QRcode no seu smartphone e daí em diante scanear algumas obras que exibem seu QRcode junto delas. Assim o espectador tem acesso a mais informações sobre a obra e pode ouvir do seu smartphone duas músicas inspiradas na obra. Uma mais antiga e outra feita especialmente para a exposição.

A exposição está dividida em seis temas:

*Ancient and new paradises: inspiração na mitologia antiga, refúgios paradisíacos longe das cidades. Destaque para a obra Island of dead de Arnold Böcklin, ouça a música que acompanha a obra.
A obra de Leon Bakst Terror Antiquus de 1908 se sobressai logo no começo da exposição. Dimensões gigantes que nos engolem para dentro da paisagem - parece até um obra contemporânea. Terror Antiquus teve muitas opiniões diferentes sobre seu significado. A história da pintura relata que Leon Bakst visitou a Grécia em 1907 absorvendo toda sua cultura e história através da leitura de seus clássicos e da realização de desenhos dos monumentos e da natureza. Essa experiência foi fonte de recursos para a criação da obra. Descreve o naufrágio e a destruição de uma antiga cidade Grega (Atlantis) e seus habitantes. Bakst reproduz uma série de edifícios antigos - a Porta dos Leões em Mycenж, as ruínas do palácio de Tirinto e da Acrópole ateniense. Kore, uma escultura grega de uma jovem em pé - mitologia grega-  ou a Deusa Aphrodite, se levanta soberana e enigmática, impondo sobretudo e sobre todos o destino da humanidade.  Simbolicamente ela representa a extinção daquele mundo e seus valores.
Bakst ficou muito conhecido por seu trabalho com Sergei Diaghilev em seus Ballets Russes na produção de cenários e figurinos.





                                             Terror Antiquus, 1908. Leon Bakst.




                                The Island of Death, 1880. Arnold Böklin. 




*Nature and suggestion: paisagens internas, sentimentos sugeridos. Gallen-Kallela, Sohlberg and Hodler.

A obra de Kallela é o destaque de toda exposição (a fotografia que está no folder). Uma obra delicada e forte, atemporal, uma paisagem feita de silêncio. O espectador é sugado para dentro do infinito, vislumbrando apenas nos reflexos do céu na água. Nenhuma forma de vida, nenhum som se pode ouvir. Tudo é silêncio e abandono. Uma imagem que se abre para dentro de nós mesmos, tal qual o espelho, transcendendo a pura beleza e o poder da arte.


                                 Lake Keitele, 1905. Akseli Gallen Kallela.



*Dreams of visions: Gauguin, Munch, Malczewski.

O mundo que jaz na superfície das coisas, visões e sonhos.Destaque para a obra In the Dust Storm, 1893 de Jacek Malczewski.
 

A obra causa um profundo impacto quando nossos olhos repousam suaves sobre a imagem. A princípio nos sentimos num lugar além do aqui e agora. Um mundo distante, desconhecido, sem tempo nem espaço definidos. A imaginação corre livre pela cena. O impacto das figuras entrelaçadas num redemoinho amarelo, quente e abafado. Alheias à nossa presença, elas giram e levitam sob o solo seco e árido. De qual tipo de matéria seriam feitas ? Em que mundo habitam? As árvores ao fundo fixas e imóveis assistem ao acontecimento e também ao nosso estupor e encantamento diante da obra, sem nem ao menos nos darem alguma pista que possa nos levar ao encontro de alguma resposta. Objetivamente, a figura e identificada com Polônia, personificação do pais Polônia. Apoiada por seus filhos a Nação emerge como uma referência ao destino da pátria escravizada. Alternativamente a figura  feminina e identificada como Poludnica (Lady Midday) demônio perigoso dos campos, causando insolação e loucura.



                        In the dust storm.1893/94- Jacek Malczewski








*Silent cities: Whistler, Degouve, Nuncques.
As cidades como uma ameaça se tornam paisagens de sonhos e mistério vindas da imaginação do artista.
Casas silenciosas, feitas de penumbra e sonhos. Imagens que nos remetem a um profundo lugar dentro de nós mesmos, algo que jaz talvez esquecido nas sombras de nossos pensamentos, nas dobras do tempo. Mas os silêncios não são feitos de melancolia. São tecidos com o passar suave e monótono do tempo que toca suavemente a superfície das coisas sem alterar sua aparência nem mesmo sua essência. Uma ausência presente. A luz acesa que sugere uma presença, a vida que pulsa a despeito do vazio absoluto que povoa as ruas e os lugares.





                                A portal in Brugges. Fernand Khnopff.


                         Le lac d'amour in brugges. Fernand Khnopff.




                         Le quay in Brugges. Henri Le Sidaner.


*The cosmos: Van Gogh, Watts, Willumsen.
As forças da natureza, a energia cósmica, a eterna insignificância do homem diante da natureza.  
Destaque para a obra
"Sun Shining on the Southern Mountains" - Jens Ferdinand Willumsen.
A obra de grande formato, exige uma entrega do espectador. Ninguém passa indiferente por ela. Cheia de luz e significados que transcendem a imagem feita de tintas e tela. Algo além das montanhas, além do dourado luz filtrada pelas nuvens nos colocam numa posição diminuta perante os mistérios da vida e do mundo.
O clássico Van Gogh "The Sawer" também não fica por menos. Cheio da energia criativa e dinâmica do mestre. The Sawer é um emblema da vida e da mente tão conturbada do artista. Seu pai que fora um pastor protestante tinha com essa parábola uma ligação muito forte, a qual com certeza marcou Van Gogh para sempre.



                 Sun shining on the Southern Mountains. Jens Ferdinand Willumsen.





                         The wheatfield with reaper. Van Gogh.






                          The Sower. Van Gogh.


*Into the mystic: Whistler, Signac, Mondrian, Kandinsky. A expressão do sublime e do espiritual, conexões com a música, primeiros passos rumo à abstração. Destaque para a obra Nocturne in Blue and Green, de Whistler.
 


              Nocturn in blue and green. James McNeill Abbott Whistler




                         Nocturne in grey and silver. Whistler.



*A curadoria da exposição foi realizada por Richard Thomson e Rodolphe Rapetti, especialistas na área de pintura de paisagens e Simbolismo.    specialists in the area of landscape painting and Symbolism.
*Dreams of Nature - Symbolism from Van Gogh to Kandinsky
Exposição no Van Gogh Museum em Amsterdam
Até 17 de Junho 2012
A exposiçao acontece na Ehxibition Wing na parte de baixo seguindo as escadas rolantes à direita, assim que entramos no museu (apos o controle de raio x)
O museu está aberto diariamente da 10am às 6pm e às sextas até as 10pm.