Wednesday 23 September 2015

FILMES 1





                                          Filme Wings of Desire. Wim Wenders. 1988.
                                          Foto by Everett/Rex



Ir ao cinema é um ritual. Você decide pelo filme, cria algumas expectativas, compra os ingressos, passa no balcão e compra uma pipoca e entra na sala procurando pelo seu lugar "quentinho". Por algum tempo esse lugar vai te proporcionar uma viagem, uma aventura, uma descoberta. Por algum tempo você vai viver outras vidas e mergulhar pra dentro das emoções daqueles personagens. 
Acomode-se, o filme está prestes a começar...

Se tem algo que eu curto muito é assistir a um bom filme. Nossa atividade preferida em família, desde a escolha do filme aos comentários no final é diversão na certa.
O cinema tem algo mágico (isso é muito clichê eu sei...) tem o poder de nos transportar para dentro daquele universo tão único e especial que é a visão de um diretor. O arranjo de todos os elementos que compõem e constituem o filme: a fotografia, o roteiro, a direção, os personagens, o figurino e tantas outras coisas formam uma liga que amarra e mantém a trama fazendo-nos viajar ao longo da história contada. 
Por alguns momentos a vida fica em suspenso e vivemos outras vidas e outras possibilidades. Os personagens vem até nós, nos convidam a dar um mergulho dentro da sua intimidade, dos seus pensamentos, emoções, sonhos e dramas. E vivemos aquele turbilhão de emoções, vidas e eventos que se entrecruzam e se mesclam com a nossa própria vida. 
Quanto mais bem construido o filme, quanto mais rica e intrincada a vida interior dos personagens, mais oportunidades ele nos oferece. O cinema tem a grande capacidade de expandir a nossa consciência, alargar nossas perspectivas do mundo e até mesmo quebrar nossos paradigmas. Na verdade toda arte tem a potencialidade de fazer isso. Mas a linguagem do cinema por ser mais dinâmica e envolver os sentidos, visão e audição, nos arrebata mais fácil e docilmente, não oferece obstáculos. Somos quase que interceptados, capturados pra dentro daquele mundo como ou sem a nossa autorização. Ao contrário de uma tela ou escultura por exemplo, que requer nossa iniciativa e empenho, nossa participação mais ativa em perscrutar o que está acontecendo ali. Depende da nossa vontade de ficar ou ir embora.
Um filme bem feito pode ser de qualquer tipo, comédia, drama ou ação, ficção científica ou thriller. O que importa é o modo como a historia é tratada, como é elaborada e transformada em um produto não acabado, aberto ao nosso entendimento, participação e ressignificação. Quanto mais camadas de interpretação e significado tem um filme melhor ele é - na minha modesta opinião. Filme bom é aquele que cola em você, mesmo depois que você vai embora ele fica lá, perambulando pela tua cabeça mesmo que você nem perceba a sua presença. Algo aconteceu, algo se transformou, dentro da gente...aquele que entrou nao é mais o mesmo que saiu. Pode ser até uma comédia, daquelas que só se faz rir. E a sensação no final é de leveza, calma e alegria. E isso também é bom e também é transformador e redentor. Sim o mundo pode ser um lugar bom de se estar. Mesmo que momentaneamente, no escurinho do cinema...







Life's a breeze
Genero: comédia
Ano: 2013
Diretor: Lance Daly
País: Irlanda
Pat Shortt and Fionnula Flanagan.
Eva Birthistle, Gerry McCann, Philip Judge, Lesley Conroy, Peter Coonan, Brian Gleeson, Paul Ronan and Kelly Thornton, participação especial de Ryan Tubridy e Joe Duffy.
Os filhos decidem fazer uma faxina na casa da mãe, uma idosa aposentada, sem que ela saiba. Quando ela retorna, eles animadamente a levam para um tour pela nova casa, onde todo o entulho guardado durante anos e anos foi jogado fora. Petrificada, a mãe pergunta pelo colchão...onde supostamente guardava suas economias de muitos anos, um milhão de euros! Começa então uma corrida maluca em busca do colchão que a esta altura já está no sistema de reciclagem de lixo da cidade - Dublin. Uma comédia deliciosa que faz rir e pensar ao mesmo tempo, de um modo leve e suave. Os dramas da vida sem muito drama. O filme aborda algumas questões importantes da vida. Os relacionamentos entre filhos e os pais que envelhecem e as implicações disso na vida cotidiana. O próprio fato irreversível do envelhecimento e suas consequências, vivido pela personagem Nan (a espetacular Fionnula Flanagan). Destaque também para atriz Kelly Thornton (a neta de Nan). Na verdade o filme se sustenta através dessas duas atrizes que se comunicam pelo olhar.  



Holanda, o País das águas II - MAESLANTKERING (Maeslant Surge Barrier)



    Foto: Beeldbank Rijkswaterstaat


Os holandeses têm um caráter pragmático, objetivo, prático e disciplinado. Mas a tenacidade desse povo, seu espírito de união e comprometimento com o todo, o sentimento do coletivo fica muito mais claro e evidente quando nos deparamos com algo concreto, tangível aos olhos e ao entendimento. 
Não só ao alcance da visão, mas com uma abrangência muito maior e de vital importância para a segurança de seu povo. Refiro-me ao espetacular projeto Delta Works
(Deltawerken). Um ícone da engenharia holandesa e da sua maestria no domínio da tecnologia do controle das águas. 
Uma série de barragens, diques, represas, eclusas e comportas que protegem a Holanda da invasão das águas. Seja do mar, dos afluentes dos rios, de inundações por chuvas ou qualquer evento que ameace as terras abaixo do nível do mar. Uma maravilhosa obra de engenharia já chamada pela American Society of Civil Engineers como uma das Sete maravilhas do Mundo Moderno. 
A maioria das obras situa-se na região sudoeste da Holanda e protegem a área do delta dos rios Reno, Mosa e Shelde (Rijn-Maas-Scheldedelta). Isso significa também o enorme porto de Rotterdam, entrada vital para o pleno funcionamento da economia do país.
O projeto Deltawerken demorou cerca de 30 anos para ser finalizado.



                                          Mapa das obras do Delta Work

                                     
A luta contra as águas é presença constante nos Países Baixos. 
Faz parte de seu passado e de sua história, marcando profundamente a alma desse povo - por isso suas características tão assertivas.   
Faz parte de seu presente, através do controle absoluto e preciso do nível das águas. 
Com igual importância fará parte de seu futuro com tantos desafios a serem superados num planeta em que as ações humanas estão afetando drasticamente a natureza.
Olhando para o passado têm-se uma idéia dos constantes esforços para a proteção das Terras Baixas. 
Por volta de 1927/33 quando foi construído o grande dique Afsluitdijk, no norte, já havia planos para a proteção da costa no sul, das freqüentes inundações. Devido à II Guerra Mundial e outras questões o plano foi adiado.
O fator decisivo para a implementação do projeto foi em 1953 quando houve um grande acidente climático, grandes inundações onde as marés altas e um furacão destruíram um dique de proteção no sudoeste do país (onde se encontra o delta dos rios citados acima, Reno, Escalda e Mosa) causando a morte de milhares de pessoas e destruindo mais de 160.000 hectares de terra. O fato foi determinante para que as autoridades revissem o sistema de proteção, empreendendo de vez seu maior projeto hidráulico de contenção das águas, o DELTAWORK.
Ao longo do caminho o projeto inicial foi sofrendo alterações e se adaptando as necessidades de preservação do meio ambiente. O estuário de Oosterschelde (Eastern Scheldt) era inicialmente para ser bloqueado através de uma barreira e suas águas salgadas transformadas em água doce. Devido à pressão da opinião pública (pescadores e ambientalistas) o governo alterou o projeto a assim ao invés do fechamento total optou-se por uma grande represa que permitiria o fluxo das águas e seu controle, preservando assim o ecossistema de águas salgadas. A represa permanece aberta em condições normais e somente quando as águas atingem três metros acima do nível esperado elas então se fecham impedindo inundações. Como complemento de proteção velhos diques foram reforçados, ampliados, outros foram criados e novas rotas de navegação ao porto de Rotterdam e Antwerpia na Bélgica.






                                     MAESLANTKERING (comportas fechadas)







Entre as obras do Delta Work que mais se destacam está a Maeslantkering, citado acima. Situada no Niewe Waterweg a principal rota de passagem dos navios rumo ao porto de Rotterdam.
Foi niciada em 1991 e concluída em 1997.  A grande barreira móvel foi a solução encontrada para proteger o porto de Rotterdam e toda a área em torno. Cidades e áreas de agricultura e também permitir a passagem dos navios.

Ao contrário de uma barreira fixa, a Maeslantkering é composta por dois grandes portões flutuantes ocos, de estrutura de metal. Os braços da estrutura são móveis permitindo a abertura e o fechamento do canal. Conectados à base por uma esfera que funciona como uma articulação móvel no seu eixo de conexão com a base (a exemplo de uma articulação humana). Assim o movimento dos portões não é rígido, permitindo sua mobilidade livremente sob influências de ventos e da força das águas.   
Em condições normais, os portões ficam nas docas laterais em lugar seco e protegido. O funcionamento se dá quando as docas são preenchidas pela água permitindo aos portões flutuarem e lentamente se fecharem. Quando os dois braços se encontram os reservatórios que compõem sua estrutura se enchem de água e lentamente afundam. Assim se forma uma sólida contenção das águas em caso de ameaça de inundação.

Todo o sistema para um eventual fechamento dos portões funciona através de um sofware especial de computadores. Esse sistema por sua vez está conectado com os dados atmosféricos, de oscilação das marés e outros parâmetros. Assim que o nível das águas atinge a marca de três metros, e todos os parâmetros são atingidos, o sistema aciona o fechamento da barreira.




MAESLANTKERING(comportas abrindo)


*Em caso de fechamento, o processo todo leva cerca de 90 minutos;

*A expectativa de acordo com estatísticas é que a Maeslant se feche uma vez a cada dez anos;

*Embora seja ativada, uma vez por ano para fins de teste, a barreira só foi fechado uma vez, em resposta a um aumento nas marés em 2007.

*Quando fechada a barreira o nível de água do lado do lado do Mar do Norte fica mais alto exercendo uma enorme pressão sobre a barreira com força suficiente para derrubar um grande navio;

*A articulação em forma de bola é a maior do mundo, com um diâmetro de 10 metros e pesando 680 toneladas;

*Cada um dos portões tem 22 metros de altura e 240 metros de comprimento;

*Levou seis anos para construir a barreira;

*Para informações mais detalhadas e informações sobre a gestão da água na Holanda, as pessoas podem visitar o centro de informações, que está aberto todos os dias ao lado da Maeslankering, a entrada é gratuita;

*O Europoortkering-project custou 660 milhões de euros;

*MAESLANTKEIRNG (site do museu que fica ao lado da barreira)  
*Aqui tem uma rota turistica que passa por todas as obras do Delta Work (em holandes)
*Site sobre o DELTA WORK

*Ha treze Delta Works nas províncias de Zeeland, Noord-Brabant e Zuid-Holland:

1- Oosterscheldekering

2- Bathse Spuisluis

3- Haringvlietsluizen

4- Brouwersdam

5- Hollandsche IJsselkering

6- Grevelingendam

7- Oesterdam

8- Maeslantkering

9- Philipsdam and Krammersluizen

10- Volkeraksluizen

11- Veerse Gatdam

12- Zandkreekdam

13- Hartelkering



A história conta...

 

Por ser uma baía de grande extensão o Zuiderzee estava exposto as freqüentes tempestades do mar do Norte que forçavam a água para dentro da baía inundando vilas. Idéias a fim de proteger a região já existiam no século 17, mas ainda impraticáveis devido a falta de tecnologia para isso. No entanto somente no século 19, foi possível desenvolver a técnica que implementaria o projeto.

O responsável por isso foi o engenheiro civil holandês Cornelis Lely que em 1891 propôs as bases para a construção de uma barragem (um grande dique) para o fechamento do Zuiderzee, transformando-o em um lago. As águas não tão profundas do Zuiderzee (em torno de 4 metros de profundidade) facilitariam a execução do projeto apesar de toda a precariedade na época. Além disso, o projeto também incluía a construção de quatro polderes no lago (que após a conclusão do projeto se chamou Ijselmeer). Os polderes serviriam como terras cultiváveis para a agricultura. Mais tarde se dividiram em apenas dois.

Mas a idéia de Lely ainda não teria espaço para se concretizar. Em 1913 quando se tornou ministro dos Transportes e Obras Públicas o engenheiro conseguiu alavancar seus planos apesar das resistências. Pescadores ao longo do Zuiderzee estavam preocupados se iriam perder seus meios de subsistência. Outros estavam preocupados que um projeto como este pode criar maiores níveis de água em outros lugares ao longo da costa. O governo preocupado com o custo enorme do projeto.

 Em Janeiro de 1916, durante uma tempestade de inverno vários diques quebraram ao longo do Zuiderzee e o resultado foi inundações como no passado.

 Após este desastre o plano ousado de Lely ganhou apoio popular e em14 de junho de 1918 a Lei Zuiderzee foi aprovada e o projeto foi oficialmente iniciado e assim foi criado o AFSLUITDIJK o maior dique da Holanda com 32 km de estradas sobre ele.

Seus objetivos eram para proteger a região contra enchentes do Mar do Norte, aumentar a oferta de alimentos do país, criando polders que poderiam ser transformados em terras agrícolas e usar o que restou da Zuiderzee para melhorar a gestão da água.



    Oosterscheldekering