Ast-MonicaCella

Ast-Monica Cella
É preciso não esquecer nada
É preciso não esquecer nada: nem a torneira aberta nem o fogo aceso,
nem o sorriso para os infelizes
nem a oração de cada instante.
É preciso não esquecer de ver a nova borboleta
nem o céu de sempre.
O que é preciso é esquecer o nosso rosto, o nosso nome, o som da nossa voz, o ritmo do nosso pulso.
O que é preciso esquecer é o dia carregado de atos, a idéia de recompensa e de glória.
O que é preciso é ser como se já não fôssemos, vigiados pelos próprios olhos severos conosco, pois o resto não nos pertence.
CECÍLIA MEIRELES (1962)
http://www.revista.agulha.nom.br/ceciliameireles04.html#preciso