William Wordsworth.
O
que a arte e as crianças têm em comum?
A
exposição Klee and Cobra a Child`s play
que está acontecendo no Cobra Museum em Amstelveen aponta respostas nesse caminho.
A exposição foi pensada na relação do Grupo Cobra com o artista Paul Klee, o que
ambos tinham em comum com o universo imaginativo da criança. A curadoria
escolheu cinco temas sobre os quais ambos trabalharam: a imaginação da criança,
as máscaras, os acrobatas, animais fantásticos e agressividade. Dentro de cada
tema proposto são exibidos trabalhos de Klee e de alguns membros do Grupo
Cobra: Karel Appel, Constant, Corneille, Pierre Alechinsky, Asger Jorn e
outros. No total mais de 130 obras de Klee e 120 do Grupo Cobra.
Paul Klee
Pra
entender melhor a arte de Klee se faz necessário conhecer um pouco sobre sua própria
vida e personalidade.
Klee
nasceu na Suíça (1879-1941) numa família de músicos da qual herdou o gosto pela
musica, tornando-se um exímio violonista. O pai era professor de música e a mãe
cantora. Atuou na Orquestra Municipal de Berna e outros grupos. A musica,
aliás, permaneceu com ele durante toda sua vida exercendo grande influência
sobre sua arte. Formulou a Teoria da Forma na qual relaciona formalmente através
de analogias a Musica e as Artes Visuais. Foi um importante teórico, um
intelectual da arte, ligando suas buscas à filosofia e a metafísica. Klee foi um dos mestres da famosa escola Bauhaus onde lecionou de 1920 a
1931. Instituiu as bases do que viria a ser mais tarde o Construtivismo.
Escolheu
as artes visuais como seu caminho no mundo, sua maneira muito singular de se
comunicar com o universo. De Klee pode-se dizer um pintor sem classificações de
estilo, escolas ou ismos. Construiu
sua arte de forma única, singular, sempre se mantendo fiel a si mesmo, buscando
suas imagens na essência do seu ser. Assimilou algumas tendências de seu
tempo transformando-as. Razão e emoção,
intuição e intelecto, dentro desse contexto de polaridades Klee retirou a
energia para construir sua linguagem e suas imagens. A despeito de sua obra
estar imersa nas suas teorias, visualmente se manteve pura, primitiva, aquém
das investigações intelectuais. Sua arte tem a energia vital da natureza, exprimem
questões cósmicas, metafísicas, dualidades: caos e ordem.
"Art does not
reproduce the visible; rather, it makes visible."
Pequenos formatos, linhas tênues e delicadezas. Cores cadenciadas, musicais. Símbolos pictográficos como letras, notas musicais e setas povoam suas pinturas e desenhos. Suas obras exigem um olhar atento e introspectivo, feito de silêncios e pausas, sussurros, ritmos e cadências, tal qual a musica. Para apreciar Klee è necessário ter de novo os olhos puros de uma criança. Um olhar ainda não contaminado pelo conhecimento ou corrompido pela cultura, livre de regras, normas e saberes inúteis. Tal qual suas buscas e interesses no universo infantil. O olhar puro consegue ver através das linhas, formas, superfícies e cores. Um mundo além das aparências, a essência das coisas segundo o próprio Klee. Sua arte fala baixinho, tem que chegar perto. Se aproximar para ouvir os sons que vem de suas imagens. Um canto lírico, uma sonata, a musica de câmera, uma composição musical. Tem a força vital dos grandes acontecimentos, o poder do universal.
O
interesse pela produção infantil aconteceu os 22 anos quando Klee redescobriu
seus próprios desenhos de infância. Encantado com a descoberta passa a
investigar o processo criativo da criança, seus desenhos e pinturas. Os
desenhos infantis tinham para ele um apelo original, primitivo no sentido da
pureza, preservado da afetação do conhecimento, das regras e da cultura. A força
instintiva da energia da vida, a simplicidade.
O que ele almejava para seu próprio trabalho e de fato ajudou a definir
sua linguagem.
Mais
tarde em 1907 nasce seu filho Felix o qual também contribuiu para o
aprofundamento nas questões da infância relacionadas à arte. Klee registrou minuciosamente
o desenvolvimento do filho em uma espécie de diário e mais tarde também seus
desenhos.
Outro
fator impactante na sua carreira que refletiu grandemente sobre sua obra foi
uma viagem à Tunísia. Até 1914 Klee não se sentia um verdadeiro pintor, tinha
dificuldades com a cor. Suas obras tendiam para o monocromático. A partir de
uma viagem á Tunísia o artista se sente completamente envolvido com a luz do
local. Mais tarde Klee afirmaria sobre a viagem (se referindo a luminosidade,
as cores na natureza, a luz )
“Color has taken possession of
me; no longer do I have to chase after it, I know that it has hold of me
forever. That is the significance of this blessed moment.
Color and I are one. I
am a painter.”
O Grupo COBRA
A
idéia principal do Cobra como todo movimento de vanguarda, era quebrar com
padrões estabelecidos e criar uma nova maneira de expressar sua arte. Liberdade
de técnicas, de gestos e idéias. Acreditavam na arte como intuição, liberdade
de criação sem planejamento prévio, um espaço onde uma nova arte se manifestar
livremente, apontar saídas ao conformismo. O ato de pintar, o processo criativo
deveria ser o mais espontâneo possivel, diretamente sobre o suporte. Cores
primárias, formas precárias. Grossas camadas de tinta, grandes formatos,
movimentos vigorosos e gestuais. Temas fantásticos, animais grotescos, seres
deformados, garatujas infantis, traços inacabados e desajeitados. Buscaram no
universo infantil a fonte de inspiração para suas obras e seu fazer. A
vitalidade e energia pura dos desenhos e pinturas das crianças. O olhar e a mão
da criança ainda não contaminada pelo conhecimento ou corrompida pela cultura,
livre de regras, normas e saberes inúteis. Também beberam na fonte da Arte
Primitiva, Folk Art, Mitologia Nórdica, graffiti, na arte de Miró e Klee.
Incorporaram a poesia e a literatura à sua arte, imprimindo um forte caráter
político na sua proposta. Muitos deles eram de fato envolvidos e engajados
politicamente, comunistas e marxistas. Tornaram-se um objetivo a alcançar. O
Grupo Cobra durou pouco (se desfez em 1951), mas foi intenso tal qual sua
proposta. Durante sua existência deixou marcas profundas e indeléveis na arte.
A
exposição Klee and Cobra A Child’s Play
revela as similaridades entre Cobra e Klee, mas também as diferenças de
proposta quanto ambos tratam do mesmo tema. Em Klee, a abordagem do universo da
criança é mais lúdico, muito próximo da poesia e da fantasia. Talvez um
contraponto á sua intelectualidade tão incisiva. Mas também uma maneira de
romper com a arte tradicional e seus cânones engessados. Enquanto que os
artistas do Cobra encontraram no fazer da criança a potência vital da criação,
a energia impulsiva e intuitiva do fazer. Estavam interessados na crueza do
gesto impulsivo como uma maneira eficaz de expressar seus anseios e
questionamentos.
A
exposição traz desenhos e pinturas de Klee e telas em grandes formatos do
artistas do Cobra, assim como algumas esculturas e marionetes de Klee. Dois vídeos
de aproximadamente 1hora também fazem parte da mostra.
28.01 - 22.04 2012
Onde: COBRA
MUSEU, in Amstelveen
- Holanda
COBRA MUSEUM- em Amstelveen +- 9km de Amsterdam
A
partir do centro pegue o TRAM 5 direção Binenhof; ultima parada. O museum fica
na parte oposta da parada do tram, uma área comercial chamado Stadshart
Amstelveen - Sandbergplein 1, Zip 1181 ZX.
Onibus
apartir de Amsterdam: 170,171,172 parada Busstation Amstelveen
A
partir do Schiphol: bus 300, parada Busstation Amstelveen
A
partir da Station Zuid,WTC: bus 199, mesma parada acima.
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