Friday, 1 March 2019

FERNANDO PESSOA






Há metafísica bastante em não pensar em nada.
Alberto Caeiro



Há metafísica bastante em não pensar em nada.
O que penso eu do Mundo?
Sei lá o que penso do Mundo!
Se eu adoecesse pensaria nisso.
Que ideia tenho eu das coisas?
Que opinião tenho sobre as causas e os efeitos?
Que tenho eu meditado sobre Deus e a alma
E sobre a criação do Mundo?
Não sei. Para mim pensar nisso é fechar os olhos
E não pensar. É correr as cortinas
Da minha janela (mas ela não tem cortinas).


O mistério das coisas? Sei lá o que é mistério!
O único mistério é haver quem pense no mistério.
Quem está ao sol e fecha os olhos,
Começa a não saber o que é o Sol
E a pensar muitas coisas cheias de calor.
Mas abre os olhos e vê o Sol,
E já não pode pensar em nada,
Porque a luz do Sol vale mais que os pensamentos
De todos os filósofos e de todos os poetas.
A luz do Sol não sabe o que faz
E por isso não erra e é comum e boa.


Metafísica? Que metafísica têm aquelas árvores
A de serem verdes e copadas e de terem ramos
E a de dar fruto na sua hora, o que não nos faz pensar,
A nós, que não sabemos dar por elas.
Mas que melhor metafísica que a delas,
Que é a de não saber para que vivem
Nem saber que o não sabem?


«Constituição íntima das coisas»...
«Sentido íntimo do Universo»...
Tudo isto é falso, tudo isto não quer dizer nada.
É incrível que se possa pensar em coisas dessas.
É como pensar em razões e fins
Quando o começo da manhã está raiando, e pelos lados das árvores
Um vago ouro lustroso vai perdendo a escuridão.


Pensar no sentido íntimo das coisas
É acrescentado, como pensar na saúde
Ou levar um copo à água das fontes.
O único sentido íntimo das coisas
É elas não terem sentido íntimo nenhum.


Não acredito em Deus porque nunca o vi.
Se ele quisesse que eu acreditasse nele,
Sem dúvida que viria falar comigo
E entraria pela minha porta dentro
Dizendo-me, Aqui estou!
(Isto é talvez ridículo aos ouvidos
De quem, por não saber o que é olhar para as coisas,
Não compreende quem fala delas
Com o modo de falar que reparar para elas ensina.)

Mas se Deus é as flores e as árvores
E os montes e sol e o luar,
Então acredito nele,
Então acredito nele a toda a hora,
E a minha vida é toda uma oração e uma missa,
E uma comunhão com os olhos e pelos ouvidos.

Mas se Deus é as árvores e as flores
E os montes e o luar e o sol,
Para que lhe chamo eu Deus?
Chamo-lhe flores e árvores e montes e sol e luar;
Porque, se ele se fez, para eu o ver,
Sol e luar e flores e árvores e montes,
Se ele me aparece como sendo árvores e montes
E luar e sol e flores,
É que ele quer que eu o conheça
Como árvores e montes e flores e luar e sol.


E por isso eu obedeço-lhe,
(Que mais sei eu de Deus que Deus de si próprio?),
Obedeço-lhe a viver, espontaneamente,
Como quem abre os olhos e vê,
E chamo-lhe luar e sol e flores e árvores e montes,
E amo-o sem pensar nele,
E penso-o vendo e ouvindo,
E ando com ele a toda a hora.


Tuesday, 12 February 2019











Transcrevo o texto de Angie Hartley, traduzido para o Português...
 *as palavras em negrito e itálico sao meus comentários a respeito do texto.



COMO ENTENDER ARTE EM 6 PASSOS FÁCEIS

"Os seres humanos têm feito e se beneficiado da arte por mais tempo do que a nossa história registra. Embora a arte contemporânea possa parecer exclusiva ou confusa, tudo o que os espectadores têm a fazer é encontrar o artista no meio do caminho. Aqui estão seis passos fáceis para ajudá-lo a apreciar a arte."
By Angie Hartley | Sept. 27, 2013


1. Pare de tentar “entender”.
 Arte não é tipo uma piada 'knock-knock joke'*. Todos - artistas e espectadores - terão uma experiência única. Como no resto da vida, haverá momentos em que você não pode se conectar com o artista ou até mesmo entender de onde eles estão vindo. Aceite isso e siga em frente. Não risque a arte de sua experiência, um gênero inteiro ou até mesmo um trabalho em particular só porque isso nao corresponde com você no momento. Conforme você passa pela vida, seus gostos vão mudar. Você teve reações adversas à tequila e o yoga, desistiu disso também?

2. Não tenha medo de gostar de alguma coisa.
A melhor maneira de ver a arte é faze-lo sozinho. Não se deixe influenciar por seus colegas ou até mesmo por seus professores. Lembre-se de que suas experiências únicas que o levaram ate o momento em que você encontra uma obra de arte, moldarão sua apreciação dela, assim como todas as experiências que se seguem. Goste do que você gosta! mesmo que você não tenha certeza do porquê ou não possa colocar a razão em palavras.

*Nao concordo com a autora quando ela diz que se deve apreciar arte sozinho. Muitas vezes visitar um museu, galeria, escutar uma opera ou ver um ballet com alguém que esta imerso no mundo da arte e que tem algum entendimento sobre o assunto pode ajudar a clarear o entendimento sobre a obra. Dar alguma direção para o espectador menos habituado com a linguagem da arte. A troca de percepção entre as pessoas que estao juntas apreciando arte também pode enriquecer nosso próprio vocabulário de compreensão. Como discutir um filme e suas possíveis interpretacoes.


3. Considere mais coisas como arte.
Qualquer coisa dentro do contexto da arte é arte. Pode fazer você girar os olhos ao pensar em um artista muito bem pago jogando tinta em uma tela como uma criança. Mas assim como John Cage nos ensinou a diferença entre ruído e som, ver a arte com a qual você discorda pode desafiar suas noções ou ajudá-lo a descobrir suas crenças.


4. Confie em seus instintos.
Criatividade é um dos muitos benefícios da inteligência humana. Nossa capacidade de fazer arte e pensar criticamente sobre isso nos separa de golfinhos e macacos. Eu não me importo com o que você se especializou ou como seus desenhos de figuras (ou bonecos) se parecem. Todo ser humano tem habilidade artística. Confie nisso.

5. Faça uma conexão.
Quando estiver confortável em se permitir sentir algo sobre arte, suba para o próximo nível. Tente ir além, considerando se a arte é legal ou ofensiva, e encontrar uma conexão pessoal com aquele trabalho. Mesmo que você esteja relacionando arte com algo tão simples quanto o que você comeu no café da manhã. É um passo na direção certa. *(um primeiro passo eu diria)

6. Faça sua própria arte.
Supondo que você tenha a inteligência humana acima mencionada, então você também tem habilidade artística. Qualquer coisa que você considera ser arte será. *(humm nem tanto assim). Ande para trás através de uma faixa de pedestres. Tire uma foto. Instagram. Experimente. Cozinhe uma refeição incrível (bônus pra voce se não olhar para a receita). Garanto que você se sentirá melhor com relação à arte após exercer o seu direito de criar. *(concordo!)

*'knock-knock joke' - e um tipo de piada, geralmente entre crianças - em que se usa um trocadilho como resposta, um truque que confunde o entendimento do interlocutor. Ou seja, o espectador da arte nao vai obter nenhuma 'resposta' da obra que esta diante de si através de nenhum truque ou estratagema. Arte nao e embuste - bem...ou pelo menos nao deve ser. O caminho pelo qual se da o entendimento nao acontece por essa via.




Friday, 18 November 2016

O BLOQUEIO CRIATIVO




"Sometimes when I'm empty, when words don't come, when I find that I haven't written a single sentence after scribbling whole pages, I collapse on my couch and lie there dazed, bogged in a swamp of despair , hating myself and blaming myself for this demented pride that makes me pant after a chimera. A quarter of an hour after, everything has changed, my heart has pounding with joy."



Gustave Flaubert

"Às vezes, quando estou vazio, quando as palavras não vêm, quando eu acho que não escrevi uma única frase depois de rabiscar páginas inteiras, desabo no meu sofá e deito-me atordoado, atolado num pântano de desespero, me odiando e me culpando por esse orgulho demente que me faz bocejar depois de uma quimera. Um quarto de hora depois, tudo mudou, meu coração bate de alegria."








As palavras acima do escritor Gustave Flaubert descrevem com precisão o estado de alma dos artistas quando atravessam um momento de vazio criativo. Condição inerente a criação de qualquer tipo de arte, o bloqueio criativo é a angustia maior de todos aqueles que criam. Seja pintura, literatura, musica, dança ou todo processo que envolve a criação de algo através da imaginação. O fantasma que habita a alma de cada artista.
Não importa qual o processo criativo eleito, mesmo os mais racionais que trabalham a sua arte com planos previamente organizados, sentem uma vez ou outra essa ausência de ideias ou uma angustiante sensação de não conseguir organizar e por em pratica o que se passa dentro da sua cabeça, no mundo da imaginação.


O grande mestre do cinema Federico Fellini usou o bloqueio criativo como alavanca e motor para criar uma de suas obras primas, Oito e Meio (1963). O filme já tinha financiamento, elenco contratado e pasmem, nada de roteiro. Fellini em meio ao caos e desespero de assumir a falta de ideias, teve uma saída grandiosa, uma fresta se abriu ao mundo mágico da sua imaginação. Usou a sua própria situação como matéria bruta para o desenvolvimento do roteiro, que fala do personagem Guido Anselmi um famoso cineasta que se encontra em plena crise criativa. O filme mistura o mundo onírico, fantástico e o mundo real de Guido revelando os percalços pelos quais a mente criativa percorre nos enviesados labirintos do território imaginativo e fantasioso dos artistas. A dor e agonia pela qual os artistas e criadores passam vez ou outra. Mestre é mestre e Fellini até mesmo na aridez mental conseguiu criar uma obra e tanto.









Wim Wenders, o cineasta alemão também falou sobre esse processo de criação no filme Asas do desejo (Wings of Desire, 1987). 
O artista que vivia nos EUA a oito anos decide voltar a sua Berlim natal e fazer um filme sobre a cidade. Wenders nao tinha nenhuma intenção inicial de fazer um filme sobre anjos, impermanência e transitoriedade e eternidade. Ele conta que andava pelas ruas de Berlim a procura de ideias na esperança de que talvez a própria cidade lhe sugerisse algo com que pudesse desenvolver um dialogo e começar sua historia. Com um poema de Rainier Marie Rilke na cabeça (sobre anjos), a percepção de varias imagens de anjos espalhadas pela paisagem urbana de Berlim, o céu da cidade sempre como elemento constante de suas buscas, ele vai aos poucos juntando as peças de seu quebra cabeça.  
O tempo e os personagens se misturam e nao há uma ordem linear e ordenada de sequencia. O filme revela sutilmente esse desordenado e complexo processo pelo qual o artista encontra um modo de expressar suas ideias.
                                              
  

O processo criativo em si mesmo é um caminho tortuoso -  doloroso muitas vezes, porque lida com emocoes em seu estado bruto e esta além do controle intelectual. O artista tem o controle sobre as técnicas utilizadas, a tecnologia e os instrumentos que ele domina. Mas o processo em si é como uma viagem ao desconhecido. Ao longo da jornada imprevistos acontecem e o resultado final sempre 'e muito maior que a soma de todas as partes - "ate certo ponto" imprevisível. O artista trabalha com uma forca desconhecida e fragmentada para ele. As informações objetivas de que ele dispõe sao perpassadas pela soma de todas as suas vivencias, experiências, pensamentos e sentimentos entrelaçados entre si. Na verdade são como inúmeros pontos dispersos num campo aberto mas de alguma maneira conectados entre si. Encontrar essa conexão, dar liga aos elementos diversos que os compõe é a natureza intrínseca da criação de toda obra de arte. O mundo imaginativo dos artistas é um campo abstrato, amplo e complexo, indefinido por natureza. Acessar esse campo,  arranjar e articular seus conteúdos é a tarefa do artista.  De modo que façam algum sentido, simbólico, intelectual, espiritual ou seja lá o que for.

Bloqueios temporários fazem parte da nossa condição humana e imperfeita. Nos apontam que somos assim mesmo, seres complexos em constante evolução sujeitos a tormentas e inquietações o que nao significa necessariamente algo negativo.  Às vezes (ou muitas vezes) é através dessas inquietações e desse desassossego que nossa alma encontra as respostas que buscamos. Outras vezes esse momento difícil nos ajuda a sairmos da zona de conforto e de caminhos já antes percorridos. Velhas formulas já testadas, conceitos decorados, ideias desgastadas pelo uso repetido.   
Os momentos de desconforto, angustia e aflição servem como alavancas que nos impulsionam para novas possibilidades, basta nos permitirmos entrar no fluxo e abrirmos a mente e o coração.


The Angels (Rainier Marie Rilke)



They all have tired mouths

and bright seamless souls.

And a longing (as for sin)

sometimes haunts their dream.

 They are almost all alike;

in God’s gardens they keep still,

like many, many intervals

in his might and melody.
  
Only when they spread their wings

are they wakers of a wind:

as if God with his broad sculptor-

hands leafed through the pages

in the dark book of the beginning.






P.S. Meu amigo artista Rodrigo Tessaro me escreve seu ponto de vista sobre o que falei acima. Reposto aqui a troca de mensagem entre nós dois como uma maneira de enriquecer o texto e dar mais vida as palavras...


Moniquete! Muito bom compartilhar ideias!
Preciso discordar de uma coisa: bloqueio criativo. Na verdade, estou me baseando em mim mesmo. Acredito que passamos por momentos não muito criativos por não estarmos criando com pincéis, tintas etc., mas o tempo todo estamos substituindo esses meios através de fotografias de uma simples ou deslumbrante paisagem, admirando um céu azul cobalto ou um pôr do sol com toda a variedade de cores indescritíveis, enfim, a contemplação. Pra quem observa, não é preciso muito mais... O que tem acontecido comigo é que estou meio cansado de repetir a mesma coisa, as mesmas figuras apenas em situações diferentes. Resolvi, então, estudar algumas técnicas. Ah! E comprar materiais de excelente qualidade e grande diversidade: aquarela, guache, óleo, acrílica, grafites e outras minas como sépias e pretos. Nossa! Como isso resolve muita coisa. Cores transparentes, opacas, frias, quentes, marrons, cinzas que só se consegue através desse tipo de material. O suporte, o pincel (!!!) quando são de uma matéria prima de primeira causam um efeito tão surpreendente que... sem palavras. O problema da técnica pura e simplesmente é a falta de possibilidade de criar. Parece-me que estou simplesmente copiando, mesmo que o resultado seja agradável. Mas, conhecer, testar, experimentar, estudar, pôr em prática vai abrindo um canal que antes era impensável. Certa vez, na Belas, alguém durante uma aula de pintura disse que não conseguia pintar nada, que não fluía e você retrucou: quando não tenho nada para pintar, já tenho um ponto de partida! Achei incrível e nunca esqueci. Entendo que quem vive da arte para pagar aluguel, comer, vestir, estudar etc. passa por esse percalço. Não deixa de ser um bloqueio, é verdade! Talvez por isso, gosto da minha situação de não depender da pintura pra viver, mas seria uma vida sem graça (acho) viver sem pintar, apreciar, contemplar. Aprendemos muito através do simples olhar... do olhar simples que a grande maioria não tem ou não presta atenção.
Beijos. Saudade!
 

Digo querido, adorei ver seu comentário...

Concordo totalmente quando você diz que estamos criando o tempo todo, comigo acontece muito isso. Seja através da contemplação de algo, ou mesmo através do nosso olhar cotidiano que reordena as coisas ao nosso redor, recriando-as de um outro modo de acordo com nossa percepção. Ou simplesmente através da elaboração das nossas próprias ideias e opiniões. Mesmo que tudo isso se passe no plano abstrato, no reino da imaginação...estamos sempre criando!
Mas esse momento do qual falo em que o artista se depara com algum desconforto criativo é precisamente quando tenta “concretizar” suas ideias, traze-las para o mundo material. Me refiro a situações em que o artista mergulha mais fundo no processo de encontrar suas próprias imagens, perscrutar esse espaço misterioso dentro dele mesmo que contem todo o seu universo peculiar com suas próprias referencias. Muitas vezes o artista prefere ficar num espaço mais confortável e fazer suas buscas no domínio do conhecido, permanecer num campo de investigação mais previsível. Desse modo ele mantém um certo controle sobre o desenrolar do seu processo. Nesse caso acredito que sim, talvez esse artista não se encontre com a face enigmática e a ameaçadora do “bloqueio criativo”. E “pense” que com ele isso não acontece...Mas isso é uma escolha, que as vezes se passa no plano do inconsciente sem que ele mesmo perceba isso assim tão claramente.
Quanto ao uso de materiais de qualidade ou experimentar materiais diferentes, acredito que sim, eles abrem muitas possibilidades de criação. Mas dai, estamos falando de técnica e não de processo. O que é totalmente diferente.
muitos beijos e arte sempre, mesmo que tudo fique no plano da imaginação criadora...


Sunday, 12 June 2016

Keri Smith








E tem o trabalho fantástico dessa artista Keri Smith que pensa, cria e da dicas de como pensar fora da caixa. 
Keri Smith é uma ilustradora/artista conceitual e escritora de diversos livros bestsellers tais como: Wreck This Journal (Penguin), This is Not a Book (Penguin), How to be an Explorer of the World -the Portable Life/Art Museum,(Penguin), Mess: A Manual of Accidents and Mistakes (Penguin), The Guerrilla Art Kit (Princeton Architectural Press), Finish This Book (Penguin), and The Pocket Scavenger (Penguin) - os títulos estão em inglês porque na verdade não sei se foram publicados em português.
Os livros fazem mímica da própria historia de vida da artista. Desde pequena uma "rebelde" na contramão do sistema. Nunca se adaptou a  escola e somente tarde na adolescência frequentou uma escola de artes onde só então descobriu um novo mundo que refletia seu "estranho" universo interior. A arte e a leitura foram recursos que se utilizou para descobrir seu talento. Desconstruir as coisas para depois ressignifica-las.
Em 2007 durante uma noite de insônia, Keri rabiscou a lista abaixo. Mais tarde a ideia inicial se transformou em livros e outras ideias.
Keri escreve em seu livro que suas ideias são de "segunda mão", reinventadas, emprestadas ou reorganizadas de varias fontes, de diversos autores e pensadores que ela leu durante sua vida e os quais tiveram influencia na sua formação "autodidata".

Seu trabalho busca engajar a paticipacao do leitor/espectador através de micro - projetos. Atividades lúdicas e poéticas ou dicas que ela sugere ao leitor a fim de redescobrir e recriar o mundo a nossa volta. Ela propõe um novo envolvimento com os objetos cotidianos ao seu redor. Coletando coisas, objetos encontrados, pensamentos, idéias, histórias, coisas da naturezabuscando padrões, etc. No seu dia a dia, a caminho do trabalho por exemplo ou em viagens e nas mais diversas situações da vida cotidiana. Ela acredita que a arte pode estar nas mãos das pessoas comuns, do indivíduo e não tão e somente dentro do circuito fechado das instituições, como galerias e museus por exemplo. As pessoas não precisam de um espaco formal para criar e mostrar coisas, você faz o seu próprio museu. Você 'e quem decide o que vai fazer parte da sua coleção, daquilo que 'e interessante para você. A ideia vai além do senso comum, e você não precisa necessariamente expor suas coisas ao publico. Ela te da dicas de como coletar, organizar e expor suas ideias em seu museu privado. Na verdade a ideia toda não 'e somente voltada para artistas ou pessoas ligadas a atividades criativas. Mas sim para todas as pessoas. São passos que potencializam nosso potencial criativo independentemente de sua atividade, de você ter ou não alguma habilidade com a arte. Exercitando a criatividade que todos temos, estamos criando um espaco dentro de nos que faz conexão com outras habilidades. A resolução de problemas de uma nova maneira, desenvolver novas ideias e encontrar a ligação entre ideias, mudar perspectivas e paradigmas existentes. Um impulso para estimular nossa imaginação criadora, tão útil e tão esquecida quando nos tornamos adultos.


Pessoas assim são úteis para a saúde do planeta e da humanidade em geral. Através de modos diferentes de ver o mundo podemos chegar algum dia a um mundo mais leve, honesto, justo e prazeroso.









Tradução da lista acima:

Como ser um explorador do mundo
1.Esteja sempre olhando (perceba o chão abaixo de seus pés);
2.Considere tudo que 'e vivo e animado;
3. TUDO 'e interessante. Olhe mais de perto.
4.Mude seu caminho com frequência;
5.Observe por longos períodos (e curtos também);
6.Perceba as historias acontecendo ao seu redor;
7.Perceba padrões, faca conexões;
8.Documente suas descobertas (anotações de campo) de todas as maneiras;
9.Incorpore incertezas;
10.Observe movimentos;
11.Crie um dialogo pessoal com seu meio, fale com ele;
12.Rastreie as coisas de volta as suas origens;
13.Use todos os sentidos em suas investigações.










Wednesday, 2 March 2016

George Hendrik Breitner, Meninas de Quimono.





     The Red Kimono, 1896, George Hendrik Breitner. Stedelijk Museum Amsterdam



A alma feminina de Breitner
  
RIJKSMUSEUM, Amsterdam.
20 Fevereiro a 22 de Maio 2016.



A mulher e seus encantos. Beleza e mistério. Forca e delicadeza. Sensualidade e inocência.  Forcas contrárias e aparentemente antagônicas convivem em perfeita ordem no mundo interior das mulheres. Incógnita a ser desvendada por poetas, artistas e amantes. Seu fascínio sempre exerceu um forte apelo sobre os criadores e fazedores de arte. Monalisa e seu sorriso enigmático que o diga. A Vênus de Botticelli que encarna com graça e poder a figura feminina. A sensualidade explicita de Olympia de Manet, as musas coloridas de Matisse. E o que dizer das Madonnas de Leonardo da Vinci e Rafael...? São tantas  as mulheres icônicas e emblemáticas ao longo da história da arte que não faço justiça em tentar nomear apenas algumas.
George Hendrik Breitner é minha mais recente “descoberta” nesse vasto mundo das mulheres representadas na arte. Não propriamente uma descoberta porque já tinha visto Breitner antes e até mesmo uma(s) das suas Meninas de Quimono. Mas vê-las numa exposição pela primeira vez todas juntas, é uma overdose de beleza e fascínio, para os olhos e o coração. Sem falar na parte esteta que aprecia com delícia até mesmo os detalhes técnicos das obras e da história por trás das obras que nos conta a exposição.
Uma série de 20 pinturas, 13 Garotas de Quimono e um nu, que o Rijksmuseum de Amsterdam esta apresentando ao público.
Ao longo da exposição o espectador vai conhecendo um pouco mais sobre o artista, seu processo de criação e suas escolhas.  



Girl in a White Kimono, 1894, George Hendrik Breitner. Rijksmuseum, Amsterdam



     The Earring, 1893, George Hendrik Breitner (1857-1923). Museum Boijmans Van Beuningen, Rotterdam.




  Girl in a White Kimono, 1894, George Hendrik Breitner. Rijksmuseum, Amsterdam.



 A exposição é organizada através de  fotografias, desenhos e esboços do artista. Assim o espectador segue um caminho que o orienta no sentido de como o artista produziu as obras. Os quimonos como objeto de desejo vem de sua estada em paris em 1884 quando a moda era o Japonismo.
A partir dos esboços, registros nos seus cadernos e de fotos,  sabe-se que a maioria das Meninas de Quimono pintadas por Breitner é Geesje Kwak. Uma jovem holandesa da cidade de Zandaam, próximo a Amsterdam, que se mudou para a capital junto com a família no ano de 1880. Ela tinha entre 16 e 18 anos na época em que posou para o artista. Seu rosto delicado e corpo esguio e longilíneo contribuem para a peculiaridade das obras.
Poucos artistas conseguem captar com tanta precisão e riqueza o mágico universo feminino. Breitner vai além e atravessa as fronteiras do apenas visível. Perpassa a alma de suas mulheres-modelos trazendo á tona suas emocoes mais secretas e invisíveis aos olhares desatentos. Suas Meninas de Quimono são delicadas, suaves e até mesmo inocentes. Mas por outro lado exibem uma sensualidade voluptuosa e quente, implícita nos pequenos (grandes) detalhes. Nos gestos, na cabeça que pende lasciva sobre o sofá, no olhar lânguido que se revela, na imagem através de um espelho, nos gestos delicados de um momento íntimo da modelo que coloca um brinco diante do espelho. Elas conseguem nos transmitir uma gama de emoções que talvez só as almas femininas tem acesso. Tão simples, tão descomplicado e tão eloquente.






Geesje Kwak in Japanse kimono,1893-1895. G.H. Breitner, 16.8 x 12 cm. Universiteitsbibliotheek Leiden