Photo by Peter Morgan em 28 Dezembro 2008. From Flickr
Dervishes Rodopiantes, uma dança para Deus
Muito tempo atrás ouvi falar pela primeira vez dos Dervixes. Alguma
coisa me tocou, mesmo sem saber ao certo quem eram os Dervixes e por que tal
tipo de sentimento. Anos depois redescubro-os através de uma amiga da Turquia.
Conversando sobre a cultura de seu país fiquei encantada ao escutá-la falar
sobre Mevlana Rumi, um místico espiritual de sua religião (o Islã). Mas qual
foi minha surpresa maior ao saber que os Dervixes pelo quais eu sempre tive
curiosidade e certa atração eram nada mais nada menos do que um legado de
Mevlana Rumi. Procurei então conhecer mais a fundo quem foi Rumi, suas idéias,
filosofia e também sobre os Dervixes, afinal hoje com o recurso da internet
tudo está em nossas mãos, imediatamente. Minha intuição a anos atrás acertou em
cheio e adorei conhecer um pouco mais sobre esse fascinante ser que um dia
existiu no planeta Terra. Mais legal ainda foi descobrir que eu poderia ver os
Dervixes ao vivo, assistir a um ritual dos Dervixes Rodopiantes em Istambul (sua
cidade base é Konya, onde Rumi viveu e morreu). E ali estava eu eufórica porque
um pouco mais tarde viajaria para a Turquia.
Veja você, que coincidência, algo pelo qual eu tinha muita admiração
(mas que se encontrava latente) reaparece por acaso na minha frente. As
sincronicidades da vida...
Mas quem são afinal os Dervixes?
Rumi nasceu na costa oriental do Império Persa na
cidade de Balkh (hoje o Afeganistão) e finalmente se estabeleceu na cidade de
Konya, hoje Turquia.
Rumi como é conhecido popularmente, era um
muçulmano não ortodoxo. Místico e poeta, um ser que alcançou um estado de
perfeição humana, de elevação espiritual. Tolerância ilimitada, bondade,
caridade e a consciência através do amor eram seus ensinamentos.
Filho de um rígido estudioso, Rumi seguiu pelo
caminho do pai e encontrou nos estudos uma fonte inesgotável de saber.
Demonstrou desde cedo ser um ser original com suas próprias idéias e
pensamentos. Após anos de estudo constatou-se desiludido com o modo como
percebia Deus segundo seus mestres e a tradição da religião.
Rumi ansiava por mais, por algo que superasse os
ensinamentos que rezava a tradição. Diz a
lenda que foi quando encontrou ao acaso um errante pelas ruas, um ser
místico chamado Shams de Tabriz. Imediatamente nasceu um forte relacionamento
entre os dois que se diziam almas gêmeas no plano espiritual. Shams era um ser
não ortodoxo por excelência, vivo e pulsante. O encontro com Shams provocou um
estado de elevação espiritual em Rumi transformando-o verdadeiramente em um
místico. Nesse momento ele troca a vida intelectual pela espiritualidade. A
sintonia entre os dois era tão forte que chegou a provocar discórdias entre
alguns de seus seguidores. A história acaba em tragédia, com o assassinato de
Shams. Desolado e em luto profundo, Rumi experimenta uma nova revelação
espiritual.
Rumi dizia que devemos quebrar nossos
condicionamentos sejam eles de qualquer ordem. Na verdade ele estava além,
muito além de seu tempo, de sua cultura e sociedade apesar de se posicionar no
contexto da conservadora cultura e religião Islâmica. A essência de sua poesia
é o encontro com o divino.
Seus
pensamentos atravessaram os séculos e ainda hoje se perpetuam através da Ordem Mevlevi, formada
pelos Dervixes Rodopiantes (Whirling
Dervixes).
Sua prática consiste num ritual místico (Sema) em que os Dervishes giram
sobre si mesmos e em círculos. A dança é acompanhada por músicos que tocam
instrumentos especiais e cantam musicas apropriadas. Cada parte do ritual tem
um significado simbólico: as roupas, os chapéus, o manto, a saia branca, as
cores, o movimento. Simbolicamente representa uma jornada mística da ascensão
espiritual do homem através da mente e do amor até Deus. Abandono do ego,
encontro da verdade e o crescimento através do amor.
Segundo os Dervixes o movimento de rotação provoca uma espécie de
êxtase. Sua crença baseia-se no movimento rotacional dos elementos essenciais
da natureza (átomos, prótons, etc.) todos os elementos da natureza giram
intermitentemente. O ritual envolve os três elementos da natureza humana: a
mente (conhecimento), o coração (sentimentos, música, poesia) e o corpo (através
dos giros do corpo, ativando a pulsão da vida).
A experiência de ver uma cerimônia dos Dervixes nos leva a um estado de
contemplação, calma e elevação. Retrata bem a alma da filosofia. Tudo começa no
mais absoluto silêncio quando os músicos entram na pequena sala numa quase
penumbra. Começam seus cânticos/preces que envolvem e acariciam a alma
preparando-a para o momento seguinte. A música é quase plangente, nos leva para
lugares além do imediatamente visível. Após certo tempo entram os Dervixes em
procissão, não são muitos. Eles fazem então suas reverências. Logo em seguida
seguindo o ritual simbólico eles se ajoelham. Depois levantam, retiram seu
manto negro (que significa o abandono do ego) e com os braços cruzados sobre o
peito - significa o numero um, a unidade com Deus - começam a girar. Da direita
para a esquerda. Assim como os planetas giram em torno de si mesmos e em torno
do sol. Seus giros são em torno de seu eixo (simbolicamente de seu coração).
Seus braços se abrem e se posicionam de modos diferentes conforme os giros
avançam. Num determinado momento posicionam a mão direita com a palma para
cima, que recebe o amor de Deus. Sua mão esquerda se vira para baixo em direção
à terra e transfere o amor recebido para o mundo. Durante o primeiro ciclo do
Sema os Dervixes olham para todos os mundos. Libertam-se das dúvidas e alcançam o Divino. No segundo ciclo toda a existência se dissolve na unidade Divina. No
terceiro ciclo se purificam e atingem um estado de maturidade. No quarto ciclo
atingem um estado da Não-existência dentro da Existência Divina. E assim com o
solitário som da flauta a cerimônia termina, com um dos participantes recitando
palavras do Corão.
Mas a viagem continua, em cada segundo da vida dos Dervixes seguidores
da Ordem Mevlana. Um caminho feito de tolerância e acima de tudo amor.
A cerimônia toda dura mais ou menos 45 minutos divididos em sete partes,
cada parte com um significado próprio.
*Atualmente Na Turquia - especialmente em Istambul - as cerimônias
Dervixes Rodopiantes são apresentadas ao público como parte de seu patrimônio
cultural. Por isso existe até mesmo restaurantes que oferecem a cerimônia como
atração aos turistas (questionável). Portanto procure por algo mais próximo do
original, se possível. Afinal os Dervixes Sufis se espalham por toda a região
Asiática, não só na Turquia. Muitos grupos são na verdade anônimos e fechados.
Apenas convidados podem assistir seus rituais. Mesmo assim acredito que vale a
pena entrar em contato e assistir em Istambul.
Assistimos num local
representativo da cultura local, bem próximo a Sirkeçi Estação de trem. O lugar
chama-se HADJAPASHA - Hocapasa Culture Center. A apresentação é feita em um local pequeno em condições apropriadas,
condizentes com o intuito da mesma. Recomendo. É aconselhável comprar os
ingressos com antecedência. Ou reservá-los nos postos de informação oficiais.
Existe um bem próximo a Haja Sophia em Sultanhamet. Tem cerimônias todos os
dias às 19:30h (exceto Terça e Quinta).
*Em 2005 a UNESCO proclamou a “Mevlevi Sema Cerimônia” da Turquia como uma das obras primas do Patrimonio Oral e Intangível da Humanindade.
* “Rumi é, também, um nome descritivo cujo significado é "o romano", pois ele viveu grande parte da sua vida na Anatólia, que era parte do Império Bizantino dois séculos antes”. Fonte Wikpedia
*HADJAPASHA - Hocapasa Culture Center - http://hodjapasha.com/
*SIRKEÇI TRAIN STATION
*Tente aqui Yenikapi Mevlevihanesi - umv@mevlana.net
*Na cidade de Konya onde existe o Museu Mevlevi. No mês de Dezembro tem um festival onde existem diversas apresentações da cerimônia.
*VIDEOS FROM YOUTUBE
*Lugares onde
assistir os Dervishes Rodopiantes
*HADJAPASHA - Hocapasa Culture Center - http://hodjapasha.com/
*SIRKEÇI TRAIN STATION
*Tente aqui Yenikapi Mevlevihanesi - umv@mevlana.net
*Na cidade de Konya onde existe o Museu Mevlevi. No mês de Dezembro tem um festival onde existem diversas apresentações da cerimônia.
*VIDEOS FROM YOUTUBE
*Fotos - na cerimônia
que assisti em Istambul não era permitido fotografar ou filmar, por isso as
fotos que posto aqui foram emprestadas do Google Images com os devidos
créditos.
A primeira foto retirei do
Flickr e pertence a Peter Morgan ; A segunda foi retirada do website www.columban.org.au não havia nenhuma referência ao autor da mesma.*the first picture its by Peter Morgan and its from Flickr; click on the link to access it; the seconde one I didn't find out who is the author, the website where it comes from there wasn't any reference about it, it comes from www.columban.org.au).
“There is a life in you, search that life,
Search the secret jewel in the mountain of your body,
Hey you, the passing away friend, look for with all your strength,
Whatever you are looking for, look in yourself not around.”
Rumi
Maşallah!
Parabéns à MONICA CELLA! Excelente o esclarecimento, e como eu pensava, a exibição dos dervixes é quase, se não poso dizer, uma celebração espiritual! Nada de fotos, ingressos, publico grande... apenas o silencio e o Grande Arquiteto do Universo! Mais uma vez, Monica, Parabéns .'.
ReplyDeleteObrigada, os Dervixes são exatamente isso!
ReplyDeletevolte sempre
Depois de rodopiar bastante a procura da história dos Dervishes, (sem saber o nome deles) encontrei seu blog. Lindo! abç.
ReplyDeleteO giro dos derviches é da direita para a esquerda.Nos 5 ritos tibetanos é da esquerda para a direita. Tais direções, em ambos os casos, têm uma explicação? Parece que os derviches acompanham os planetas em suas órbitas.Obrigado.
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