Tuesday 24 March 2009

VAN GOGH






Vincent van Gogh (1853-1890),
The sower, 1888, Foundation E. G. Bührle Collection, Zurich.



Hoje fui pela segunda vez visitar "Van Gogh and the colours of the night". Escolhi um dia de semana qualquer na esperança de o museu estar mais tranquilo e consequentemente poder apreciar melhor as obras. Ledo engano! Em plena terça-feira, museu cheio de gente se acotovelando pra ver "Starry Night", "The starry night over the Rhône", "The sower" e tantas outras... 
Fazer o quê?! Vou ficando e me colocando de mansinho, buscando um cantinho aqui, outro ali, pra poder ver melhor e buscar um melhor ângulo. Simplesmente, estar ali. Olhar longamente e se deixar levar pra dentro daquelas imagens. Entrar em sintonia. E como é bom estar ali! 
As obras me prendem, tem algo de magnético, fico grudada, admirando e contemplando... Apenas contemplando! 
 Na caminhada de volta pra casa, fui divagando em meus pensamentos: O que faz de um Van Gogh, um Van Gogh? Por que Van Gogh é tão procurado? O que tem por trás daquelas pinturas que as torna tão especiais, tão aclamadas e desejosas de serem vistas. E nos meus pensamentos e questionamentos, segui diversos caminhos. Fui ao passado, voltei ao presente. Percorri inúmeros labirintos na imaginação, buscando a resposta, para as incontáveis perguntas e questões que vinham na minha mente. 
Ok, as pinturas de Van Gogh, tornaram-se populares e acredito que ele é um dos pintores mais conhecidos do grande público. Mas isso só não basta. Não é o suficiente para explicar o que se sente diante de uma obra como, por exemplo, The starry Night ou The Sower. Existe uma força incomum por trás das tintas, pinceladas, por trás da imagem física que se vê. 
Mais do que a beleza propriamente dita. E isso, já é muito! Tela, tinta, luz, contraste, cores e formas, a matéria da qual são feitas as obras. Pulsa, vibra, respira. Tudo fica além e aquém das vãs especulações, sejam de ordem técnica ou interpretativa. 
Starry Night, por exemplo, já foi submetida a inúmeras interpretações, mas isso não altera em nada seu conteúdo, sua alma. Só acrescenta. O que fica quando nos separamos das obras, e vamos embora, é uma sensação de plenitude, de coração cheio, de aconchego e calor. De saudade e vontade de estar de novo com aquelas imagens. 
 Misturando todas as informações na minha imaginação, cruzando-as com as imagens de outros tantos artistas do passado, que também considero os mestres da Grande Arte, concluo algumas questões, que não sei exatamente se procedem, mas para mim tem algum sentido. Eles viveram num "outro tempo”. Num tempo, em que o próprio tempo era vivido de modo diferente. Lentamente. Mergulhavam de cabeça nas coisas que faziam, desde as mais simples, como observar a natureza. O tempo "passava" devagar. Tinham o universo a sua disposição. Não tinham a urgência de agora, onde tudo é feito com pressa, tudo é fugaz e passageiro. A estética do "efêmero". Não corriam atrás de coisas como acontece hoje, onde não se tem nem tempo de olhar pro filho, que tá bem ao lado. Eles viviam intensamente, o dia a dia e as suas próprias emoções. Entregavam-se àquilo que faziam de modo inteiro e único. Intenso e profundo. 
 Pergunto-me: "Quais são os artistas contemporâneos, que causam as mesmas emoções que os antigos mestres?" Ok, eu posso ser um tanto quanto saudosista, retrógrada até, para alguns. Também gosto e sinto emoções com muitos artistas contemporâneos. Mas aquelas obras continuam a causar emoções depois de 100, 200, 500 anos ou muito mais tempo. E naquele tempo os artistas só dispunham de tela, tintas e pincéis. Hoje temos um sem-fim de recursos técnicos, nosso mundo é cheio de "vantagens" tecnológicas. 
Já vimos muita coisa "entre o céu e a terra". As Bienais proliferam de artistas multi-mídias e um monte de obras que já vi por aí afora, nem se quer lembro de que matéria eram feitas, qual sua cor, seu nome ou o artista que as criou. 
É inevitável a relação, pra não dizer a comparação. As obras que permanecem, continuam porque têm alma, um sopro de vida e de energia que as mantém em movimento, num eterno fluxo de ressignificações

Obrigada Van Gogh! Por continuar a fazer do mundo em que vivemos um lugar melhor de estar.

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