Tuesday 28 September 2010

Mario Quintana



                                             Foto do Blog da Biblioteca Unisinos


Mario Quintana, o poeta das coisas simples

Ele nasceu no rigor do inverno sulino, no dia 30 de julho de 1906 na cidade de Alegrete no Rio Grande do Sul. Não foi um poeta local, pois sua obra fala a todos nós e assim pode-se dizer universal. Dizia não sentir-se pronto devido ao fato de ter nascido prematuro, e só livrou-se de vez desse meio complexo quando soube que muitos homens "completos" como Winston Churchill e Isaac Newton também nasceram prematuros.

Mario Quintana, o poeta das coisas simples

Viveu a maior parte de sua vida morando em hotéis e em Porto Alegre morou por muitos anos no Hotel Majestic, atual Casa da Cultura Mario Quintana. Mais tarde quando teve que sair do hotel, por problemas financeiros, um amigo emprestou-lhe um quarto também num hotel. Perguntado sobre a nova morada, respondeu:

"Eu moro em mim mesmo. Não faz mal que o quarto seja pequeno. É bom, assim tenho menos lugares para perder as minhas coisas".

Em outra ocasião dizem que um sujeito importante disse a ele: "Gostei muito de seus versinhos" ao que Quintana respondeu: "Obrigada pela sua opiniãozinha".
Introspectivo e de poucas palavras o poeta era mestre em recriá-las, e através da síntese inventar um mundo mágico, "uma luta amorosa com as palavras" segundo ele.

“Dizem que sou tímido. Nada disso! Sou é caladão, introspectivo. Não sei por que sujeitam os introvertidos a tratamentos. Só por não poderem ser chatos como os outros?
Exatamente por execrar a chatice, a longuidão, é que eu adoro a síntese.”

Os objetos cotidianos para ele são cheios de alma, tem vida própria. Tudo que é simples, cotidiano e anônimo através da imaginação afetuosa de Quintana é transformado em poesia. Seres mágicos e cheios de importância, seres que sonham e não apenas existem: as árvores, grilos, as mulheres gordas, as crianças, os anciãos, o homem comum e anônimo.
Quintana sopra vida nos seres, entrelaçando-os com doçura, afeto, humor e ás vezes muita irreverência. Seu olhar perscruta as coisas descobrindo nelas a beleza oculta que os olhos comuns não conseguem ver. Sua perplexidade diante da vida exalta a natureza, as estrelas, o sol. Ele fez poesia como quem conta histórias às crianças: com ternura.
Sua poesia tem a força do lirismo e a liberdade de criar poemas em prosa. Elas não existem para pensar a vida de forma angustiada ou sofrida, nascem da necessidade do poeta de fazer arte. De buscar a forma perfeita e não “a fôrma” como ele mesmo disse.
Se engana quem pensa na poesia de Quintana como algo fácil.
Por trás das palavras diretas e simples esconde-se uma certa complexidade de pensamento. Reflexões maduras a respeito da vida, da passagem do tempo, da morte, finitude, essência e aparência.

"Porque poesia é insatisfação, um anseio de auto-superação"
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“Sábias agudezas... refinamentos...
- não!
Nada disso encontrarás aqui.
Um poema não é para te distraíres
como com essas imagens mutantes de caleidoscópios.
Um poema não é quando te deténs para apreciar um detalhe
Um poema não é também quando paras no fim,
porque um verdadeiro poema continua sempre...
Um poema que não te ajude a viver e não saiba preparar-te para a morte
não tem sentido: é um pobre chocalho de palavras”
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“o meu humor, também nos meus poemas, é uma coisa para disfarçar o sentimentalismo. A gente tem pudor de ser sentimental, de ser muito romântico, então recorre ao humor”
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"As pessoas sem imaginação podem ter tido as mais imprevistas aventuras, podem ter visitado as terras mais estranhas... Nada lhes ficou. Nada lhes sobrou. Uma vida não basta apenas ser vivida: também precisa ser sonhada"

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Alguns poemas de Quintana correm pela internet alterados em sua versão original ou atribuídos erroneamente a ele. Nesses sites você pode encontrar a obra de Quintana na sua forma original.

*Emilio Pacheco blog
*O verdadeiro Mario Quintana, Comunidade no orkut





Monica Cella
Amsterdam 28 de Setembro 2010.

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