Saturday 7 May 2011

Nada de novo sob o sol, uma visão sobre a arte


Stedelijk Museum, foto Wikpedia 


O STEDELIJK MUSEUM em Amsterdam está novamente (e temporariamente) aberto.
O museu tem uma das maiores coleções de arte moderna e contemporânea: mais de 90.000 obras entre pinturas, esculturas, fotografia, obras em papel, filmes, vídeos, objetos de arte e design.

(título da exposição atual)

A proposta é mostrar que as obras não só refletem a história e os acontecimentos nas artes, mas podem apontar e construir novas histórias a partir da avaliação de seu impacto anos depois, através das novas aquisições, diferentes exposições, pesquisas, etc.
A exposição conta com pinturas, desenhos, esculturas, peças de design, artes aplicadas, desenho gráfico, vídeo instalações, vídeos e instalações. A atual mostra exibe obras renomadas, outras nem tanto e algumas recém adquiridas de novos artistas. Algumas salas dedicadas individualmente a artistas como Carl Andre, Willem de Kooning, Bruce Nauman, Charley Toorop, Kasimir Malevich, Henri Matisse and Piet Mondrian.


*Henri Matisse, The Parakeet and the Mermaid,1952–1953;337cmx768.5cm
(Accompanied by two works of Yves Klein)Collection: Stedelijk Museum Amsterdam
 Photo by GJ. van Rooij

Na proposta da curadoria as obras foram agrupadas em “assuntos”:
*Recollections: Bewogen Beweging (1961) and Dylaby (1962) exibem algumas das inovadoras exposições que fizeram parte da história do museu, quebrando modelos e padrões. Segundo críticos, ainda continuam estimulando discussões e pesquisas.
*TV as…mostra obras do Stedelijk que abordam a televisão/vídeo como tema.

*foto from Stedelijk Facebook
 Artist:Fiona Tan, Facing Forward,1999,video,
 collection Stedelijk Museum Amsterdam
 Photo by GJ. van Rooij

A exposição em si é interessante, porque a proposta também é. Através das obras e do conjunto de ações/atividades que o museu oferece, dá pra olhar pra trás (no tempo) pros lados e pra frente. Um olhar crítico abrangente sobre esse apanhado de obras. O impacto que causaram na época, as inovações e caminhos que apontaram: sem alguns daqueles artistas e suas obras a arte não teria sido a mesma. Eles fizeram a diferença.
 Caminhando pelo museu, percorro as salas e cada vez mais vou me sentindo um pouco angustiada um pouco impaciente, alguma coisa me incomoda. Algumas salas passo batido e observo que muitos fazem o mesmo. Logo eu, tão paciente e marcha lenta quando tô dentro de um museu. Ao invés de sentir a plenitude característica quando se vê grandes obras, sinto o contrário (com exceção de algumas obras). Será que a proposta daqueles trabalhos me fazem sentir assim!? Não creio. Alguns inclusive já conhecia, outros ao invés de provocar, causam no máximo apatia. Nada de novo sob o sol.

...sempre gostei do exercício das descobertas, daquilo que nunca vi antes, do frescor das coisas novas e promissoras. Acho isso saudável e produtivo na medida em permite o movimento, o fluxo permanente provocando a mudança de padrões.
Não sou contra a arte contemporânea, deixo bem claro. Aliás, teve um tempo em que eu realmente curtia a coisa. Gostava de encontrar pelo caminho engenhocas mirabolantes, propostas instigantes que me faziam ir além do meu próprio entendimento. Forçando a razão-emoção-pensamento-imaginação pra fronteiras insuspeitadas antes. Buscando respostas (ás vezes nunca encontradas) tentando e testando as saídas do labirinto.
Mas gostava principalmente de ver e sentir a maneira livre e criativa dos artistas expressarem suas idéias (e ainda gosto). Como é rico o universo de cada pessoa, quantas maneiras diferentes de ver as coisas. Espaços abertos, tão diferentes da arte moderna que é tão auto referencial.
Sobretudo um território onde diversas mídias podem atuar juntas e ao mesmo tempo: numa mesma exposição de um artista você poderá encontrar vídeo, áudio, pintura, objetos, site specific*, etc. Isso é muito legal porque dá ao artista recursos pra organizar suas pesquisas e buscas, materializar suas descobertas de uma forma enriquecedora e pro espectador participar e usufruir melhor da proposta. Com a chegada da internet, escancararam-se as possibilidades de novos meios de atuação, o caldo engrossou com tanta informação disponível incrementando novas idéias. Uma nova ferramenta de criação.
Jovens artistas cheios de vontade e hábil imaginação um novo mix de diferentes áreas: música, cinema, literatura, arte pop, arte clássica, cultura de massas, poéticas originais, poesia. Tudo misturado, um caldeirão borbulhante.
Na minha visão era uma arte que apontava para o plural pra frente.

Mas... E o que acontece depois? O que vem no próximo capítulo?
E aí...?!?!?

Repetição, repetição, repetição. Arrisco dizer que é por aí... por esse lado é que vem o meu incômodo. Atravessa rasgando goela abaixo mais do mesmo. Não me convence.
Constato um pouco triste que a partir daquela época (depois da arte moderna) quase nada de novo foi criado. Uso o verbo criar no sentido literal da palavra:
Criar – dar existência a; gerar; dar origem a; formar; produzir; inventar; imaginar; fundar; instituir; originar; nascer;
Quase nada que aponte novos caminhos, uma nova maneira de sentir, pensar, estar no mundo. Algo que instaure uma nova maneira de fazer e perceber arte.
É isso que me incomoda! Sempre a mesma e velha fórmula se repetindo, muitos artistas querendo por força parecer... Modernos?! Ou Pós modernos?! Mas modernos foram aqueles, a época já passou, foi. Ah, o Ego! Parece que o artista foi contaminado definitivamente pela industria do entretenimento, arte- espetáculo, arte-show.
E todos nós continuamos no mesmo caminho, na mesma direção, apontando pra lugar nenhum.
Alguns colegas com certeza discordam ou até mesmo ficam chateados com uma postura tão franca e...dura.
Mas infelizmente é o que eu sinto, o que vejo e constato por aí. Claro que tem obras bonitas, bem feitas, tecnicamente falando. Algumas enchem os olhos, embelezam, emprestam charme ao local onde estão. Enchem de orgulho e até com algum dinheiro seus criadores. Outras têm boa proposta e até se sustentam enquanto idéias ou um pensamento estético mais complexo. Mas e cadê a poesia? Cadê o espírito maior que encontramos nos grandes mestres? Aquele sopro que liga com o divino, conversa com o Todo? É isso que falta!
O que dizer de um Rembrandt!? De um Van Gogh!? De um Michelangelo?! Vermeer?! Da Vinci?! Giotto? Goya!? Cézanne!?
Só pra citar alguns, são tantos! O que esses caras fizeram na arte, o que realmente criaram?! Nunca mais ninguém fez o mesmo, pronto! Ponto. Estar diante de um deles, é entrar por uma porta secreta. E sempre... Sempre dá vontade de voltar e ver de novo.
Cada vez que você vê, percebe novos detalhes, uma nova leitura. É algo mágico, mais longe, beeeemmm mais longe do que essa arte que falo anteriormente.
Entende o que eu quero dizer!?

Onde tá a diferença???? Se alguém souber, me fale.

É difícil, eu sei. Porque muitos artistas tem o coração aberto, uma proposta sincera, honesta. Mas sempre fica o vazio...não dá vontade de ver de novo, de estar junto daquela obra. Nada que cause um impacto, alguma mudança de significado.
Uma vez eu li, acho que foi Fayga Ostrower (uma artista naturalizada brasileira -nascida na Polônia, já falecida): “uma obra é grande quando a gente sente saudades dela, quer estar junto novamente.”
Continuo cética e indiferente diante de tantos trabalhos que eu vejo.
Não! Definitivamente eu não sou contra a arte contemporânea. Mas uma coisa é evidente: algo mudou!
Nos últimos tempos, tenho tido a feliz oportunidade de ver mais e melhor a arte dos grandes mestres: arte renascentista, arte medieval, arte clássica, arte moderna.
O olhar apreende e aprende, sem dúvida. Quanto mais arte de boa qualidade a gente vê, mais aprende. O olhar vai ficando treinado, se acostuma a discernir. Inevitavelmente o olhar-entendimento compara, absorve, analisa e sintetiza aquilo que vê. Fica tudo misturado lá dentro e começa a fazer parte daquilo que chamamos de intuição.
Não que isso por si só proporcione um completo entendimento do assunto, longe disso. Ainda vale a máxima: quanto mais a gente aprende menos a gente sabe.
Mas acredito que esse fato pode sim influenciar meu gosto por arte e determinar minhas preferências.


*foto from Stedelijk Facebook,acima:
 Donald Judd, Untitled, 1989, aluminum, stove enamel,
 150.5x750. x165cm,
 Collection Stedelijk Museum Amsterdam.
 Photo by GJ. van Rooij


*foto from Stedelik Facebook:
 artist:Paul Chan, 6th Light, 2007, digital video projection, 015:10 min.,
 Collection Stedelijk Museum Amsterdam
 Photo by GJ. van Rooij


 
STEDELIJK MUSEUM
Terça a domingo: 10-17 horas
Quinta-feira: 10-22 horas
Segunda-feira: fechado

1 comment:

  1. Parabéns pelo post, moca. Também compartilho de tal angústia... outro dia adquiri um livro do Argan (Clássico Anticlássico)e logo no prefácio ele nos diz algo acerca da arte, que vale para qualquer tempo em que o sujeito esteja inserido: "a obra de arte é um fato histórico que continua agindo no presente, e por isso requer não apenas uma decifração do que ela foi e significou, mas também uma avaliação do que ela é e significa atualmente - ou seja, uma avaliação crítica". Esse lance de repetição não vejo como saturação, mas como tentativa do artista de dizer algo através da estética vigente do tempo atual. Só o tempo e a crítica (putz!) dirá quem se salvou do furacão. Como diria Janson, no Barroco holandês existia mais ateliês do que açougues e quantos pintores barrocos sobreviveram aos fortes holofotes da época. Penso, assim, que é apenas uma questão de tempo para esta arte que aí está.
    Beijocas imensas!!!!
    Saudades grandes!!!! rs

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