Tuesday 31 August 2010

Pipilotti Rist


"Arts task is to contribute to evolution, to encourage the mind, to guarantee a detached view of social changes, to conjure up positive energies, to create sensuousness, to reconcile reason and instinct, to research possibilities and to destroy clichés and prejudices."Pipilotti Rist

                        fotos por Monica Cella

O universo onírico de Pipilotti Rist,

Ela usa o próprio corpo como representação de sua arte, veste-se preferencialmente com cores vibrantes e constantemente aparece em suas vídeos instalações. Canta e representa seus próprios personagens.
Pipilotti Rist trabalha na fronteira entre a fantasia e a realidade, a psique e a razão. Freqüentemente fala de sonhos para se referir ao seu trabalho.

Ambiguidade.

Através de imagens oníricas, coloridas, sempre acompanhadas de trilhas sonoras ao fundo, constrói um mundo exótico, luxuriante, cheio de referências ao feminino, ao elemento água, ao movimento de rotação.
Suas vídeo instalações tomam as paredes inteiras dos espaços expositivos, formando imensas telas em ângulo.
Ao entrar no espaço como espectadores nos tornamos parte da própria cena, imersos nas imagens gigantes que se sucedem. Almofadas estão dispostas por todo o espaço.
O corpo se curva independente da nossa vontade magnetizado pelas cenas e pela música. Promessas de um prazer iminente...
Somos tragados pra dentro daquele universo e imediatamente se estabelece uma conexão, um vínculo que nos ata àquele momento. As imagens deslizam pelas paredes suavemente em movimentos lentos e ficamos ali presos a viajar junto com elas.

Desejo, sedução, sensualidade, paixão, perigos e prazeres... submergir ou emergir ?! Encontrar ou perder(se) !?
Fantasia e realidade...

A obra Sip My Ocean (1996) abaixo, projeta as imagens de um fundo marinho em ângulo, onde elas se fundem em espelho umas nas outras, em rotação constante causando certa vertigem alucinógena. Por vezes um objeto cotidiano se interpõe diante do nosso olhar e nos traz à tona novamente, para segundos depois nos carregar novamente com as ondas de imagens que vão e vem.
Os movimentos são lentos, mas em contraposição as cores são vivas. Corpos mergulhando num azul de mar, águas cristalinas se misturam à formas abstratas não identificadas, uma xícara que mergulha profundamente no azul do mar, um carrinho de brinquedo, um olho gigante e Wicked Game, de Chris Isaak interpretada pela voz hipnótica de Pipilotti Rist, que por vezes sussurra e por outras grita histericamente a letra da música:

The world was on fire and no one could save me but you.
It's strange what desire will make foolish people do.
I never dreamed that I'd meet somebody like you.
And I never dreamed that I'd lose somebody like you
No, I don't want to fall in love (This world is only gonna break your heart)
No, I don't want to fall in love (This world is only gonna break your heart)
With you (This world is only gonna break your heart)

What a wicked game to play, to make me feel this way.
What a wicked thing to do, to let me dream of you.
What a wicked thing to say, you never felt this way.
What a wicked thing to do, to make me dream of you and


I want to fall in love (This world is only gonna break your heart)
No, I want to fall in love (This world is only gonna break your heart)
With you

...Nobody loves no one.

Sip My Ocean , 1996.(video You tube - 4:51min)



*Pipilotti Rist é uma artista multimídia nascida em 1947, na Suíça.
Estudou arte comercial, ilustração e fotografia no Institute of Applied Arts in Vienna, Austria ; Comunicação audio visual na School of Design in Basel, Suíça; trabalhou com computação gráfica; fez parte da banda Les Reines Prochaines, entre 1988 e 1994 com shows e performances.
Sua obra acontece através de videoarte e instalações.
Segundo a artista o meio permite explorar uma infinidade de técnicas: pintura, tecnologia, linguagem, musica, movimento, poesia, e outros.
        
          
          Outros trabalhos da artista:


*Partido amistoso - sentimientos electrónicos
 Exposição Pipilotti Rist Na Fundación Joan Miró, Barcelona
 08/07 - 01/11/2010



*multimídia , termo usado para artistas que usam ao mesmo tempo diferentes meios de apresentação de seu trabalho: vídeo, música, luzes, palavras, imagens,etc.
*Fotos por Monica Cella, exposição Partido amistoso, sentimentos eletrónicos - Fundación Joan Miró, Barcelona-Espanha.

Monday 30 August 2010

Carmen - Ballet Flamenco




Uma real imersão na máxima expressão da cultura espanhola...

 Se eu pudesse escolher uma coisa somente pra dizer o que mais me impactou em emoção até hoje, eu diria sem dúvida que foi um espetáculo que assisti essa semana em Madri: CARMEN, de Bizet um ballet flamenco,
Caminhando pelas ruas da cidade caiu em minhas mãos um flyer do espetáculo. Logo Carmen, um ballet intenso e caliente por excelência. Que sorte!!!!
Sem hesitar, me transportei em pensamento até o teatro e fiquei imaginando a beleza do que seria. Programa marcado, só esperar pela hora certa. Ansiedade...ahhh que maravilha de ansiedade! 
No verão escaldante madrilenho (até esse “detalhe” fazia sentido) depois de museus e arte pra todos os lados, antecedendo o que estaria por vir como uma preparatória. Lá vamos nós ao encontro do Ballet Flamenco de Madrid no Teatro Nuevo Apolo, na Plaza Tirso de Molina em Madri.
 O teatro pequeno com cores vibrantes em vermelho e dourado. As luzes apagam silêncio total. Os primeiros acordes do ritmo quente e pulsante da música anunciam um grande e intenso espetáculo. Coração aquece...
 A seqüência de acontecimentos quando traduzida em palavras perde completamente seu significado, conteúdo, emoções ou qualquer outra tentativa de descrevê-la.
A arte do flamenco é antes de tudo emoção, alma totalmente presente. Movimentos, ritmos, cores, musica, cenário, roupas, vozes, luzes, sombras...o conjunto de tudo isso misturado compõe um corpo de energia e vibração tão intensos que nos raptam de corpo e alma pra dentro da cena. O olhar permanece fixo sem perder nenhum detalhe. O coração batendo no mesmo compasso, alma imersa num turbilhão de emoções e sentimentos.

Arte em estado puro.

O flamenco é uma arte exigente em que não basta somente o apuro da técnica. É para almas quentes, de grandes sentimentos e emoções fortes. É uma dança muito expressiva feita com o corpo todo em que cada parte movimenta-se de forma coordenada: braços, pernas, mãos, dedos, ombros, ancas, cintura, cabeça, e muito coração. O sapateado, as castanholas e as palmas com seu ritmo forte e contagiante resgatam lá do fundo da nossa alma vivências arquetípicas de algo meio primitivo. Algo que vem à tona nos tomando por inteiro e elevando nosso ser á altura daquele bailado.
A música é um espetáculo dentro do espetáculo. Os instrumentos são simples: violão, o “cájon” (uma caixa de madeira usada como percussão) e a voz do cantor que por si só fala direto ao coração.
 Pouco se sabe ao certo sobre as origens do flamenco, porque sua transmissão aconteceu por via oral. Nasce logicamente num processo contínuo de influências ricas e variadas, que através do tempo vão lhe dando forma.
 Na Espanha propriamente o berço do Flamenco é a Andaluzia. Através da influência de outros povos como romanos, árabes, judeus, fenícios, cartagineses e ciganos a cultura andaluz vai se formando os quais deixaram sua marca no legado da arte. Alguns autores marcam a influência maior dos ciganos, porém outros nem tanto.
Fica aqui uma sugestão: se algum dia você tiver a oportunidade de assistir a um espetáculo de ballet flamenco, não hesite: VÁ!!!!

O Ballet Flamenco de Madri nasce em 2001 como companhia independente e se trasnforma em associação sem fins lucrativos em 2009.Seu trabalho consiste na recueração e atualização da escola de dança espanhola, da dança bolero e do flamenco.

Carmen, de Bizet
Teatro Nuevo Apolo,
Plaza Tirso de Molina, MADR- Espanha
Direção: Luciano Ruiz
Coreografia e colaboração especial: Sara Lezana

Carmen, de Georges Bizet é uma ópera que estreou em 1875, no Ópera-Comique de Paris. Causando espanto, escândalo e incomodo entre os espectadores, acostumados com obras mais nobres de sentimentos e personagens elevados.
Carmen é uma cigana de alma mundana, sem escrúpulos ou remorsos. Enfeitiça e seduz os homens à sua volta. Na disputa por seu amor um dos seus pretendentes (seu amante) acaba apunhalando-a. A obra fala de amor, paixão, vingança, ciúmes, cólera. Sentimentos atormentados de todos nós.

*You Tube

Saturday 28 August 2010

BARCELONA É UMA FESTA

BARCELONA, Agosto 2010









Barcelona é uma festa!!!
Para os olhos e o coração...

À beira do Mediterrâneo, azul límpido do céu, calor do sol, avenidas largas, arte pra todos os lados, colorido nas ruas, pessoas alegres e despreocupadas.
Barcelona é uma cidade unânime, daquelas poucas que agradam muita gente de gostos diferentes. A alma da cidade é sua principal força e dá pra sentir sua energia logo na chegada. Tem algo diferente no ar que convida, contagia, anima e faz festa no coração.
Aos poucos a cidade vai se revelando, mas não faz muito charme, vai logo se exibindo inteira, se mostrando e fazendo caso de sua beleza despojada e cheia de charme.
Gaudí é presença constante onde quer que se vá, a sua arte aparece majestosa e esplêndida se fazendo notar, cheia de originalidade. A cidade é de Gaudí!
Mas aqui também viveram outras almas grandes: Joan Miró o pintor do mundo dos sonhos coloridos, Picasso o poderoso homem do cubismo e suas meninas cortadas e recortadas ao infinito, Antoni Tapiès e sua arte expressionista.
Na verdade a cidade sempre guarda em algum canto um vestígio de seu passado desde os romanos até os modernistas.
Barcelona é a capital da comunidade autônoma da Catalunha, uma região situada a nordeste da península Ibérica, reconhecida em seu estatuto como nacionalidade.
Essa particularidade se faz notar escancaradamente no dia a dia da cidade onde se podem encontrar duas línguas (o catalão e o castelhano) nas placas indicativas, transportes públicos, cardápios, flyers, etc, etc. O não pertencimento a Espanha, não é somente uma rivalidade, mas uma condição do estatuto nacional, um orgulho desse povo que tem raízes históricas muito fortes.
Para o turista isso não chega a afetar a qualidade de sua estadia, que ao sabor do vento que vem do mar navega errante pelas ruas, avenidas e vielas da bela cidade.
Passear pelo Bairro Gótico e perder-se nas suas ruelas cheias de charme e de repente se encontrar diante do Museu Picasso. Só o prédio já valeria a visita, não fosse Picasso quem fosse. Mas a coleção das obras do mestre não deixa a desejar: mais de 3800 obras, e muitas delas do tempo inicial da carreira do artista, não por isso menores em qualidade e grandeza. Logo mais você pode se deparar com a Igreja Santa Maria Del mar (século XIV) exemplo primoroso da arquitetura gótica catalã. À noite a beleza se destaca pela iluminação aliada á simplicidade presente na verticalidade de suas longas e imponentes colunas.
Mas como igrejas não faltam por aqui, continue a frente e verá a Catedral de Barcelona. Uma igreja no estilo gótico construída nos séculos XIII ao XV e cheia de detalhes que fazem a diferença: o Jardim do Claustro com suas fontes, carpas e até gansos. Vale uma olhada nas gárgulas do lado de fora, cada uma com um significado diferente.   
Visitar a famosa e eterna Sagrada família, que dispensa muitas palavras, a monumental igreja feito castelo de areia, que Gaudí iniciou e continua em construção até o ano 2010 aproximadamente.  
Passeig de Gracia é uma larga avenida de beleza despreocupada e casual onde estão situadas duas jóias de Gaudí: a Casa Batló onde o artista reformou uma antiga e singela moradia transformando-a numa alegoria da batalha de São Jorge contra o dragão. Logo mais à frente tem a Casa Milá (La Pedrera) onde Gaudí exerceu todo seu fascínio pela natureza em ondas, curvas e fantasia.
A imperdível Fundación Joan Miró no Parque de Montjuic, uma pequena montanha e suas muitas atrações de onde se pode ter uma bonita vista da cidade. Na Fundación você poderá usufruir de um conjunto de obras de Miró: pinturas, desenhos, esculturas além das exposições temporárias. Ao lado da Fundação tem o Jardim das esculturas que dá acesso a uma escadaria e ao final desta um lindo roseiral. Explorar essa região é muito gratificante porque esconde muitas surpresas.
Lãs Ramblas uma famosa e efervescente rua situada entre a Praça Catalúnia e o porto. Repleta de cafés, bares, artistas de rua, lojas de flores, frutas, e uma tradicional fonte chamada Canaletes, de onde se diz que para se tornar verdadeiramente local deve-se beber de suas águas.
Parque da Ciutadella, Jardins onde foi a Exposição Universal de 1868. Aqui se encontram o Museu Geológico e Museu de Zoologia, o Parlamento da Catalúnia, a Escultura da "Dama del Paraguas", símbolo da cidade, e o Zoode Barcelona, imperdível para as crianças. Um zoo bem planejado com espaços adequados para os bichos e um dolfinário que apresenta um show de golfinhos.
Tibidabo, um monte a 350m de altura, onde se pode chegar de teleférico ou de bondinho (tranvia azul).
O porto olímpico construído para as Olimpíadas de 1992, moderno e repleto de restaurantes e bares. Bem pertinho está Barceloneta, uma praia artificial criada também para o evento das Olimpíadas
Se você é adepto dos tradicionais ônibus sightseeing que rodam por toda a cidade pelos principais pontos, não hesite. Vale super a pena passear no andar superior, num lindo dia de sol.

Francisco de Goya, Diego Velázquez, Pedro Almodóvar, Luis Bunuel,  Carlos Saura, Juan Gris, Salvador Dali, , Miró, EL Greco...





MADRI, Agosto 2010




Thursday 19 August 2010

Um pouco sobre crianças,


*vou postar  esse texto (reeditado) que já publiquei em maio 2008 porque...
  crianças são eternamente importantes...


No lúdico mundo das crianças, não existem regras ou leis e a imaginação permite todo tipo de brincadeiras, onde tudo é possível. Um novelo de lã vira copo, uma lata vazia um sapo, um pedaço de papel um brinquedo, uma pessoa vira bicho. As barreiras são inexistentes e todos os seres participam da grande brincadeira, conectados pela mágica e pelo sonho.
Brincar traz à tona um rico material inconsciente, alguns elementos vitais para o desenvolvimento saudável que precisam ser elaborados e trabalhados na brincadeira e através dela. A criança resgata esses conteúdos e os traz para mundo real em forma de fantasia para fazer parte do acontecimento naquele momento,  recriando-os nas suas brincadeiras a fim de entender o complicado mundo que as cerca. Treinando a aprendendo, elas se preparam para a vida.
A criança precisa brincar de diversas formas, com diferentes elementos. Brincar sozinha e com amigos. De correr, pular e saltar, esconde - esconde, pega-pega. Cada brincadeira tem sua dinâmica própria e traz questões e conteúdos diferentes a serem vivenciados.
Através do corpo elas se expressam apropriadamente, aprendendo e organizando o espaço físico que as cerca e também se organizando dentro do contexto físico de sua existência. Quando uma criança brinca acontece um mundo de transformações dentro delas, que pelo olhar desatento dos adultos parece apenas um fato corriqueiro  (e também o é!).
Diferentes materiais precisam estar ao seu alcance para que possa experimentá-los e usá-los de diferentes maneiras. Papéis, panos, texturas, pedras, folhas, terra, argila, massinha...
Sua imaginação deve ser estimulada e devemos proporcionar a elas todas às condições pra que possam usufruir as mais variadas situações, que permitam a elas expandir seu potencial emocional e psíquico.
Apresentar o universo das palavras às crianças é uma das coisas mais gratificantes que um adulto pode experimentar. Ler estórias para elas, ou simplesmente invetar ou contar passagens da própria infância, dá a elas a oportunidade de enriquecer grandemente seu mundo imaginativo. Possibilita um crescimento interior que poucas atividades realizam com igual intensidade.
Através do mundo das palavras as crianças tem acesso a uma infinita gama de experiências que tem o alcance de solucionar questões delicadas para elas como medos, dúvidas, apreensões, receios, inseguranças, e todos os tipos de angùstias e ansiedades que possam eventualmente ocupar seus pensamentos e emoções.


Os primeiros anos na vida de uma criança são importantíssimos, pois todas as experiências que proporcionamos a elas formam a base através da qual abrir-se-ão janelas de oportunidades e de aprendizado futuro.
A criatividade na imaginação de uma criança está o tempo todo em ação. Enquanto pequenas elas não tem um pré-julgamento das coisas e dos seres e permitem-se todos tipos de experimento, sem medos ou censura. A liberdade do ser em sua plenitude.
Temos uma infinita responsabilidade por elas, e as moldamos conforme nossas atitudes e comportamentos. É necessária uma permanente atualização de nossas questões íntimas para que possamos acompanhá-las dia a dia em sua jornada e crescimento. A importância de cuidarmos das nossas crianças, nos preocuparmos com o ambiente onde vivem, com quem ficam a maior parte do tempo, quem está ao lado delas quando não estamos nós pais.
Cabe a nós mantermos acesa a chama que brilha dentro de cada uma delas e orientá-las em seu caminho como seres de luz que são.

Monica Cella

Amsterdam 19 agosto 2010.

Monday 9 August 2010

Jheronimus Bosch

 A Nau dos Insensatos - c.1490–1500/58 cm x 33 cm( Musée du Louvre, Paris)

O pintor do fantástico

Suas obras não são tão populares, porém pode ser que você já tenha visto alguma delas sem ao certo saber de quem é a autoria.
Seu nome permanece desconhecido para a grande maioria, assim como a história de sua própria vida, reforçando o enigma inerente às suas obras que carregam certa obscuridade nas cenas, imagens, sentido e interpretações.
Jheronimus (ou Jeroen) van Aeken, pseudônimo Hieronymus Bosch.
Nasceu na cidade de 's-Hertogenbosch ou simplesmente Den Bosch, capital da província de Brabant, nos Países Baixos.
Segundo as poucas informações sobre sua vida, tudo leva a crer que nunca se afastou de lá, vivendo e produzindo na cidade onde nasceu.
Suas obras pertenceram a nobres famílias de seu tempo, e quando morreu era famoso e conhecido como um pintor de visões excêntricas.
Segundo seus críticos, sua obra é permeada pela religiosidade (ele inclusive foi membro de uma Congregação religiosa chamada Irmandade de Maria, ou algo parecido). Constantemente aparece nas suas pinturas o tema da Paixão, dos sete pecados capitais, mas também vários símbolos alquímicos. Especula-se que Bosch seria um estudioso do assunto.
Bosch viveu num período de transição da Idade Média para a moderna com o advento do Renascimento. A mentalidade medieval com seus valores sombrios vai cedendo lugar a outro tipo de questionamento. Seu trabalho, portanto reflete esse momento em seus aspectos sociais, políticos, econômicos.
Naquele tempo todos vivam sob o domínio da Igreja, sob forte pressão do pecado que rondava e vigiava a todos o tempo inteiro. O bem e o mal espreitavam a vida cotidiana ameaçando a mente e o coração dos seres humanos. O céu e o inferno eram representaçãos presentes na vida diária.Esse era o contexto da época.
Através de suas imagens somos levados a um universo surreal de acontecimentos bizarros, grotescos, assustadores. Mil perguntas povoam a nossa mente, intrigada na tentativa de entendê-las.
Com mais cuidado e atenção, um pouco de informação sobre sua obra e seu tempo as portas do entendimento se abrem e sua mensagem chega até nós, fazendo uma viagem no tempo.

Na verdade o conteúdo das obras de Bosch é denso e repleto de significados, muitas vezes impenetráveis. Até mesmo entre os críticos não há consenso na interpretação de sua obra.
O universo de Bosch é hostil, impregnado de misticismo, figuras fantásticas. Estar diante de suas obras pode nos causar sentimentos controversos, inicialmente nos provocando estranheza, angústia, desconforto e alguns dos sentimentos menos nobres da família do tenebroso.
Apesar do seu discurso alegórico e carregado por dogmas e preceitos religiosos, seu discurso é atemporal porque fala da questão do humano, das mazelas da nossa própria condição humana.
Bosch usa metáforas para interpretar a alma humana. E recorre aos signos da linguagem do inconsciente.
Na tela A Nau dos Insensatos*  por exemplo, o artista nos apresenta uma visão bastante pessimista e sarcástica do homem.
Várias pessoas (a humanidade) estão viajando juntas nos mares do tempo, num barco à mercê de sua própria sorte. Homens, mulheres, uma freira, um padre, nem mesmo os religiosos escapam de sua crítica mordaz. Todos em igual situação. Para Bosch são todos tolos aqueles que vivem na estupidez: comem, bebem, perseguem sonhos impossíveis, trapaceiam, jogam, flertam...a vida que gira em torno de fúteis acontecimentos e objetivos, sem nunca chegar a um destino final. Seus monstros e sinistros seres que vêm à tona nos causam arrepios e desconforto porque falam de sentimentos inerentes a nós humanos. Sentimos algo desconcertante que nos liga a eles. Bosch nos mostra o lado avesso da criatura humana, a feiúra escondida nas entranhas. A Nau dos insensatos não fala dos outros, mas de nós mesmos.
A maioria de suas obras perdeu-se pelo tempo, mas atualmente existe um registro delas (entre pinturas e desenhos) no Jheronimus Bosch Art Center, na cidade natal de Bosch em
’s-Hertogenbosch’, ou simplesmente Den Bosch. Uma tranquila e charmosa cidade a 80km ao sul de Amsterdam, capital da região de Brabant.
O Jheronimus Bosch Art Center,  não exibe os originais do artista que se encontram espalhados pelo mundo nos museus e coleções. Mas ao invés disso, reproduções em formato original, material para pesquisa, conferências, biblioteca, etc.

*Há críticos que vêem apenas uma alegoria a luxuria e a gula nessa obra que também poderia ter sido inspirada num poema "O barco azul" de Jacob van Oestvoren +- 1413, ou na sátira de Sebastiaan Brandt de 1494; para outros é apenas o retrato da loucura e de uma vida dissoluta, não tendo ligação nenhuma com obras anteriores.
• Bosch herdou o dom  da pintura na própria família: seu bisavô, avô, pai, e pelo menos quatro de seus tios eram pintores. Além de dois irmãos.
• Nenhum de seus trabalhos são datados, poucos são assinados. Atualmente cerca de 25 obras são confirmadas de sua autêntica autoria.
• Permaneceu à parte da escola flamenga, criando um estilo único, incomparável.
• Bosch morreu em sua cidade natal em 09/08/1516. Sua influência foi enorme sobre todos os pintores que tentaram penetrar nas fontes do irracional, particularmente os surrealistas
• Também conhecido como Jeroen Bosch (El Bosco na Espanha, onde teve um grande colecionador de suas obras: Filipe II de Espanha).

O Jardim das Delícias Terrenas (painel central)Hieronymus Bosch, 1504 -Óleo sobre madeira /220 × 195 cm
Museu do Prado, Madrid.

Fontes:
Uma homenagem a Hieronymus Bosch: dia 8 de agosto data da morte do pintor.




Monica Cella
A'dm 10 agosto 2010.

Monday 2 August 2010

"É longe da feira e da fama que se passa tudo o que é grande;
é longe da feira de da fama que moraram, desde sempre, os inventores de novos valores."

NIETZSCHE, Friedrich W. Assim falou Zaratustra, pg 79