...algo
me intriga ultimamente e tenho pensado sobre o assunto. Percebo que crianças
muito pequenas já estão totalmente envolvidas com toda espécie de gadgets ou geringonças eletrônicas.
Mãozinhas hábeis em deslizar pelos sensíveis touch screens, aptas a fazer escolhas entre inúmeros ícones, cores
e formas atrativas. Celulares e tablets
viraram os brinquedinhos favoritos dos pequenos. Eles ficam fascinados com aquelas
janelinhas cheias de possibilidades, surpresas, ação, movimento, cores, sons e
desafios. Também não poderia ser diferente porque elas realmente são irresistíveis e cada vez mais surpreendentes.
Para os pequenos então, uma porta escancarada à curiosidade e diversão.
Mas
o que me intriga é como isso vem acontecendo, a forma como estamos lidando com
as novas tecnologias em relação aos nossos filhos. Digo novas porque é uma situação nova pra geração que agora tem
filhos pequenos. Nunca antes nos deparamos com esse tipo de questão.
Olhando
de perto temos duas situações que se apresentam complementares e até um pouco
paradoxais. Por que paradoxal? Porque ao mesmo tempo é bom e ruim.
Complementares? Porque se soubermos lidar com sabedoria pode ser aliadas no
desenvolvimento e aprendizado.
Por
um lado temos crianças que já nascem num ambiente totalmente afetado pelas
tecnologias de comunicação. Familiarizados no manuseio desses dispositivos, os
pequenos hoje usam a internet até pra fazer a tarefa de casa. Ferramentas de
auxílio à alfabetização são eficazes prestadores de ajuda às crianças e a todos
os envolvidos no processo. Agilizam o aprendizado de forma eficiente e
divertida ao mesmo tempo. Aprender nunca foi tão prazeroso diante de um web
site de alfabetização, de jogos de matemática, de imagens dos planetas e sua
localização no espaço tridimensional e tantas outras possibilidades de
interatividade pedagógica ofertadas pela rede.
Uma
realidade que deve ser levada em conta por pais, professores e educadores.
Mas
como decidir o momento certo de permitir a entrada dos gadgets na vida dos
pequenos? Me preocupa um pouco ver tantas crianças cada vez mais novas tão
envolvidas com esses aparatos modernos Ou outras em idade escolar quase coladas
em seus computadores: comendo, bebendo e vivendo sem nem ao menos tirar os
fones de ouvido. Hora da refeição? Cada um por si, de preferência diante da
telinha do PC.
Será
exagero da minha parte?
Por
outro lado, me pergunto de que maneira isso tem afetado o desenvolvimento das
crianças enquanto seres criadores e criativos.
A
interação com esse tipo de tecnologia exige uma atitude mais passiva por parte
da criança. Enquanto brinca no computador somente uma parte do seu ser esta
presente: seu cérebro, pura lógica e razão. Por mais que os jogos atuais ou o
layout dos aplicativos apresentem certo dinamismo no manuseio, as crianças
apenas usam alguns aspectos da inteligência ou da cognição. Outros aspectos
ficam negligenciados. Acredito que não podemos perder de vista o lado lúdico das brincadeiras. A fantasia,
tão importante na elaboração das vivências da criança.
Não
estou fazendo nenhum juízo de valor, nem apontando o dedo para quem quer que seja.
Nem mesmo sou contra a interatividade e uso da internet pelas crianças. Minha
filha de 7 anos a pouco tempo foi mordida pelo bichinho virtual (pra ser
sincera acho que consegui uma proeza em segura-lá tanto tempo longe do mundo virtual). Sei bem
como é lidar com esse desafio quase que diariamente porque os pequenos ficam
fascinados diante de uma telinha de computador.
O
que eu questiono é como fica a capacidade de brincar, interagir com as outras
crianças, seus pares. Sabemos que a brincadeira tem uma função real na vida das
crianças, brincar é muito mais do que apenas distração ou lazer. Através da
brincadeira e da fantasia a criança aprende a elaborar conteúdos super importantes
na construção do seu ser, arquitetando sua futura vida adulta. Através das
vivências nas brincadeiras, elas aprendem a lidar com seus sentimentos e
emoções.
Onde
fica a criatividade, aquela qualidade tão humana que nos torna tão especiais
enquanto seres? A capacidade de inventar, misturar elementos, fazer gambiarra!
Ah, fazer gambiarra! é o que tem de mais puro, criativo, inspirador dentro de
cada um de nós. E essa capacidade é tão presente na infância, matéria prima pra
tudo.
Não
podemos deixar nossas crianças perderem o dom da poesia, da arte, da emoção de
inventar e criar algo com as próprias mãos e com a própria capacidade criadora.
O encanto mágico das descobertas. Isso ajuda a construir a auto-estima, o amor
próprio, nos traz um sentimento de pertencimento ao mundo humano naquilo que
ele tem de melhor. Brincar à moda antiga traz tantos benefícios! Exatamente
como todas as crianças brincaram desde sempre: de casinha, de boneca, cuidar do
bebê, lutas e guerras para os meninos, esportes, pega pega, esconde esconde, amarelinha,
se lambuzar de tinta, de argila, pintar e desenhar, um ato tão essencial e tão
simples. Apenas papel, lápis e... tempo! muito tempo livre. Por sinal tempo
livre sem nada pra fazer também é tempo criativo, precioso agente enriquecedor
da vida da gente.
Tirar
essa oportunidade das brincadeiras é roubar das crianças uma parte muito importante
de sua formação e de seu aprendizado. Não oportunizar as brincadeiras é
empurrar os pequenos para um lugar que eles desconhecem e que ainda não estão
prontos para conquistar.
Usar as ferramentas certas do jeito
certo na hora adequada. Essa é a grande questão, o grande desafio dos nossos
tempos pra todos nós: pais, adultos e jovens. Como
prestar atenção com cuidado e carinho
pra usarmos a tecnologia a nosso favor.
D.W. Winnicott um estudioso da alma infantil, aponta precisamente nas palavras abaixo a importância do brincar. Médico pediatra e psicanalista ele estudou o universo na criança em todas as suas nuances e sua relação com o mundo. Referência em estudos quando o assunto é criança. O trecho abaixo foi extraído do livro A criança e seu mundo, um clássico do assunto, uma obra de vital importância para pais e educadores. Winnicott abrange vários aspectos da infãncia e traz uma grande contribuição para o entendendimento do universo infantil.
“A criança adquire experiência
brincando. A brincadeira é uma parcela importante de sua vida. As experiências,
tanto externas quanto internas podem ser férteis para o adulto, mas para a
criança essa riqueza encontra-se principalmente na brincadeira e na fantasia.
Tal como as personalidades dos adultos se desenvolvem através de suas
experiências de vida, assim as das crianças evoluem por intermédio das
brincadeiras e das invenções de brincadeiras feitas por outras crianças e
adultos. Ao enriquecerem-se, as crianças ampliam gradualmente a capacidade de
enxergar a riqueza do mundo externamente real. A brincadeira é a prova evidente
e constante da capacidade criadora, que quer dizer vivência.”
D.W.
Winnicott, A criança e o seu mundo.
Pg
161;cap.22 - Porque as crianças brincam.
A realidade é bem pior, no sentido de que os educadores não sabem controlar as máquinas e a maioria que estuda o comportamento infantil tem uma ideia errada do que os computadores podem ajudar ou não na educação. Desde os 3 anos meu filho usa computador e quando entrou na escola já sabia ler, aprendeu sozinho com jogos interativos. Desde essa época, mantém amigos virtais que atualmente, a maior parte deles são reais. Meu filho hoje é um criativo estudante de publicidade, trabalha no computador criando imagens e sons, é crítico e bastante sociável. Lógico que a vida dele não se resumiu aos computadores, ele interagia com as crianças na escola e com os amigos fora dela. Acho que a tecnologia veio para somar, só falta os educadores e mestres comportamentais se atualizarem. Aqui no Brasil, os computadores comprados pelo governo para serem usados em sala de aula, estão definhando em estoque. Não são usados e daqui a pouco virarão sucatas. Uma bela reflexão!! Beijus,
ReplyDeleteLuma querida, que ótimo ter uma resposta assim tão positiva às minhas dúvidas...alguém que realmente pode me dar um feedback concreto do que é educar uma criança na era digital(hj um jovem)e ver mais tarde os resultados legais dessa influencia,vindo de você fico mais feliz ainda!
ReplyDeleteacho que muitas pessoas nem param pra refletir/pensar sobre isso e muitos profissionais da area da educação tampouco, uma pena! acredito que podemos ter inumeras vantagens quando bem orientados no uso do computador/internet, as crianças levam muitas vantagens tbm...
obrigada pela mensagem
beijo pra você!
A tecnologia tanto pode ser boa quanto ruim, mas a criança bem direcionada, só vai usufruir!
DeleteVim trazer um link para você: Arte conectada.
Boa semana!!
Beijus,
Luma adorei o link! obrigada
ReplyDeletenuma exposição recente que fui no Van Gogh tbm tinha algo com QRcodes, mas só como um recurso da informação a mais sobre algumas obras; no Stedelijk que a reportagem fala sobre, foi um evento de curta duração porque o museu tá em reformas e fechado para o publico; mas eu vi alguma coisa na midia...é muito legal essa tecnologia s/ realidada aumentada, apesar de existir ja algum tempo, ainda não é popular...beijos e otimo domingo!